Morreu a “amiga do peixe” que não distinguia chefs de clientes do mercado
Açucena Veloso tinha 65 anos e morreu este domingo, num acidente de automóvel.
Açucena Veloso, 65 anos, conhecida peixeira de Lisboa, morreu este domingo na sequência do despiste do automóvel que conduzia na zona de Corroios, no concelho do Seixal, distrito de Setúbal. A morte da peixeira do Mercado 31 de Janeiro, na freguesia de Arroios, Lisboa, está a ser lamentada por várias figuras que recordam a sua personalidade enérgica e alegre e a sua imagem de “marca de qualidade”, uma “referência no mercado do peixe”.
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Açucena Veloso, 65 anos, conhecida peixeira de Lisboa, morreu este domingo na sequência do despiste do automóvel que conduzia na zona de Corroios, no concelho do Seixal, distrito de Setúbal. A morte da peixeira do Mercado 31 de Janeiro, na freguesia de Arroios, Lisboa, está a ser lamentada por várias figuras que recordam a sua personalidade enérgica e alegre e a sua imagem de “marca de qualidade”, uma “referência no mercado do peixe”.
Duarte Calvão, director do festival Peixe em Lisboa e um dos autores do blogue Mesa Marcada, recorda a presença da peixeira na primeira edição do festival, em 2008, ano em que venceu o concurso de pregões do festival. Foi nessa data em que a conheceu e se tornou seu cliente assíduo, depois de ter visto como era “como pessoa e como trabalhava”. “Era um exemplo de dedicação ao que fazia, sempre com uma alegria enorme, ainda que com aqueles horários de mercado”, descreve Duarte Calvão em declarações ao PÚBLICO. “Tinha uma capacidade de trabalho incrível e nunca se cansava, nunca estava mal disposta”, garante.
A “amiga do peixe”, como a própria se descrevia numa entrevista ao jornal i, datada de Agosto de 2015, era igual para todos, sublinha o director do festival Peixe em Lisboa. “É injusto que a estejam a recordar como ‘a peixeira dos chefs’. A Açucena tratava toda a gente por igual. Fossem conhecidos ou não. Aliás, apesar do elevado volume de negócio que tinha com restaurantes e hotéis — para onde vendia 90% do peixe — não deixava de ter o mesmo contacto pessoal com os clientes que passavam na sua banca no mercado. Era ela quem estava sempre a querer atender, a escolher e a arranjar o peixe. Não fazia distinção entre os clientes famosos ou os clientes do bairro”, sublinha Duarte Calvão. “Há também um outro lado que mantinha discreto e era por isso pouco conhecido. Quem a conhecia de perto sabia que era frequente ajudar as pessoas que tinham mais dificuldade em pagar determinado preço pelo seu peixe. Tinha um lado solidário”, recorda. “Espero que o exemplo de força e alegria que dava vida ao mercado tenha continuidade”, concluiu Duarte Calvão.
Foi desse espírito que, esta manhã, de acordo com a presidente da junta de freguesia de Arroios, Margarida Martins, as bancas do Mercado 31 de Janeiro sentiram falta. “As bancas estavam todas vazias e quem estava presente estava emocionado”, descreve a autarca.
“A Açucena teve uma importância bastante grande na reabilitação do 31 de Janeiro”, recorda Margarida Martins. “Antes, tínhamos a zona do peixe no primeiro andar. Foi muito graças a ela que conseguimos passar para o rés-do-chão, para uma zona até então abandonada”, contou ao PÚBLICO. A mudança traduziu-se em “muitos mais visitantes”. “Ela vendia qualidade. Tinha uma clientela muito diversificada que vinha de vários sítios da cidade para comprar o seu peixe. Atraía muita atenção e tinha acordos com vários chefs”, acrescenta. “Tornava o Mercado muito mais dinâmico” elogia emocionada a autarca de Arroios, que lamenta não só a morte da “figura” mas da “amiga”.
A morte de Açucena Veloso foi também assinalada pelo presidente da câmara de Lisboa, Fernando Medina, que recordou “uma amiga nas boas e más horas”, sempre presente “com um sorriso e um abraço de alegria e força”. “Partiu uma grande lisboeta, a quem tanto a cidade deve na melhoria da gastronomia e do comércio nos mercados de Lisboa”, escreveu o autarca lisboeta na sua página pessoal de Facebook, onde partilhou duas fotografias com Açucena Veloso.
O velório acontecerá a partir das 19h desta segunda-feira na Basílica da Estrela. Já o funeral será nesta terça-feira, pelas 16h. O corpo seguirá depois para o cemitério do Alto de São João, onde será cremado pelas 17h30.