Fome está a fazer os venezuelanos perder peso de forma preocupante
A dificuldade de acesso a bens alimentares essenciais está a reflectir-se na diminuição do número de refeições diárias para duas ou menos.
Os venezuelanos perderam, em média, 11 quilos de peso corporal durante o último e ano e quase 90% da população vive agora em situação de pobreza, segundo aponta uma investigação sobre o impacto da devastadora crise económica e da consequente escassez de alimentos no país.
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Os venezuelanos perderam, em média, 11 quilos de peso corporal durante o último e ano e quase 90% da população vive agora em situação de pobreza, segundo aponta uma investigação sobre o impacto da devastadora crise económica e da consequente escassez de alimentos no país.
O relatório anual, publicado nesta quarta-feira por três universidades, é uma das avaliações que mais de perto aferiu o bem-estar dos venezuelanos. O documento surge numa altura em que o Governo mantém fortes restrições à circulação da informação, e revela um aumento constante da fome e pobreza nos últimos anos.
Mais de 60% dos venezuelanos entrevistados disseram que, nos últimos três meses, acordaram com fome porque não tinham dinheiro suficiente para comprar comida. Cerca de um quarto da população come apenas duas ou menos refeições por dia, conta ainda o estudo. No ano passado, as três universidades descobriram que os venezuelanos disseram ter perdido uma média de oito quilos em 2016. Desta vez, o estudo conduzido por uma dezena de investigadores olhou para 6168 venezuelanos, com idades compreendidas entre os 20 e os 65 anos, de um universo de 30 milhões de pessoas.
O estudo divulgado esta quarta-feira aponta ainda a deterioração da qualidade da dieta venezuelana, cada vez mais pobre em vitaminas e proteínas. O controlo das trocas comerciais do país restringe as importações de alimentos; a hiperinflação continua a consumir os salários e prolongam-se as filas para conseguir bens tão básicos como um pacote de farinha.
"Os rendimentos estão a ser reduzidos a pó", disse Maria Ponce, uma das autoras do estudo, durante uma entrevista na Universidade Católica Andres Bello, nos arredores de Caracas. "A disparidade entre o aumento dos preços e os baixos salários da população é tão generalizada que praticamente não existe um único venezuelano que não seja pobre", disse.
O estudo calculou a taxa de pobreza a partir de 13 indicadores diferentes, como renda e o acesso a serviços. Se a média desses indicadores fosse superior a 25%, os pesquisadores definiriam alguém como pobre.
Os preços na Venezuela aumentaram 4068 por cento nos últimos 12 meses até o final de Janeiro, de acordo com estimativas da Assembleia Nacional liderada pela oposição do país. As conclusões estão em linha com os números de economistas independentes.
O estudo mostrou que 87% das pessoas na Venezuela, uma das nações mais ricas da América Latina na década de 1970, viviam em situação de pobreza em 2017 — um aumento em relação a 2016 (82%) e um salto muito significativo face a 2014 (48%).
Desde o primeiro semestre de 2015 que o Governo venezuelano não divulga dados sobre a pobreza, data em que o instituto nacional de estatísticas reportou uma taxa de pobreza de 33%.
Após conquistar a Presidência em 1999, Hugo Chávez alcançou uma melhoria dos indicadores sociais do país através de políticas sociais financiadas pelas receitas petrolíferas. Mas o mandato de seu sucessor, o Presidente Nicolas Maduro, desde 2013, coincidiu com uma profunda recessão, devido a políticas económicas fracassadas e à queda dos preços mundiais do petróleo.
O Governo não comenta este estudo, sendo no entanto uma prática comum a de identificar os autores de pesquisas do género com a agenda a oposição, e de se acusar os académicos de manipular dados. Caracas atribui as actuais dificuldades económicas a acções levadas a cabo pela oposição política, as grandes empresas e os Estados Unidos.