EUA lançam raro ataque contra forças de Assad
Começou a luta pelo controlo do território abandonado pelo Daesh.
A coligação internacional liderada pelos Estados Unidos na Síria lançou um ataque contra combatentes leais ao regime de Bashar al-Assad, que é apoiado pela Rússia e Irão, na região de Deir Ezzor. De acordo com a informação prestada pela coligação militar, o ataque serviu para reprimir um outro das forças pró-Assad contra a base das Forças Democráticas da Síria (FDS), uma coligação de militantes curdos e árabes aliada de Washington.
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A coligação internacional liderada pelos Estados Unidos na Síria lançou um ataque contra combatentes leais ao regime de Bashar al-Assad, que é apoiado pela Rússia e Irão, na região de Deir Ezzor. De acordo com a informação prestada pela coligação militar, o ataque serviu para reprimir um outro das forças pró-Assad contra a base das Forças Democráticas da Síria (FDS), uma coligação de militantes curdos e árabes aliada de Washington.
Em comunicado, o Comando Central norte-americano informa que as “forças sírias pró-regime iniciaram um ataque sem motivo” contra a base das FDS, acrescentando que no local estavam conselheiros norte-americanos. “Em defesa da coligação e das forças aliadas, a coligação conduziu ataques contra forças atacantes para repelir a agressão contra os parceiros”, lê-se na nota onde não se revelam mais pormenores sobre o ocorrido.
Uma fonte oficial norte-americana disse à Reuters que pelo menos cem combatentes pró-Damasco foram mortos — numa operação aérea e apoiada no terreno pelas FDS. O ataque conduzido pelas forças leais a Assad contou com 500 homens, apoiados por artilharia, tanques e lança mísseis. A confirmar-se, esta foi uma das operações mais mortíferas desde que os EUA chegaram à Síria.
A televisão estatal síria afirmou, por sua vez, que a coligação internacional provocou “dezenas de mortos e feridos”.
A fonte ouvida pela Reuters disse ainda que a coligação esteve em contacto com oficiais russos antes, durante e depois de ambos os ataques.
Sem ser ainda certo a que grupo pertenciam os combatentes mortos, o ministro da Defesa russo, Serguei Shoigu, garantiu que os militantes pró-Assad estavam a realizar missões de reconhecimento na zona e que estas acções não foram previamente combinadas com Moscovo, desmentindo por isso a presença de militares russos.
“Suspeitamos que as forças sírias pró-regime estavam a tentar capturar terreno que as FDS libertaram do Daesh em Setembro de 2017”, disse a fonte norte-americana à Reuters. Por seu lado, Shoigu defende que esta acção prova que o objectivo dos EUA na Síria não é combater o Daesh mas “a captura e retenção de activos económicos”.
Esta troca de acusações lança luz sobre aquilo que está agora em jogo neste território localizado na zona Este da Síria desde que os jihadistas perderam praticamente toda a sua presença territorial. Numa zona rica em petróleo – com os campos de Khusham – que serviu como uma das mais importantes fontes de rendimento da organização liderada por Abu Bakr al-Baghdadi, as partes que estiveram anteriormente envolvidas no combate ao Daesh viram as atenções para as terras que ficaram para trás.
Durante a luta contra o Daesh o território ocupado por aquele grupo foi sendo recuperado quer pelas forças de Damasco quer pelas FDS, o que resultou na divisão que se verifica actualmente: numa zona virtualmente delimitada pelo Vale do Eufrates, os combatentes pró-Assad controlam a zona Oeste e as FDS o lado Este. As tensões entre ambos os lados no último ano levaram a que norte-americanos e russos acordassem o estabelecimento de uma via de contacto permanente nesta zona para evitar ataques involuntários entre as duas potências, tal como já aconteceu recentemente.
A guerra contra o autoproclamado califado do Daesh está praticamente terminada e vencida, apesar de os jihadistas ainda manterem alguma presença territorial na Síria, nomeadamente nesta região de Deir Ezzor. Ou seja, com a derrota do grupo jihadista, que foi a principal preocupação de todas as grandes potências envolvidas na Síria, as prioridades começam a alterar-se e centram-se agora no território deixado vago.
Actualmente, e como ficou claro nas reacções ao ataque e contra-ataque da noite de quarta-feira, Moscovo e Washington têm-se questionado mutuamente sobre o motivo de se manterem na Síria, tendo em conta a iminente derrota do Daesh – a coligação internacional foi criada para combater os jihadistas e a Rússia justificou a sua entrada no conflito ao lado de Assad com o mesmo motivo.
A verdade é que ambos por lá continuam e apoiam lados divergentes no conflito tendo também interessentes conflituantes na Síria. E, como apontam os analistas, o início desta nova fase na guerra da Síria pode colocar Washington em confronto mais directo não só com Bashar al-Assad mas também com Moscovo.