Sporting Clube de Pyongyang

Bruno de Carvalho quer transformar o Sporting Clube de Portugal no clube dele. Podia ser um problema dos sócios, mas um líder obscuro é um problema de toda a gente.

Imagine um mundo assim: onde só falava com quem concorda consigo, onde só ouvia quem pensa como você pensa. Imagine um mundo destes: onde havia três grupos de pessoas, que não se falavam, nunca se cruzavam, nunca debatiam, nunca discutiam. Nesse mundo assim, tudo era absolutamente estático — a única coisa que mudava era a realidade, nunca o que nós queríamos ver nela.

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Imagine um mundo assim: onde só falava com quem concorda consigo, onde só ouvia quem pensa como você pensa. Imagine um mundo destes: onde havia três grupos de pessoas, que não se falavam, nunca se cruzavam, nunca debatiam, nunca discutiam. Nesse mundo assim, tudo era absolutamente estático — a única coisa que mudava era a realidade, nunca o que nós queríamos ver nela.

Este é o mundo de Bruno de Carvalho, o homem que quer transformar o Sporting Clube de Portugal no Sporting Clube de Pyongyang. O presidente de um clube que pôs 90% dos associados numa assembleia geral a aceitar dar-lhe plenos poderes de julgamento, sem que algum deles saiba sob que critérios serão julgados. O presidente de um clube que deu uma ordem aos “comentadores sportinguistas” para que deixem de representar o seu clube. O presidente que deu ordem aos jogadores para não fazerem declarações. O presidente que deu o incentivo a um grupo de sócios para que perseguissem, insultassem, intimidassem quem está contra ele. O presidente de um clube que acha que os sportinguistas devem deixar de comprar jornais, de ouvir rádio ou de ver televisão — tirando aquele projecto televisivo que ele pode controlar.

Há muito que sabemos que o futebol é um mundo perigoso. Mas é preciso dizer que não é perigoso por causa da bola, é por causa de dirigentes como ele, Bruno de Carvalho.

Ontem, depois de tudo o que se ouviu, depois dos tiros que se dispararam antes de um derby minhoto, só houve uma personalidade que se atreveu a dizer umas palavrinhas sobre o que está a acontecer ao futebol português. Foi Marcelo, o Presidente, que apelou a “um ambiente de ‘descrispação’, de entendimento, de diálogo, de tolerância e compreensão recíproca”. Do Governo não se ouviu palavra, da Federação e da Liga nem uma palavrinha de atenção, da Entidade Reguladora para a Comunicação Social nem uma linha num comunicado.

Imagine agora que, em vez de Bruno de Carvalho, tinha sido António Costa a dizer aquilo aos militantes do PS e aos membros da maioria: que tudo o que eles dissessem contra o Governo podia ser sancionado; que eles tinham de deixar de ir à televisão, rádios ou jornais, que só podiam escrever no Acção Socialista, no esquerda.net ou no Avante!; que deixassem de ouvir os argumentos dos outros, porque só ele era o dono da verdade, do partido, do país. A estimular o ódio, a fazer subir os muros.

Imagine, pois, um mundo assim, que não era um só. Imagine que ele nasceu — e que ninguém se atreve a dizer nada, a fazer nada, a lutar contra. O seu mundo é mesmo assim?

P.S.  Para facilitar a vida, o meu número de sócio é o 8840. Podem pôr-me na lista, s.f.f.