Vhils: desencontro entre popularidade e fortuna crítica
A previsível popularidade que a exposição vai ter revela a capacidade comunicativa das obras de Vhils. Mas não a sua pertinência artística.
Não se pode senão respeitar Alexandre Farto (n. Lisboa, 1987) pela maneira excelente como, através do seu trabalho, interpela a cidade com o estabelecimento de uma relação pictórica com as relações que cada um estabelece com o espaço urbano, a arquitectura e a intensidade da vida cosmopolita. A sua estratégia criativa tem sido a de usar as grandes metrópoles como repositórios de fragmentos que recolhe, reconfigura, amplia e depois devolve.
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Não se pode senão respeitar Alexandre Farto (n. Lisboa, 1987) pela maneira excelente como, através do seu trabalho, interpela a cidade com o estabelecimento de uma relação pictórica com as relações que cada um estabelece com o espaço urbano, a arquitectura e a intensidade da vida cosmopolita. A sua estratégia criativa tem sido a de usar as grandes metrópoles como repositórios de fragmentos que recolhe, reconfigura, amplia e depois devolve.
As intervenções que faz nas empenas e fachadas de edifícios são icónicas. Através do gesto do artista, recuperam uma segunda vida. E devem ser integradas num diálogo maior que Alexandre Farto pretende desenvolver com o espaço público, em toda a sua dimensão política e social, porque é neste espaço que a vida urbana, com todas as suas assimetrias, velocidades e visualidades se dá. Não se trata da apropriação de formas, linguagens ou gestos arquitectónicos famosos, nem tão pouco de uma crítica ou de um retrato da cidade com as suas patologias contemporâneas; trata-se da reconstrução da visualidade das cidades onde Alexandre tem desenvolvido trabalhos.
Partilhando uma mesma energia com o artista inglês Banksy, com quem colaborou durantes os anos que viveu em Londres e onde estudou arte na St Martin’s School, o seu trabalho reflecte um novo cosmopolitanismo porque tanto no processo, como nos resultados, o mundo activado por estas obras é o mundo pós-1990 atravessado por enormes tensões e no qual o principal desafio é o de uma vida em comum que se mantenha plural, sem fronteiras, onde não se obliteram as diferenças, mas se partilham estéticas, políticas e ritos.
Esta exposição reflecte o conjunto de questões que Vhils tem articulado e, nesse sentido, não há qualquer novidade temática ou processual: imagens de detalhes da cidade, rostos de pessoas, que depois o artista trabalha, transforma e rearranja. Em Intrínseco, título da exposição, as imagens são transferidas para placas de PVC transparente e flexível e montadas na galeria transformando o espaço num percurso que o visitante é convidado a realizar. O jogo tem em conta a previsível movimentação do espectador, através da qual se criam diferentes pontos de vista e logo diferentes figuras. A dinâmica da exposição, declarada pelo artista, está sobretudo presente na relação entre opacidade e transparência, absorção e diluição, visualidade e ponto de cegueira, todas estas ligações conseguidas pela relação entre as manchas impressas nas telas de PVC e a grande escala de trabalho que é muito bem dominada. A exposição é visualmente eficaz e competente na maneira como convoca o mundo cosmopolita que constitui a principal fertilidade da obra desenvolvida por Alexandre Farto. Mas é previsível, sem capacidade de fazer qualquer tipo de contributo ao debate político, social, cultural e artístico onde aparentemente o artista se inscreve. A previsível popularidade que esta exposição vai ter revela a capacidade comunicativa das obras de Vhils. Mas não a sua pertinência artística tanto do ponto de vista conceptual, formal ou material. Trata-se de um desencontro entre popularidade e fortuna crítica que, de algum modo, é um dos sinais distintivos do trabalho que Alexandre Farto aka Vhils tem desenvolvido.