Papa recebeu carta de vítima que descrevia abusos por parte da Igreja chilena

Carta do sobrevivente chileno Juan Carlos Cruz terá ido entregue pela comissão consultiva relativa aos abusos sexuais na Igreja, em Roma, em 2015.

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O Papa com a Presidente do chile, Michelle Bachelet, durante a sua visita ao país em Janeiro Esteban Garay/LUSA

O Papa Francisco recebeu em 2015 uma carta de uma vítima que detalhava graficamente o abuso sexual de que tinha sido alvo e o encobrimento pelas autoridades da igreja chilena, revelou a Associated Press (AP).

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O Papa Francisco recebeu em 2015 uma carta de uma vítima que detalhava graficamente o abuso sexual de que tinha sido alvo e o encobrimento pelas autoridades da igreja chilena, revelou a Associated Press (AP).

A AP diz ter tido acesso à carta do sobrevivente chileno Juan Carlos Cruz e garante que membros da comissão consultiva relativa aos abusos sexuais na Igreja terão ido a Roma em 2015, especificamente para entregar a carta a um alto conselheiro papal, o cardeal Sean O´Malley.

Segundo a AP, Juan Carlos Cruz e membros desta comissão afirmam que O´Malley lhes assegurou ter entregue a carta ao Papa.

No final de Janeiro, o Papa Francisco decidiu enviar ao Chile um arcebispo especialista na questão dos abusos sexuais praticados por membros do clero para analisar o caso do bispo chileno Juan Barros, acusado de encobrir casos naquele país.

Juan Barros, nomeado bispo em Março de 2015 pelo Papa, foi acusado de esconder casos de abusos sexuais cometidos por Fernando Karadima quando este era pároco na igreja de El Bosque.

Segundo explicou o Vaticano no final do mês passado, a decisão de enviar um arcebispo ao Chile foi tomada por terem surgido novas informações sobre o caso, sem especificar quais, e que o arcebispo de Malta Charles Scicluna foi a pessoa escolhida para “ouvir quem manifestou a vontade de dar a conhecer elementos”.

Durante a visita de Francisco ao Chile, de 15 a 18 de Janeiro, o bispo Juan Barros esteve no centro das atenções por participar nos principais actos religiosos. No último dia da sua visita papal, na cidade de Iquique, Francisco disse que só falaria sobre o assunto no dia em que lhe trouxessem uma prova contra o bispo Barros.

Durante o seu voo de regresso a Roma, Francisco pediu desculpa às vítimas por ter usado uma expressão que considerou ter sido menos feliz ao exigir que apresentem provas de que o bispo chileno Juan Barros encobriu um sacerdote condenado por abusos sexuais.

A viagem ao Chile aconteceu numa altura em que muitos chilenos estão descontentes com a decisão do Papa, tomada em 2015, de nomear um bispo próximo do reverendo Fernando Karadima, que o Vaticano considerou culpado, em 2011, de abusar sexualmente de dezenas de menores ao longo de décadas.

Ainda durante o voo de regresso a Rosa, o Papa adiantou: "Continuamos a investigar o caso de Barros, mas ainda não há provas, e foi isso que quis dizer. Não posso condená-lo, porque não há provas, e pessoalmente estou convencido de que ele é inocente."