Mesquita Nunes fala da sua homossexualidade: não é “nenhuma excepcionalidade” na direita europeia

O vice-presidente do CDS não vê o falar da questão como "assumir", já que "nunca escondeu" a sua orientação sexual. Até falou uma vez publicamente do assunto num comício com jornalistas nas autárquicas, mas estes não prestaram atenção.

Foto
Adolfo Mesquita Nunes no Congresso do CDS em 2016 Martin Henrik

Adolfo Mesquita Nunes nunca escondeu a sua homossexualidade mas também não falou directamente dela. A questão surgiu, pela primeira vez, na campanha eleitoral na Covilhã, no ano passado – ao lado de Assunção Cristas e com público e jornalistas a ouvir, explicou que não tinha pedido para retirar um cartaz seu em que alguém escreveu “gay” simplesmente porque “não era mentira”. O que aconteceu de seguida? Nada. “Não supus que os jornalistas não estivessem a prestar atenção e só noticiassem o que a Assunção disse”, mas foi o que aconteceu, conta agora.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Adolfo Mesquita Nunes nunca escondeu a sua homossexualidade mas também não falou directamente dela. A questão surgiu, pela primeira vez, na campanha eleitoral na Covilhã, no ano passado – ao lado de Assunção Cristas e com público e jornalistas a ouvir, explicou que não tinha pedido para retirar um cartaz seu em que alguém escreveu “gay” simplesmente porque “não era mentira”. O que aconteceu de seguida? Nada. “Não supus que os jornalistas não estivessem a prestar atenção e só noticiassem o que a Assunção disse”, mas foi o que aconteceu, conta agora.

Acabou por falar do assunto de novo numa “entrevista de vida” que deu, aos 40 anos, ao Expresso – diz que não lhe ocorreria esconder o facto numa entrevista deste género. O semanário comenta que, “pela primeira vez, um alto dirigente de um partido português fala sobre a sua homossexualidade”.

O jornal conta o percurso do vice-presidente do CDS, que é um dos rostos da renovação do partido conservador: já foi deputado e secretário de Estado do Turismo, advogado quando saiu do Governo por não querer ter uma “relação profissional com a política”, e agora vereador na Covilhã, terra onde cresceu, após uma campanha sob o lema “Nova Energia” que lhe valeu o melhor resultado de sempre do partido no concelho (embora em terceiro lugar).

Para Adolfo Mesquita Nunes, o facto de ser homossexual não foi abordado no âmbito de outras entrevistas enquanto secretário de Estado do Turismo ou deputado “porque não veio a propósito dos dados do turismo ou do memorando da troika” e, assim, não faria sentido. Sublinha a excepção da campanha da Covilhã, em que havia um motivo para falar da questão, e acrescenta: “Esse discurso esteve e está na Net, partilhei-o no Facebook”.

Mas não vê esta menção na entrevista publicada neste sábado como “uma revelação, porque seria até absurdo, tendo em conta que não é nenhum segredo, é um facto provavelmente conhecido de muitos, que não é por mim escondido”. No entanto, traça a linha e diz que não fala da vida privada – “no meu caso trata-se de não esconder” a orientação sexual, sublinha. Aliás, a dada altura, questionado sobre se a declaração foi "um acto de coragem", diz mesmo que se está a “presumir que alguém só se assume quando dá uma entrevista a um jornal – não é bem assim”.

Recusa também a ideia de um “acto de coragem”: para Adolfo Mesquita Nunes, houve “muita gente que precisou de uma coragem infinitamente superior” para “hoje uma pessoa poder estar confortável com a sua orientação sexual”. E é por isso que recusa “a distinção entre o activismo supostamente folclórico, extravagante, e o activismo moderado, mais discreto e por isso supostamente mais aceitável”.

Quanto a posições que tomou em questões como o aborto (em que numa edição do programa Prós e Contras, em 2007, debateu contra Assunção Cristas, ele a favor do “sim” e ela do “não”), ou o direito a adopção por casais do mesmo sexo (o facto de ser um voto solitário no CDS valeu-lhe em 2012 a distinção de Deputado do Ano pelo site de notícias e cultura LGBT dezanove.pt), Mesquita Nunes comenta: “Gosto de pensar que as minhas posições mais liberais não são determinadas pela orientação sexual, que radicam antes num apego ético e político ao valor da liberdade”. E sublinha ainda que, “olhando para todos os partidos de direita europeus”, não vê “nenhuma excepcionalidade” na sua presença no CDS.

No ano passado, outra política portuguesa assumiu-se como homossexual numa entrevista ao Diário de Notícias: Graça Fonseca, secretária de Estado Adjunta e da Modernização Administrativa, fê-lo como “afirmação política” e não pessoal, explicando que o modo como um determinado grupo é visto tem muito a ver com a visibilidade pública desse grupo, se “há poucos deputados ou membros do Governo de um determinado grupo” isso tem reflexos.