Lucro do BCP sobe para 185 milhões em 2017
A actividade em Portugal, menos penalizada pelas imparidades, foi o motor da aceleração dos resultados do banco, controlado agora pelos chineses da Fosun. Em 2016, o lucro líquido tinha sido de 24 milhões de euros.
"Em 2017, o resultado líquido alcançou 186,4 milhões de euros, representando um crescimento significativo face aos 23,9 milhões de euros registados no ano anterior, alicerçado no desempenho da actividade em Portugal", explicou em comunicado o banco liderado por Nuno Amado.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
"Em 2017, o resultado líquido alcançou 186,4 milhões de euros, representando um crescimento significativo face aos 23,9 milhões de euros registados no ano anterior, alicerçado no desempenho da actividade em Portugal", explicou em comunicado o banco liderado por Nuno Amado.
Isto porque, explica ainda a instituição, "o contributo da actividade internacional foi afectado pelo impacto decorrente da aplicação da IAS 29 ao Banco Millennium Atlântico, no âmbito do tratamento de Angola como uma economia com elevada inflação pelas empresas de auditoria internacionais".
Em Portugal, "o resultado líquido aumentou 196,3 milhões de euros, face ao valor alcançado em 2016, cifrando-se em 39 milhões de euros em 2017, merecendo particular destaque a diminuição das imparidades e provisões", explicou ainda o banco.
Em 2017, o Millennium bcp aumentou em 100 mil a sua carteira de clientes líquidos em Portugal, o que Nuno Amado classificou de "muito positivo", algo que "não acontecia há muitos anos e é uma prova de confiança no banco". "Um banco que está a regressar ao que era: um excelente banco", sublinhou.
No negócio internacional, excluindo o referido impacto ligado ao Banco Millennium Atlântico, "o resultado líquido da actividade internacional ascendeu a 174,6 milhões de euros em 2017 e manteve-se estável face aos 172,8 milhões de euros registados em 2016".
Num exercício marcado pela descida dos custos gerais de financiamento no negócio em Portugal - não só pelas taxas de juro baixas nos depósitos e nos mercados, mas também pelo fim do apoio público remunerado - a margem financeira cresceu 13,1% para os 1391,3 milhões de euros. Para esta evolução da operação também contribui a actividade internacional, em especial nos mercados polaco e moçambicano.
No que diz respeito às comissões, o seu valor total aumentou 3,6%, não tanto pelas comissões cobradas em Portugal (onde o valor até caiu ligeiramente), mas mais pelo que se verificou nas actividades internacionais, com destaque para a Polónia. No comunicado ao mercado, o banco explica que "as comissões líquidas aumentaram 3,6% face aos 643,8 milhões de euros registados em 2016, ascendendo a 666,7 milhões de euros em 2017. Este aumento "beneficiou do crescimento quer das comissões bancárias (+2,7%), quer das comissões relacionadas com os mercados financeiros (+7,6%)", acrescentou.
Perante a evolução destes indicadores, o produto bancário do banco cresceu 5% para perto de 2200 milhões de euros, acabando por absorver o impacto negativo dos resultados de operações financeiras.
De referir que os custos com pessoal, o valor total ficou estável, com a queda em Portugal a ser compensada pelo aumento na Polónia. Em Portugal, a descida "ficou a dever-se ao impacto provocado pela diminuição de 144 colaboradores", apesar da "decisão do Conselho de Administração do Banco no sentido de terminar antecipadamente o período de ajustamento temporário de rendimento que vigorou desde Julho de 2014", isto é, o fim dos cortes salariais.
Administradores na mira da justiça
Na conferência de imprensa de resultados, inquirido sobre o investimento da Sonangol no BCP, Nuno Amado explicou que "o accionista já recebeu a informação" para tomar uma decisão sobre a evolução" da sua presença na instituição portuguesa onde possui 15,4%. "Estamos bastante tranquilos com a presença da Sonangol no BCP, havendo uma excelente relação, muito profissional, entre o banco e o accionista angolano", acrescentou.
Sobre eventuais problemas de reputação no BCP provocados pela presença nos órgãos sociais de dois administradores, António Mexia e Carlos Silva, com processos judiciais em curso, o banqueiro avançou que o conselho de administração (CA) e a comissão de ética analisaram o tema e não consideraram haver matéria para os substituir. Lembrou ainda que as listas para os órgãos sociais que vão gerir o banco no próximo mandato estão a ser constituídas e que tudo está em aberto.
O presidente-executivo (CEO) do BCP referiu ainda sobre este tema que existe um entendimento dos supervisores para que haja uma redução do número de membros do CA (executivos e não executivos). E adiantou que o BCP acompanhará a recomendação, ainda que nada esteja decidido sobre isso.
O BCP tem neste momento 19 administradores, porque os três gestores indicados pela Fosun não chegaram a tomar posse. O banco está há oito meses a aguardar que o BCE se pronuncie sobre a sua idoneidade. O mandato deste CA terminou e não é expectável que o BCE tome neste momento posição, observou Amado: "penso que a Fosun esta confortável com a situação".
Menos imparidades, menos crédito
A principal razão pelo aumento dos lucros do BCP no ano passado foi a diminuição significativa das imparidades do crédito (líquida de recuperações) em 44,2% para os 623,7 milhões de euros "reflectindo a evolução favorável da actividade em Portugal e a melhoria do custo do risco do grupo em 2017 para 122 pontos base, face aos 216 pontos base observados no ano anterior".
As outras imparidades e provisões totalizaram, por seu turno, 301,1 milhões de euros, apresentando uma diminuição de 37,4% face aos 481,1 milhões de euros registados em 2016, suportada essencialmente no menor nível de provisionamento relacionado com fundos de reestruturação empresarial", entre outros factores, explicou o banco.
Já no que diz respeito à concessão de crédito, verificou-se uma queda em Portugal, contrabalançada pelo crescimento verificado na actividade internacional, em especial no mercado polaco.
Assim, "na actividade em Portugal, o crédito fixou-se em 37.996 milhões de euros, diminuindo 3,5%(...). Esta evolução foi marcada pela manutenção do esforço de redução dos NPEs [crédito de baixa qualidade], que atingiu 1,8 mil milhões de euros, enquanto a carteira de crédito performing [de melhor qualidade] cresceu, o que já não sucedia há oito anos, devido especialmente ao crescimento da produção de crédito a particulares".
O crédito a empresas continua a representar quase metade da carteira total e o BCP revela no documento das contas anuais que se tem vindo a verificar "uma transformação estrutural, reflectida na diminuição do peso das actividades de construção e imobiliárias e SGPS não financeiras".
Ainda no tema de crédito, o BCP divulgou que a qualidade da carteira continua na trajectória de melhoria que tem vindo a ser apresentada trimestralmente, estando, por exemplo, a proporção de crédito vencido há mais de 90 dias em função do crédito total, a evoluir "favoravelmente de 6,8% em 31 de Dezembro de 2016 para 5,8% em 31 de Dezembro de 2017". Já o rácio do crédito em risco no crédito total "fixou-se em 9,3%, melhorando face aos 10,9% de 31 de Dezembro de 2016".
Relativamente à solidez, o maior banco privado português voltou a melhor os principais indicadores, sobretudo depois do aumento de capital realizado no primeiro trimestre, tendo neste momento níveis confortavelmente acima das metas definidas pelas autoridades europeias.