Rui Rio a fazer prova de vida
No encerramento do Congresso do PSD o novo líder deixou finalmente um esboço do que quer para o partido. Fez-se uma luz ténue pelo que disse, mas também pelo que omitiu.
E ao terceiro dia do Congresso, Rui Rio despiu então a capa de candidato a líder do PSD para ensaiar a sua primeira prestação como candidato a primeiro-ministro. O seu discurso de encerramento desconsiderou os estados de ânimo de um partido ainda em tumulto e deixou no ar o esboço do que será o PSD sob a sua liderança. Não foi um discurso arrebatador, abundante de ideias inovadoras, de rupturas, de propostas concretas ou de exaltações. Mas para um líder que cultiva o rigor nos conceitos e a austeridade nas palavras também não foi um discurso vazio como o que largou na abertura do congresso.
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E ao terceiro dia do Congresso, Rui Rio despiu então a capa de candidato a líder do PSD para ensaiar a sua primeira prestação como candidato a primeiro-ministro. O seu discurso de encerramento desconsiderou os estados de ânimo de um partido ainda em tumulto e deixou no ar o esboço do que será o PSD sob a sua liderança. Não foi um discurso arrebatador, abundante de ideias inovadoras, de rupturas, de propostas concretas ou de exaltações. Mas para um líder que cultiva o rigor nos conceitos e a austeridade nas palavras também não foi um discurso vazio como o que largou na abertura do congresso.
Nas entrelinhas da sua mensagem continua a haver ainda muitas dúvidas e ambiguidades. No enunciado das suas propostas persistem mais continuidades do que rupturas. Mas a sua longa dissertação é pelo menos suficiente para três definições: o PSD recupera as bandeiras do estado social, do combate à pobreza, do culto da classe média ou da condição dos idosos que o levam para a área tradicional da social-democracia; o PSD regressa à era pré-Cavaco e assume que não haverá reformas num Estado “irracionalmente concentrado e centralizado” sem um plano que levará o partido ao limiar da Regionalização; e, num posicionamento mais duro e próximo da direita clássica, Rui Rio promete ser o campeão da luta contra “as clientelas corporativas”, contra o facilitismo dos que julgam que há “direitos sem obrigações” ou contra os valores de uma educação pública que olha os professores como “animadores de salas de aula”.
Quem pediu um PSD mais ao centro, obteve, senão uma resposta, ao menos uma luz. Rui Rio quer regressar aos anos de 1990 para colocar Portugal a crescer acima da média europeia e nessa viagem vai baixar bandeiras de Passos Coelho. Não parece haver lugar a uma maior comparticipação privada nas pensões ou a liberdade de escolha financiada pelo Estado na Educação. O PSD mais neoliberal que queria libertar o país do Estado enterrou-se com o ajustamento, a saída limpa e o sucesso de António Costa.
O que sobra? O reforço do “centrão” com a nota artística de Rui Rio. Entre o diálogo social e os acordos de regime que o povo “entende bem melhor do que nós possamos pensar” o que fará a diferença no PSD será o estilo do seu líder e não a densidade doutrinária ou programática. Esqueçam-se pois as decepcionantes votações das suas listas, os apupos a Elina Fraga ou a audácia de Luís Montenegro. Os que subestimaram Rui Rio acabaram sempre por perder.