A NBA pode ajudar a acabar com as guerras do futebol em Portugal
Imaginem: durante uma semana por ano os clubes da liga portuguesa de futebol suspendiam a competição e, em conjunto, dedicavam-se apenas ao futebol-espectáculo. Os jogadores abandonavam, por momentos, as suas camisolas para vestir o equipamento do “fair play”, com novas cores
O futebol português é estranho. Supostamente tem as mesmas regras que todos os outros futebóis, mas gera produtos atípicos. Fora de campo alimentam-se ódios e guerras absurdas, como se os adversários fossem equivalentes a inimigos que é preciso destruir a todo o custo. A coisa pode ter a sua piada quando se está a ver um jogo ou numa conversa de café entre amigos, em tons metafóricos e de brincadeira. Mas quando a coisa vai além desses contornos, o caso muda de figura. O meta-futebol, aquilo que está para além do jogo, parece uma corrida de touros enraivecidos. Basta passar uma cor ou emblema pela frente que se entra de imediato em estado de fúria cega.
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O futebol português é estranho. Supostamente tem as mesmas regras que todos os outros futebóis, mas gera produtos atípicos. Fora de campo alimentam-se ódios e guerras absurdas, como se os adversários fossem equivalentes a inimigos que é preciso destruir a todo o custo. A coisa pode ter a sua piada quando se está a ver um jogo ou numa conversa de café entre amigos, em tons metafóricos e de brincadeira. Mas quando a coisa vai além desses contornos, o caso muda de figura. O meta-futebol, aquilo que está para além do jogo, parece uma corrida de touros enraivecidos. Basta passar uma cor ou emblema pela frente que se entra de imediato em estado de fúria cega.
Então não haverá nada que se possa fazer? Algum exemplo de sucesso que se possa aplicar em Portugal para desvanecer estes ódios sem sentido? Penso que podemos aprender alguma coisa como o exemplo da NBA, a liga norte-americana de basquetebol, e o evento da All-Star weekend.
Imaginem: durante uma semana por ano os clubes da liga portuguesa de futebol suspendiam a competição e, em conjunto, dedicavam-se apenas ao futebol-espectáculo. Os jogadores abandonavam, por momentos, as suas camisolas para vestir o equipamento do fair play, com novas cores. Em certos casos podiam manter os seus equipamentos devidamente adaptados: imaginem ver equipamentos do Benfica, Porto e Sporting a jogar na mesma equipa. Imaginem que as pessoas podiam votar individualmente, fazendo de seleccionadores, para escolher os melhores jogadores para as múltiplas equipas que se defrontariam em campo, em jogos excepcionais, pensados para o puro espectáculo do futebol. Podíamos assistir a uma partida de portugueses versus estrangeiros. Representantes dos clubes do Norte versus Sul, quem sabe estreantes na liga versus veteranos. Poderiam realizar-se provas de velocidade com bola, de dribles com obstáculos, de penáltis, de livres, de cabeceamentos, de fintas, de defesas de guarda redes. Até poderia haver demonstrações de outro tipo de habilidades e curiosidades, directa ou indirectamente ligadas ao futebol. Podiam ser incluídos espectáculos de música e outras artes performativas. Podiam ser homenageadas antigas estrelas. Os adeptos também podiam entrar nas competições. As possibilidades seriam imensas, em múltiplos espectáculos que, durante uma semana, podiam acontecer nos vários estádios do país.
Essa semana das estrelas do futebol iria contribuir para aproximar os adeptos dos verdadeiros protagonistas: os jogadores. Seria uma forma de reforçar que o espectáculo só pode ser bom se todos fizerem a sua parte. Teríamos adeptos de vários clubes a torcer pelas mesmas equipas. O evento seria mais amigável para crianças e famílias. Teríamos exemplos múltiplos de como o desporto, numa forma alternativa de competição, poderia ser feito pela simples paixão de querer assistir a um excelente espectáculo de puro entretenimento, valorizando a qualidade e o talento. Clubismos e fundamentalistas ficariam à porta. Os fanatismos poderiam ser esquecidos. Fica a ideia para estudar e adaptar. Não é uma solução. É uma possibilidade pois está na altura de assumir que temos um problema entre mãos.
Teremos a maturidade desportiva para algum dia conseguirmos realizar algo deste género no futebol em Portugal?