A relva é sempre mais verde com café e sem soju
Grass, do sul-coreano Hong Sang-soo, são 67 minutos de perfeição quase inteiramente não-alcoólica.
Parece que já não há festival de cinema que não tenha o seu Hong Sang-soo, tal é a rapidez com que o cineasta sul-coreano “despacha” filmes. Em Berlim, há um ano, houve On the Beach Alone at Night (Urso de Ouro para melhor actriz, Kim Min-hee); três meses depois, em Cannes, mostrou O Dia Seguinte na competição oficial e Claire’s Camera, com Isabelle Huppert, fora de concurso. Este ano, por razões inexplicáveis e mistificadoras, Grass não teve direito aos holofotes da competição de Berlim; em vez disso, passou na paralela Forum, onde foi instantaneamente aclamado como um pequeno clássico.
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Parece que já não há festival de cinema que não tenha o seu Hong Sang-soo, tal é a rapidez com que o cineasta sul-coreano “despacha” filmes. Em Berlim, há um ano, houve On the Beach Alone at Night (Urso de Ouro para melhor actriz, Kim Min-hee); três meses depois, em Cannes, mostrou O Dia Seguinte na competição oficial e Claire’s Camera, com Isabelle Huppert, fora de concurso. Este ano, por razões inexplicáveis e mistificadoras, Grass não teve direito aos holofotes da competição de Berlim; em vez disso, passou na paralela Forum, onde foi instantaneamente aclamado como um pequeno clássico.
Nós iríamos mais longe: de todos os filmes do cineasta coreano que vimos, este é mesmo o nosso favorito. É uma espécie de “concentrado Hong Sang-soo” em apenas 67 minutos, onde tudo se passa (como sempre) em cafés e à volta de mesas, mas em versão light, com teor alcoólico reduzido. Kim Min-hee, a actual musa do cineasta, é o ponto de equilíbrio do filme, testemunha desta “estafeta” entre casais que se encontram num pequeno café de Seul para falarem da vida e do amor. São actores, escritores, amantes, que se cruzam e descruzam e formam novas parelhas e regressam às anteriores numa espécie de “dia mágico” que está sempre na fronteira entre o real e a imaginação da jovem que, sentada ao seu computador, se pergunta que feitiço ou encanto atrai (ou repele) as pessoas umas para as outras.
Grass é um dos filmes mais narrativamente depurados de Hong, e ao mesmo tempo um dos mais tocantes e certeiros de uma obra tão longa quanto desigual – e esta é uma variação sobre o tema bem diferente do que é habitual. E só tem soju nos últimos dez minutos. É um dos filmes de Berlim 2018.