Quando a RTP está no bom caminho, despedem o responsável?

Pode parecer estranho, bizarro mesmo, mas neste momento é mais fácil encontrar conteúdos de qualidade na RTP1, e especialmente na RTP2, do que em canais temáticos na televisão por cabo onde supostamente somos solicitados para pagar por essa diferenciação

Foto
Sven Scheuermeier/Unsplash

Andava há algum tempo para escrever um texto de opinião sobre a qualidade crescente dos programas que a RTP tem exibido. Desde séries de ficção a documentários e outras produções, a RTP tem conseguido preencher a sua grelha com coisas realmente diferenciadas, um pouco para todos os gostos, mas claramente direccionados para quem gosta de um pouco mais de profundidade nos conteúdos. Ou seja, uma clara aposta na qualidade.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Andava há algum tempo para escrever um texto de opinião sobre a qualidade crescente dos programas que a RTP tem exibido. Desde séries de ficção a documentários e outras produções, a RTP tem conseguido preencher a sua grelha com coisas realmente diferenciadas, um pouco para todos os gostos, mas claramente direccionados para quem gosta de um pouco mais de profundidade nos conteúdos. Ou seja, uma clara aposta na qualidade.

Pode parecer estranho, bizarro mesmo, mas neste momento é mais fácil encontrar conteúdos de qualidade na RTP1, e especialmente na RTP2, do que em canais temáticos na televisão por cabo onde supostamente somos solicitados para pagar por essa diferenciação e qualidade. A título de exemplo, os canais de documentários foram transformados em caixotes do lixo de reallity shows e outros derivados. Se queremos ver um bom documentário em Portugal o melhor é mesmo procurar na RTP2, e, agora, surpreendentemente até na RTP1. É espantoso! Esta é a minha percepção como consumidor selectivo destes programas.

Por falar em RTP1, que finalmente parece estar devidamente articulada com a RTP2, conjugando ficção com informação, são também exibidas séries estrangeiras que dificilmente poderíamos ver noutros canais. Refiro-me a séries históricas e outras de cariz mais alternativo, muitas de origens alternativa aos EUA, numa clara aposta em tentar satisfazer quem já não aguenta formatos uniformes globalizados para consumo em massa, blockbusters repetitivos e telenovelas em looping.

Não sei até que ponto estas mudanças na programação se têm reflectido nas audiências. Sei que para esses programas existem espectadores. Sei também que há quem prefira desligar a televisão a ser forçado a assistir a lixo televisivo. Se as empresas se tentam direccionar para as necessidades dos clientes é mais do que natural que a televisão também o faça. Quer se queira quer não, a TV tem cada vez mais concorrentes de peso.

Então, quando me preparava para deixar um registo de demonstração de apreço e agradecimento como espectador aos responsáveis da RTP, apercebi-me que não iria ser renovado o contrato de Nuno Artur Silva no pelouro dos conteúdos. Parece que se trata de uma aparente incompatibilidade com o facto de deter participações nas Produções Fictícias.

Em resposta, surgiu um recente abaixo-assinado, que juntou mais de 200 individualidades com prestígio em diversas áreas de actividade, que questiona o parecer do Conselho Geral Independente da RTP em propor a não recondução de Nuno Artur Silva. Tal como estas pessoas que assinaram essa petição, muitos deverão ser os espectadores da RTP a considerarem estranha esta decisão, especialmente quando a RTP passou a gerar lucros.

Apesar de tudo, esta quinta-feira, 8 de Fevereiro, foi anunciado que Hugo Graça Figueiredo irá substituir Nuno Artur Silva. Quem apreciava o rumo que a RTP estava a tomar fica na expectativa. O legado que o novo responsável de conteúdos da RTP irá herdar é exigente, agora que sabemos que o serviço público de televisão pode ter qualidade e dar lucro.