May e os seus ministros apresentam a "Rota para o Brexit" numa série de discursos

Gabinete de acordo quanto à estratégia para saír da UE: confirma-se que é "hard". Prevê o abandono de muitos regulamentos e leis "imediatamente" a seguir ao período de transição.

Fotogaleria

A primeira-ministra Theresa May começa esta semana uma grande operação de relações públicas que tem dois objectivos: unir o seu beligerante gabinete e partido e dizer, de uma vez por todas, aos britânicos e aos europeus, como quer concretizar a saída do Reino Unido da União Europeia (“Brexit”).

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

A primeira-ministra Theresa May começa esta semana uma grande operação de relações públicas que tem dois objectivos: unir o seu beligerante gabinete e partido e dizer, de uma vez por todas, aos britânicos e aos europeus, como quer concretizar a saída do Reino Unido da União Europeia (“Brexit”).

Segundo a BBC, May e alguns dos seus ministros vão fazer, nas próximas semanas, uma série discursos que, no seu conjunto, traçam a “Rota para o Brexit”, o nome dado à ofensiva. No que pode ser um sinal do que essa “rota” vai ser, será o chefe da diplomacia e um dos membros do Partido Conservador mais críticos da UE, Boris Johnson, a abrir o programa. Na quarta-feira, Johnson vai fazer um discurso que, segundo disse uma fonte do governo à Reuters, será “um grito de guerra aos que estão nos dois lados do debate” do “Brexit” (os que defendem a saída e os contra).

Theresa May falará pela primeira vez no sábado (não no Reino Unido mas em Munique). E só voltará a pronunciar-se para fazer a súmula da “Rota para o Brexit” e dizer o que quer o Reino Unido da parceria com Bruxelas, dentro de três semanas, segundo a BBC. Até lá, falarão o ministro para o “Brexit”, David Davis, a quem calhou desvendar o futuro das empresas — vai dizer, segundo a imprensa britânica deste domingo — que manterão a reputação mundial depois do divórcio; e o ministro do Comércio, Liam Fox. O responsável pelas Finanças, Philip Hammond, não está na lista dos oradores.

“O 'Brexit' é um momento marcante da nossa nação”, disse à Reuters uma fonte do gabinete de May, explicando a estratégia. “À medida que avançamos pela estrada que leva ao futuro, vamos dando mais pormenores para que as pessoas possam verificar que esta nova relação vai beneficiar as comunidades em todo o pais”.

Oficialmente, nada mais foi revelado sobre o que quer May para o período de transição e depois dele. O acordo sobre o período de transição (que começará a 29 de Março de 2019, após a aplicação do Artigo 50) deve estar concluído antes da cimeira europeia de Março, onde está previsto que se dêem início às negociações sobre a relação comercial futura. 

Na última semana, Bruxelas pressionou o governo de Londres a clarificar a sua posição, depois de ter deixado claro quais são os seus limites — por exemplo que o Reino Unido continuará a participar no mercado único e a beneficiar de todos os seus benefícios económicos, pelo que terá também de cumprir todas as suas obrigações. 

Porém, tudo indica que May e os seus ministros vão traçar um caminho distinto, mais próximo de um “hard Brexit” (sem um acordo sobre a participação no mercado único) do que do “soft Brexit”. Segundo o Politico, o Reino Unido vai deixar de cumprir uma série de leis e regulamentos “imediatamente” depois do período de transição.

Uma fonte do gabinete de May disse a este jornal que os regulamentos e legislação a abandonar centram-se em três áreas: subsidios à agricultura, agora submetidos à Política Agricola Comum; regulação dos serviços financeiros e política comercial. Outra fonte disse que impôr restrições à liberdade de circulação de pessoas também é imperativo para o governo de Londres — e para que exista entendimento entre os seus membros, que na quarta-feira deverão assinar este documento que May demorou a conseguir.

A autoridade de May ficou muito debilitada depois de ter perdido a maioria nas eleições legislativas do ano passado, que antecipou para conseguir o oposto, ou seja para reforçar o seu mandato e autoridade durante a negociação com Bruxelas. A posição da primeira-ministra ficou ainda mais frágil devido às brechas ideológicas que o “Brexit” abriu no gabinete e no Parlamento — receou-se que as negociações fracassassem e o Governo caísse.

May terá conseguido um consenso entre a sua equipa para traçar um rumo para o “Brexit”. Mas as divisões não estão sanadas. A ala mais pró-europeia avisa que uma saída sem acordos sobre uma futura relação com a UE pode ter efeitos devastadores na economia. Ainda este domingo, a deputada conservadora e crítica da estratégia “hard” de saída de May, Anna Soubry, advertiu que o tipo de “Brexit” que o governo propõe não tem o apoio da maioria no Parlamento — e este vai ter direito de votar o acordo final.