Os fantasmas de Moçambique

João Viana estreia em Berlim a segunda longa-metragem, Our Madness, e a curta complementar Madness

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É caso suficientemente raro para merecer destaque: em 2013, o realizador português João Viana estreava em Berlim em simultâneo uma curta e uma longa oriundas do mesmo processo de criação, Tabatô A Batalha de Tabatô respectivamente. Em 2018, volta a fazer o mesmo, mas com maior sucesso criativo, estreando na competição oficial de curtas Madness e na secção paralela Forum Our Madness, rodados em Moçambique (depois da Guiné-Bissau do díptico de Tabatô). Embora os filmes, rodados ao mesmo tempo e partindo da mesma premissa – uma mulher presa num hospital psiquiátrico, que quer sair para reconstituir a sua família que não sabe onde está – partilhem as mesmas imagens, são filmes muito diferentes. Na curta, com algo de gague sonhador, reconhece-se o humor burlesco, chaplinesco, que Viana já aplicara em curtas como Alfama (2009), transformando uma ideia de fuga de uma realidade triste através do sonho e da fantasia.

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É caso suficientemente raro para merecer destaque: em 2013, o realizador português João Viana estreava em Berlim em simultâneo uma curta e uma longa oriundas do mesmo processo de criação, Tabatô A Batalha de Tabatô respectivamente. Em 2018, volta a fazer o mesmo, mas com maior sucesso criativo, estreando na competição oficial de curtas Madness e na secção paralela Forum Our Madness, rodados em Moçambique (depois da Guiné-Bissau do díptico de Tabatô). Embora os filmes, rodados ao mesmo tempo e partindo da mesma premissa – uma mulher presa num hospital psiquiátrico, que quer sair para reconstituir a sua família que não sabe onde está – partilhem as mesmas imagens, são filmes muito diferentes. Na curta, com algo de gague sonhador, reconhece-se o humor burlesco, chaplinesco, que Viana já aplicara em curtas como Alfama (2009), transformando uma ideia de fuga de uma realidade triste através do sonho e da fantasia.

Our Madness, a longa, mantém essa ligação ao cinema mudo, sendo um filme quase sem diálogo. São a narração, a música abstracta de Pedro Carneiro e a força da mise em scène determinada de Viana, cruzadas com a sumptuosa fotografia a preto e branco de Sabine Lancelin (que trabalhou com Chantal Akerman ou Manuel de Oliveira), a transportar o espectador. Our Madness tem algo de road movie místico, partindo da “loucura” que os outros vêem nesta mulher – que se chama Lucy, como a nossa antepassada africana – para contar a história de um continente assombrado pelos fantasmas criados pela colonização e pela guerra, pela ganância e pelo capitalismo. Mantendo intactos o lado naïf e a ingenuidade arregalada da Batalha de Tabatô mas corrigindo alguns dos seus excessos e defeitos, Our Madness é um evidentíssimo passo em frente para João Viana.