Esta terça-feira mudou tudo
A estreia do lançador Falcon Heavy é um momento de importância capital na exploração espacial, apenas comparável ao primeiro lançamento do Saturno V em 1967, que permitiu dois anos depois a chegada do homem à Lua. A sua entrada em operação representa a duplicação da capacidade de carga e a diminuição dos custos de transporte para o espaço por quilograma para metade, por comparação com qualquer outro lançador – o que vem acompanhado pela reutilização dos três cores do seu primeiro andar. Estas vantagens, tomadas em conjunto, vêm reforçar a posição de líder de mercado já ocupada pelo Falcon 9 (da mesma SpaceX), além de eliminarem virtualmente os nichos de mercado que ainda lhe escapam (satélites geoestacionários e satélites militares pesados, grandes observatórios astronómicos e missões planetárias para o sistema solar exterior).
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A estreia do lançador Falcon Heavy é um momento de importância capital na exploração espacial, apenas comparável ao primeiro lançamento do Saturno V em 1967, que permitiu dois anos depois a chegada do homem à Lua. A sua entrada em operação representa a duplicação da capacidade de carga e a diminuição dos custos de transporte para o espaço por quilograma para metade, por comparação com qualquer outro lançador – o que vem acompanhado pela reutilização dos três cores do seu primeiro andar. Estas vantagens, tomadas em conjunto, vêm reforçar a posição de líder de mercado já ocupada pelo Falcon 9 (da mesma SpaceX), além de eliminarem virtualmente os nichos de mercado que ainda lhe escapam (satélites geoestacionários e satélites militares pesados, grandes observatórios astronómicos e missões planetárias para o sistema solar exterior).
O avanço tecnológico actual da SpaceX face à concorrência resulta, mais do que de qualquer outro aspecto individual, da utilização de cada lançamento operacional como se de uma plataforma de testes de novas tecnologias se tratasse, com vista à aplicação incremental das lições obtidas, e sempre com o desígnio último de minimizar os custos de operação (por oposição à maximização da performance). E os resultados desta estratégia são, já hoje, impressionantes: desde 2010 – o ano da sua introdução no mercado – o Falcon 9 mais do que duplicou a sua capacidade de carga (de dez para 23 toneladas), o motor Merlin mais do que duplicou o seu impulso (de 420kN para 845kN), e o veículo é hoje 17 metros mais longo – tendo os custos operacionais ainda assim diminuído, muito por via da reutilização crescente do primeiro andar do veículo (dos 18 lançamentos de 2017 apenas quatro recorreram à “reciclagem” do primeiro andar; já em 2018 o mesmo número será atingido logo nos primeiros quatro lançamentos!).
As vantagens desta estratégia aplicar-se-ão, natural e progressivamente, ao uso do Falcon Heavy.
No campo da exploração tripulada, por sua vez, a NASA está hoje cada vez mais pressionada pelos custos de operação da Estação Espacial Internacional e de desenvolvimento de novos sistemas tripulados (em particular o lançador pesado SLS e a cápsula tripulada Orion) orientados para a exploração da Lua e de Marte, mas que representarão em 2018 próximo de metade do orçamento da agência. A isto soma-se a ausência de disponibilidade orçamental para o desenvolvimento de elementos cruciais para o sucesso do plano: módulos de aterragem na Lua, habitáculos capazes de voos de longa duração fora da magnetosfera terrestre, e sistemas de propulsão iónica que reduzam o tempo de exposição ao ambiente de radiação interplanetária.
São fragilidades significativas que dificilmente serão supridas sem uma forte redução de custos, mesmo tendo em conta as contribuições de diversos parceiros internacionais previstas actualmente no Itinerário Global de Exploração (Global Exploration Roadmap, em inglês).
Ora os custos por lançamento orbital propostos pelo Falcon Heavy equivalem a menos de 1/10 dos que se prevêem para o SLS, e este apenas estará operacional para lá de 2020. Não é difícil de adivinhar, neste contexto e para lá de uma crescente pressão para o cancelamento do SLS, a forte tentação de a Administração Trump arrepiar caminho com o Falcon Heavy, realinhando o programa global de exploração a tempo de executar missões tripuladas à Lua e de, subsequentemente, capitalizar a eventual alteração da opinião pública a seu favor para as eleições presidenciais de 2020.
Finalmente, e dado o seu impacto substancial nos custos de acesso ao espaço, é com alguma ironia que 2018 representará não o início, mas o fim de uma era para a SpaceX. A entrada em operação do Falcon Heavy, seguida da introdução da quinta versão do Falcon 9 e, lá para o final do ano, da cápsula tripulada Dragon 2, esgotarão o potencial de desenvolvimento da família actual de lançadores, após o que os Falcon ficarão quase exclusivamente a cargo da equipa gestão de operações da empresa. Por seu lado, a equipa de desenvolvimento tem vindo a ser transitada progressivamente para o projecto do veículo revolucionário BFR (Big Falcon Rocket, em inglês suave...), que a SpaceX anuncia como 100% reutilizável, e que pretende operar como se de um avião comercial se tratasse, de forma a reduzir a um centésimo os actuais custos por lançamento.
Para o director-executivo da SpaceX Elon Musk (um dos grandes empreendedores do nosso tempo), será essa a pedra angular do “edifício” que tenciona erguer com todos os recursos que seja capaz de agregar em vida: é que o seu objectivo é, nada mais nada menos, do que a colonização de Marte.