Judy Garland e reality shows na reunião da família inglesa da mala voadora
A quarta edição do programa Uma Família Inglesa decorre entre esta quinta-feira e domingo, no Porto – e marca uma nova fase na actividade da companhia.
A mala voadora não consegue estar quieta. Nem quer. Este ano, abre-se uma nova fase na vida da companhia e do espaço próprio que gere e programa no Porto, na Rua do Almada, inaugurado em 2013. A criação e a programação deixam de ser departamentos autónomos e passam a estar articulados de um modo mais umbilical e dialogante. E isso, na verdade, é a mala voadora a ser mais fiel a si própria.
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A mala voadora não consegue estar quieta. Nem quer. Este ano, abre-se uma nova fase na vida da companhia e do espaço próprio que gere e programa no Porto, na Rua do Almada, inaugurado em 2013. A criação e a programação deixam de ser departamentos autónomos e passam a estar articulados de um modo mais umbilical e dialogante. E isso, na verdade, é a mala voadora a ser mais fiel a si própria.
“Esta mudança tem a ver com o constatar de que a actividade na mala voadora nem sempre tem relação com a mala voadora”, diz José Capela, cenógrafo e co-director artístico da companhia, assinalando ainda o facto de o Porto estar, neste momento, com um ritmo de programação de artes performativas muito mais acelerado do que em 2013, quando chegaram, o que acabou também por influenciar este novo rumo. “O papel de programadores não é, de todo, o nosso. Quisemos pensar em como fazer algo que não seja exactamente programação, mas que inclua alguns aspectos de programação, atendendo à especificidade de sermos artistas.” E a quarta edição do programa Uma Família Inglesa, que entre esta quinta-feira e domingo voltará a reunir nas instalações da mala voadora artistas vindos de Inglaterra, é “exemplar dessa lógica”, nota José Capela.
“Let’s mix it all”, escreve a companhia no programa de sala, e é muito por aí: nesta edição tanto há nomes que já estiveram em residência na Rua do Almada (Greg Wohead), como amigos e colaboradores (Xavier de Sousa), ou mesmo artistas com quem estão a preparar planos para o futuro (Deborah Pearson). “Há uma ambiguidade naquilo que é programar, co-criar e colaborar, e isso interessa-nos muito.” De certa forma, o Uma Família Inglesa tem sido, desde o primeiro capítulo, um prólogo deste reequacionar da actividade da mala voadora. “O que fizemos quando construímos este programa foi alargar à programação uma rede de relações de trabalho que tínhamos com artistas ingleses, como o Chris Thorpe e os Third Angel”, explica Capela.
Entretanto, começaram a “colaborar com os amigos dos amigos” e a família foi crescendo. Este ano, o arranque do programa fica a cargo de FK Alexander, quinta às 22h, com I Could Go On Singing (Over the Rainbow): uma performance submersa na música noise da dupla Okishima Island Tourist Association, que vai sendo pontuada, qual bálsamo, por FK Alexander a interpretar Somewhere over the rainbow, canção lendária de Judy Garland (e de O Feiticeiro de Oz), a partir da suposta última gravação ao vivo deste tema num concerto em 1969, meses antes da morte da actriz. FK oferece-se para pegar na mão dos espectadores e, intimamente, cantar para cada um deles. Sexta às 22h e sábado às 18h é a vez de Story#1, de Greg Wohead e Rachel Mars – no ano passado, no âmbito do Queer Porto, Wohead interpretou uma peça de Mars na mala voadora, Your Sexts Are Shit: Older Better Letters. Agora juntam-se no mesmo palco para o primeiro espectáculo em colaboração, desenhado a partir de um reality show inglês. “Vive muito desse confronto entre uma realidade filtrada e a construção ficcional em cena, uma coisa que interessa muito à mala voadora”, refere José Capela.
Segue-se, sábado e domingo às 22h, History History History, de Deborah Pearson, que passou pela Culturgest em 2017 e foi eleito pelo Ípsilon como um dos melhores espectáculos de teatro do ano passado. Também aqui se misturam dois níveis (um tipo de interacção que é, mais uma vez, muito estimado pela mala voadora): “a História com ‘h’ grande, a da Revolução Húngara de 1956, e a história com ‘h’ pequeno, a do filme que serve de referência para a peça”, contextualiza o cenógrafo. A visita de Deborah Pearson serve ainda para “preparar uma colaboração” com a mala voadora, que deverá materializar-se num espectáculo em co-criação, a estrear no Uma Família Inglesa de 2019.
Esta quarta edição conta ainda com um artista em residência, Xavier de Sousa. O português sediado em Brighton vai estar a trabalhar numa adaptação do seu espectáculo POST para um contexto pós-colonial português e a fazer investigação para uma nova criação, TIME/COLONIA, que está a desenvolver com comunidades de imigrantes e de refugiados em Inglaterra.