Retrato do artista enquanto pensador

Um documentário absorvente, mas talvez demasiado denso, sobre uma figura central da arte europeia do século XX.

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Um retrato do artista enquanto pensador

Joseph Beuys (1921-1986) diz a certa altura, numa das muitas imagens de arquivo a que o cineasta Andres Veiel teve acesso, que “a arte não serve de nada se nada vier dela”. São palavras que, como muitas outras proferidas pelo multidisciplinar artista alemão falecido há 30 anos, parece falarem de maneira muito atenta aos nossos dias: a ideia da arte como uma prática aberta a todos, impulsionada pela total liberdade de pensamento; a recusa da sua mercantilização e da sua redução a puro objecto decorativo ou de posse; o seu potencial para mudar o mundo, enquanto actividade cuja liberdade inerentemente política vem fazer curto-circuito aos sistemas sociais e políticos instalados.

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Joseph Beuys (1921-1986) diz a certa altura, numa das muitas imagens de arquivo a que o cineasta Andres Veiel teve acesso, que “a arte não serve de nada se nada vier dela”. São palavras que, como muitas outras proferidas pelo multidisciplinar artista alemão falecido há 30 anos, parece falarem de maneira muito atenta aos nossos dias: a ideia da arte como uma prática aberta a todos, impulsionada pela total liberdade de pensamento; a recusa da sua mercantilização e da sua redução a puro objecto decorativo ou de posse; o seu potencial para mudar o mundo, enquanto actividade cuja liberdade inerentemente política vem fazer curto-circuito aos sistemas sociais e políticos instalados.

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Se Beuys desafiou as convenções artísticas do seu tempo, Andres Veiel (alvo de foco no Doclisboa 2017) também enriquece o formato tradicional do documentário biográfico. A partir de depoimentos de colaboradores e de um riquíssimo acervo audiovisual de obras de arte, debates, entrevistas e performances, Veiel cria uma introdução à vida e obra que é um retrato do artista enquanto pensador, colocando as suas teorias no contexto sociopolítico em que nasceram, sem perder de vista o aspecto lúdico que tantas das suas performances traziam ao de cima (“Quer fazer uma revolução sem risos?”, pergunta ele às tantas e, mais tarde, diz que “provocar traz sempre alguma coisa ao de cima”). Mas Beuys, o filme, está demasiado enredado no pensamento artístico de Beuys para conseguir atingir esse humor. A simples quantidade e densidade de ideias que passam por aqui exige uma atenção redobrada do espectador, até mesmo mais do que uma visão, para apreender por completo as forças criativas e interventivas, quase utópicas, que se jogavam na obra de Joseph Beuys e que falavam a um momento específico da história da Alemanha — mas que, hoje, parecem falar a todo o mundo.