Estágios dos estudantes de Enfermagem: que realidade?
A carência de enfermeiros, explicada pela política de austeridade e asfixiamento que o Serviço Nacional de Saúde sofre, tem transformado estes jovens e futuros profissionais em contributos directos, com a desculpa do ensino
Nos tempos modernos, a verdadeira realidade sobre os estágios durante os cursos de licenciatura tem-me obrigado a reflexões sobre o verdadeiro cariz por detrás destes. Não obstante a necessidade dos estudantes — no caso dos que vou descrever, os de Enfermagem — necessitarem de um contexto prático de aprendizagem, vulgarmente designado por ensino clínico, a realidade contrasta com o que se faz sentir em certos locais, onde este ultrapassa as barreiras meramente inusitadas do foro primário que era a intervenção educacional.
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Nos tempos modernos, a verdadeira realidade sobre os estágios durante os cursos de licenciatura tem-me obrigado a reflexões sobre o verdadeiro cariz por detrás destes. Não obstante a necessidade dos estudantes — no caso dos que vou descrever, os de Enfermagem — necessitarem de um contexto prático de aprendizagem, vulgarmente designado por ensino clínico, a realidade contrasta com o que se faz sentir em certos locais, onde este ultrapassa as barreiras meramente inusitadas do foro primário que era a intervenção educacional.
Contextualizando: o aumento da procura de cuidados de saúde e a situação actual do Serviço Nacional de Saúde têm uma correspondência directa com a falta de recursos humanos nos serviços de saúde, principalmente de enfermeiros. É visível hoje em dia que os enfermeiros são explorados, não existindo uma valorização das capacidades diferenciadas destes na prática clinica e na gestão, sendo que as exigências de qualidade e segurança, no panorama actual, ficam francamente debilitadas.
Os futuros enfermeiros, estudantes, têm estágios durante o curso, diria eu, um pouco atípicos. O que se passa, então, na realidade? Que tipo de "ensino clínico" temos hoje em dia?
A carência de enfermeiros, explicada pela política de austeridade e asfixiamento que o Serviço Nacional de Saúde sofre, tem transformado estes jovens e futuros profissionais em contributos directos, com a desculpa do ensino. São, enquanto mão-de-obra, uma forma de suprimir as falhas, e, apesar de não terem os conhecimentos que um enfermeiro licenciado tem, servem muitas vezes de apoio ainda indiferenciado para o trabalho em saúde.
Não ocupam um posto de trabalho, mas acabam por fazê-lo nos períodos de estágio ou ensino clínico, não auferindo qualquer tipo de remuneração simbólica, mas servindo nada mais nada menos do que mãos de trabalho para a falta que certos enfermeiros fazem nos serviços. Já vivenciei casos em que enfermeiros orientadores de estágio se ausentam em férias ou folgas, deixando o estudante a cumprir o seu dever.
A luta a fazer não passa por acabar com estes estágios ou ensinos clínicos, pois estes são uma fase de aprendizagem indispensável, mas sim por um debate. Os estudantes de Enfermagem não ocupam as necessidades permanentes dos serviços nem devem estar a ocupar lugares que deveriam ser efectivados nas equipas. E muito menos estarem a fazer horários completos ou a "trabalhar" 35 horas semanais enquanto mão-de-obra sem qualquer retribuição.
Para ajudar, muitos dos orientadores recebem com desagrado os estudantes, pois estes são muitas vezes vistos como uma ameaça por serem aspirantes a vagas futuras, sendo que foram estes que os aceitaram, gerando uma falta de sensibilidade extrema.
Estágio tem de significar aperfeiçoamento e complementaridade da formação dada no contexto teórico, mas nunca enquanto actividade profissional dissimulada de objectivo educacional.