A grafia dos dias: Isabella
22 de Dezembro 2017 — Regresso à ilha para visitar Isabella. Faz três anos que deixei a casa
O nevoeiro. As gaivotas presas ao corrimão a resistirem ao vento. Os meu pés nas tábuas mirando as águas, para além das frestas. O pontão que se estende até à cidade, ao longe. Ryde, entre a densidade cinzenta do final da tarde.
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O nevoeiro. As gaivotas presas ao corrimão a resistirem ao vento. Os meu pés nas tábuas mirando as águas, para além das frestas. O pontão que se estende até à cidade, ao longe. Ryde, entre a densidade cinzenta do final da tarde.
É Isabella quem me deixa hoje aqui. No cais. Abraça a desordem de pêlos brancos e o latido ansioso de Rocky. A casa juntou-nos. Foi lá que a conheci. Fomos colegas. Cuidadoras. Vivíamos na mesma ala. Partilhámos as gargalhadas e os lamentos. Evaporámos sonhos na espuma branca das ondas junto à praia. No mesmo lugar onde há quatro anos os Brown, os donos da casa, me receberam. Mrs. Brown de exclamação nos lábios:
- Ela é maior do que eu imaginei. — Mirando Mr. Brown absorto. Compondo a minha carga no interior da bagageira do carro.
Percorremos a ilha à noite. Imersos no movimento negro das árvores contra os faróis dos carros. Eu, no banco de trás de respostas feitas. Diminuída na incerteza do destino.
Voltar à ilha. A ilha dentro da ilha. A gaveta no armário. Pequena. Escondendo memórias mal arrumadas. Pilhas revolvidas pelo som dos meus pés no pontão. Outra vez. A naúsea das emoções flutuando por entre as frestas da madeira. Desordenadas no tempo. Confusas. Os residentes. As noites brancas. O cheiro a urina. Os vapores húmidos da lavandaria. As campainhas a agitarem as penas brancas das gaivotas ao vento. Ritmos brancos no corrimão a diminuírem no horizonte até Ryde.