Ovócitos humanos desenvolvidos em laboratório pela primeira vez
O desenvolvimento destas células geralmente acontece dentro do corpo das mulheres, nos ovários, mas desta vez foi recriado em laboratório — o que pode vir a ser útil para pessoas inférteis, como quem já fez tratamentos de quimioterapia ou radioterapia.
Uma equipa de cientistas do Reino Unido e dos EUA desenvolveu pela primeira vez ovócitos humanos em laboratório, fora do corpo, segundo um estudo publicado na revista científica Molecular Human Reproduction. Esta investigação pode ser profícua não só para se perceber melhor a forma como os ovócitos (as células reprodutoras femininas) se desenvolvem, mas também para preservar a fertilidade em mulheres que sejam submetidas a tratamentos como a quimioterapia ou a radioterapia, que danificam estas células.
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Uma equipa de cientistas do Reino Unido e dos EUA desenvolveu pela primeira vez ovócitos humanos em laboratório, fora do corpo, segundo um estudo publicado na revista científica Molecular Human Reproduction. Esta investigação pode ser profícua não só para se perceber melhor a forma como os ovócitos (as células reprodutoras femininas) se desenvolvem, mas também para preservar a fertilidade em mulheres que sejam submetidas a tratamentos como a quimioterapia ou a radioterapia, que danificam estas células.
Ainda assim, o processo não é completamente eficaz: dos 87 folículos desenvolvidos em laboratório, só foram extraídos nove óvulos maduros. Ao todo, foram recolhidas, através de biópsias, amostras ovarianas de dez mulheres. Como referido no estudo publicado no final de Janeiro, “este é um pequeno número de amostras, mas prova que é possível haver um desenvolvimento completo de ovócitos humanos in vitro” — porém, são precisos mais estudos e mais ensaios clínicos para determinar se se trata de células funcionais que poderão dar origem a bebés saudáveis.
O desenvolvimento completo de ovócitos já tinha sido conseguido em ratinhos. Depois de fecundados, essas células deram origem a ratinhos bebés vivos e saudáveis – mas ainda não se sabe se isto é possível em seres humanos.
Evelyn Telfer, uma das investigadoras da Universidade de Edimburgo responsáveis pelo estudo, disse à BBC que era “entusiasmante” chegar a estes resultados, mas que existe ainda “muito trabalho” pela frente, para melhorar as condições em que os ovócitos são desenvolvidos. “Além da aplicação clínica, este é um grande avanço para aumentar o conhecimento que temos do desenvolvimento dos ovócitos humanos”, disse.
A equipa de cientistas conseguiu desenvolver os ovócitos ao replicar os níveis de hormonas (e oxigénio) e as condições biológicas necessárias para o desenvolvimento dos folículos nos ovários, um ambiente difícil de recriar externamente.
Dentro do corpo feminino, está tudo cronometrado. As mulheres nascem com folículos que só se transformam em ovócitos na altura em que atingem a puberdade, de forma faseada. Alguns desenvolvem-se logo nos primeiros anos, outros só décadas mais tarde. São estes ovócitos – depois de passarem pela meiose, um mecanismo de divisão celular que faz com que fiquem com metade do material genético que tinham inicialmente – que podem ser fecundados por espermatozóides. Caso não haja fecundação, o ovócito segue para o útero, onde se degenera e é descartado na menstruação.
É por esta razão que as raparigas que ainda não tenham atingido a puberdade e que sejam sujeitas a tratamentos de cancro não podem criopreservar ovócitos (na eventualidade de quererem ter filhos biológicos mais tarde), opção dada a mulheres que tenham ovócitos já formados. No entanto, é-lhes possível remover uma amostra de tecido dos ovários antes do início dos tratamentos, que poderá ser implantado anos mais tarde. Com um problema: os médicos consideram que se trata de um procedimento arriscado, por existir a possibilidade de serem introduzidas de volta células cancerosas no organismo.