Nobel da Paz Desmond Tutu já não quer ser embaixador da Oxfam

Antigo arcebispo sul-africano está “profundamente desiludido” com a ONG, devido a um escândalo sexual, e segue o exemplo da actriz Minnie Driver.

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Desmond Tutu em 2012, quando esteve em Lisboa para participar numa conferência na Fundação Gulbenkian pedro cunha

O antigo arcebispo sul-africano Desmond Tutu, figura-chave da luta contra o apartheid e Nobel da Paz em 1984, anunciou na quinta-feira a sua renúncia ao cargo de embaixador da Oxfam, a organização não- governamental (ONG) abalada por uma série de escândalos sexuais.

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O antigo arcebispo sul-africano Desmond Tutu, figura-chave da luta contra o apartheid e Nobel da Paz em 1984, anunciou na quinta-feira a sua renúncia ao cargo de embaixador da Oxfam, a organização não- governamental (ONG) abalada por uma série de escândalos sexuais.

Num comunicado emitido pela equipa que com que trabalha, Desmond Tutu disse estar “profundamente desiludido com as acusações de imoralidade e de possível comportamento criminoso envolvendo trabalhadores humanitários” ligados à ONG britânica.

O documento acrescenta que Tutu, que, segundo o jornal The Guardian, apoia há anos o trabalho da Oxfam em todo o mundo, já escreveu aos dirigentes da organização para os informar de que quer deixar de ser seu embaixador.

Funcionários da Oxfam são acusados de violações durante missões humanitárias no Sudão do Sul, de abusos sexuais na Libéria e de participar em orgias no Haiti e no Chade, com prostitutas pagas com dinheiro destinado ao auxílio às populações afectadas pela guerra, pela fome, por catástrofes naturais e pela cólera.

“[O arcebispo] também está triste com o impacto que as acusações podem ter nos milhares de pessoas que têm vindo a apoiar o trabalho justo da Oxfam”, continua o comunicado.

A direcção da ONG está a ser criticada por ter ocultado o escândalo e por ter readmitido como consultor no Equador um dos funcionários que já tinha despedido devido a má conduta sexual no Haiti. Contratar este homem, “mesmo numa emergência e como consultor por um breve período”, foi um “grande erro e nunca devia ter acontecido”, reconheceu a Oxfam também na quinta-feira. “Ainda estamos a tentar perceber como é que aconteceu. Isto mostra-nos que precisamos de uma abordagem mais abrangente no que toca ao veto e contratação de funcionários e consultores, sobretudo em situações de emergência, quando há uma enorme pressão para preencher vagas rapidamente e, assim, ajudar a salvar vidas.”

Diz a imprensa britânica que a organização também permitiu que outras organizações humanitárias contratassem antigos colaboradores afastados devido a comportamentos indevidos sem as avisar do risco que corriam.

A renúncia de Desmond Tutu às funções de embaixador da Oxfam segue-se à da actriz Minnie Driver, que se afastou da organização no início desta semana. Na sua conta no Twitter, a actriz disse estar “arrasada” com as revelações sobre a organização que tem vindo a apoiar, sobretudo por causa das “mulheres que foram usadas pelas pessoas que tinham sido enviadas para as ajudar”. Em resposta a alguns dos que a interpelaram nesta rede social, disse ainda: “Não posso, de boa-fé, representar uma organização que sei ter protegido funcionários que cometeram abusos nas suas funções. Não posso combater a corrupção em ‘todas as instituições da terra’, mas posso denunciá-la quando a vejo.”

No centro do escândalo está Roland Van Hauwermeiren, o antigo director da Oxfam para o Haiti, hoje com 68 anos, que a partir da sua casa na Bélgica tornou pública uma carta em que, sem admitir os factos que lhe são imputados, reconhece estar “profundamente envergonhado” e alerta para a possibilidade de a Oxfam e de outras ONG que trabalham no terreno poderem vir a ser afectadas por denúncias sem fundamento. O escândalo já levou o Reino Unido a ameaçar cortar as suas contribuições financeiras para a organização.