Santa Casa criticada por fechar parque infantil para ali pôr carros
Moradores do Bairro do Junqueiro não querem que parque infantil, na Parede, dê lugar a estacionamento para servir Hospital de Sant’Ana. Santa Casa da Misericórdia diz apoiará reinstalação do parque noutro local.
Um grupo de moradores do Bairro do Junqueiro, na Parede, em Cascais, lançou uma petição onde apela à Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML) e à Câmara Municipal de Cascais para a preservação e valorização do jardim e do parque de infantil do Bairro do Junqueiro, que ocupa parte dos terrenos do renovado Hospital de Sant’Ana. “Para que se conservem os espaços verdes no nosso bairro e que as políticas do betão e alcatrão não imperem e não destruam cada canto do nosso dia-a-dia”, dizem.
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Um grupo de moradores do Bairro do Junqueiro, na Parede, em Cascais, lançou uma petição onde apela à Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML) e à Câmara Municipal de Cascais para a preservação e valorização do jardim e do parque de infantil do Bairro do Junqueiro, que ocupa parte dos terrenos do renovado Hospital de Sant’Ana. “Para que se conservem os espaços verdes no nosso bairro e que as políticas do betão e alcatrão não imperem e não destruam cada canto do nosso dia-a-dia”, dizem.
A Santa Casa, assim como a câmara de Cascais e a Associação de Moradores do Bairro do Junqueiro garantem que está a ser negociado um espaço alternativo para a deslocalização do parque infantil, ainda que a associação — que nada tem a ver com esta petição — admita que a instituição pudesse “dar outro jeito à situação visto que tem muito mais terreno e não precisa forçosamente daquele”.
A SCML revelou interesse em transformar aquele espaço, de que é proprietária, num parque de estacionamento de apoio ao Hospital Ortopédico de Sant’Ana e da nova unidade hospitalar que foi inaugurada em Julho do ano passado.
Os moradores temem agora a perda daquele espaço verde, do parque com equipamentos para as crianças e do ringue desportivo, que ali servem a população há mais de 40 anos. O terreno pertence, de facto, à SCML que, em Outubro de 1975, o cedeu à Comissão de Moradores do Bairro do Junqueiro (hoje constituída como associação de moradores), por “tempo indeterminado”, para que ali fosse instalado um parque infantil.
Questionada pelo PÚBLICO, a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa explica que o parque está integrado na área afecta ao Hospital Ortopédico de Sant’Ana e que o contrato estabelece que a cedência do terreno pode cessar “a qualquer altura, atendendo às necessidades decorrentes da actividade” do hospital.
Na sequência da construção da nova unidade hospitalar, a SCML adianta, através do seu gabinete de comunicação, que “existe a necessidade de ocupação do terreno em causa”. E que projecto previsto poderá contemplar um espaço de estacionamento, para trabalhadores, doentes, visitantes e moradores, e prevê ainda dotar esta área hospitalar de condições adequadas para receber ambulâncias e viaturas que transportem pessoas com mobilidade reduzida. No entanto, nota a instituição, esse projecto será ainda “objecto de um processo de licenciamento” na câmara de Cascais.
“Lamentavelmente, verificamos que os espaços verdes se reduzem à nossa volta. As árvores vão diminuindo e a natureza escasseia, dando lugar a betão e alcatrão. Este jardim tem décadas de existência onde várias gerações brincaram, passearam ou simplesmente desfrutaram do seu pequeno espaço que tem um grande significado para todos os que visitam e vivem no Bairro do Junqueiro!”, escrevem os moradores na petição que, à data de publicação deste artigo, contava com 293 assinaturas.
Com a conclusão da nova unidade hospitalar, a SCML diz ter comunicado à Associação de Moradores do Bairro do Junqueiro, a necessidade de reaver a parcela de terreno, entretanto transformada em zona verde, e que pediu aos seus representantes “o envio do levantamento das necessidades e do programa de actividades para, em colaboração com a Câmara Municipal de Cascais, encontrar uma alternativa de espaço”.
A garantia da SCML é de que o projecto para aquele espaço, seja ele qual for, só se iniciará quando estiver aprovada pela associação de moradores “a solução para a relocalização da sua sede e parque infantil”. Que, segundo adianta a instituição, serão reinstalados numa moradia e terreno, no mesmo bairro, que será cedido pelo município, “muito próximo do terreno que ocupa actualmente e com melhores condições”.
Em resposta ao PÚBLICO, a câmara de Cascais apenas disse que se encontra “activamente à procura de uma solução para a Associação de Moradores do Bairro do Junqueiro e para a instalação dos equipamentos referidos”, sem referir contudo qual será a sua nova localização.
Contactada pelo PÚBLICO, a associação de moradores revelou ter conhecimento deste projecto da SCML, mas ressalvou não ter qualquer informação “escrita” pela Santa Casa da Misericórdia a dar conta da intenção de transformar aquele espaço num parque de estacionamento.
“A tristeza é grande e fizemos todos os esforços e mais alguns para que realmente a Santa Casa pudesse dar outro jeito à situação visto que tem muito mais terreno, não precisa forçosamente daquele terreno ali. Poderia fazer parqueamento privado mais abaixo”, considerou Maria João Moreno, presidente da assembleia geral de sócios da associação, que foi criada em 1972.
A responsável referiu ainda que a associação reuniu, a 25 de Janeiro, com a SCML, com um representante do Hospital de Sant’Ana e com o presidente da câmara de Cascais “para se arranjar uma alternativa para a associação de moradores”. “A proposta verbal é arranjarem outro sítio do bairro para nós irmos. Vamos pôr à discussão a alternativa que nos derem”, admitiu Maria João Moreno, notando que o jardim, os equipamentos do parque infantil, assim como o parque infantil, foram renovados há cerca de três meses.
Mais 60 camas para internamento
A nova unidade hospitalar do Hospital de Sant’Ana foi inaugurada em Julho do ano passado, tendo entrado em funcionamento a 19 de Janeiro. Segundo a instituição, a obra, orçada em perto de nove milhões de euros, dotou o hospital com mais 60 camas para internamento e outras especialidades, além da ortopedia, como a oftalmologia, neurocirurgia ou otorrinolaringologia, e de um novo bloco operatório.