Alojamento é prioridade para universidades de Lisboa e Porto

Em resposta à elevada procura dos estudantes, duas universidades públicas, a de Lisboa e do Porto, projectam expansão de residências.

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Há um prédio no Campo Grande que está por conta de mais de 70 estudantes da Universidade de Lisboa (UL). Construído em meados do século passado, tem em cada andar os alunos que partilham quartos (entre dois e três), bem como as casas de banho. Há camas e secretárias para cada um dos ocupantes, todos decorados da mesma forma, com mobília já antiga mas bem conservada.

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Há um prédio no Campo Grande que está por conta de mais de 70 estudantes da Universidade de Lisboa (UL). Construído em meados do século passado, tem em cada andar os alunos que partilham quartos (entre dois e três), bem como as casas de banho. Há camas e secretárias para cada um dos ocupantes, todos decorados da mesma forma, com mobília já antiga mas bem conservada.

Em baixo, uma sala de convívio espaçosa e com luz tem televisão e cadeiras em frente dispostas em filas. “Os melhores quartos são disputados pelos nacionais e mais antigos”, comenta Lúcia Gonçalves, a governanta há 20 anos.

Além de sala de estudo, com os elementos básicos, em três dos andares há cozinhas, mais pequenas do que a do piso térreo, onde os alunos têm direito a armário e a uma parte de um dos frigoríficos. A organização de quem fica com que prateleira é feita pela comissão de residentes, à qual pertence Andreia Trindade, de Elvas, no segundo ano de mestrado de Turismo e Comunicação na Faculdade de Letras. Tem ouvido colegas queixarem-se dos preços do alojamento. “Se não tivesse conseguido arranjar lugar numa residência, não poderia estar aqui”, diz.

Neste momento o edifício tem cerca de seis estudantes estrangeiross. Vindo de Brasília, a pagar 160 euros por mês e a partilhar quarto, Guilherme, estudante de Direito, foi o único de um grupo de amigos a conseguir lugar numa residência: “Quando fui pegar a chave, o pessoal falou para eu jogar no Euromilhões, porque tive sorte.”     

Aos alunos bolseiros é cobrada uma mensalidade de 73,73 euros; a quem não é bolseiro custa 160 euros, mas pode ficar por 140 euros, consoante os rendimentos. Inclui alojamento, limpeza, água, luz, cozinha e Internet, em quartos essencialmente duplos ou triplos (há muito poucos individuais). Estes são os preços praticados nas residências do ensino superior público, que ao todo somam mais de 14.500 camas (os últimos dados disponíveis, de 2015). 

Apenas uma pequeníssima fatia dos estudantes terá capacidade financeira para ficar em residências como a Collegiate. Se o mercado privado deste tipo de alojamento cresce, o sector público tem planos para se desenvolver, já que não chega para cobrir as necessidades de todos os alunos com menos poder financeiro.

As duas maiores universidades de Lisboa e Porto fizeram do alojamento a sua prioridade. A Universidade de Lisboa (UL) diz estar numa “revolução total da política de alojamento”. A Universidade do Porto (UP) adianta que está, desde 2016, a intervir nas suas actuais nove residências para as melhorar, um investimento de quase 4 milhões de euros.

Com 1190 camas, dirigidas prioritariamente a bolseiros, a UP quer aumentar a sua capacidade para o dobro nos próximos anos. A ideia é também estabelecer parcerias com municípios da Área Metropolitana do Porto. Estão em contacto com investidores privados que estão a construir alojamentos para estudantes a pensar em parcerias, diz Manuel Barros, o director do Serviço de Acção Social. “A cidade está a sofrer uma pressão que tem inflacionado os preços e [afectado] a disponibilidade de habitação para os alunos no centro”, considera. “Não temos dúvidas de que o alojamento é um factor de atractividade das universidades”, conclui. Receberam mais de quatro mil estudantes estrangeiros este ano. 

 A UL tem actualmente 807 camas, entre alugueres de prédios e propriedades suas, e duas residências geridas pelo Instituto Superior Técnico com mais 307 camas. Como já foi anunciado, está programado disponibilizar mais de 500 camas, no pólo residencial da Ajuda (previstas já para o próximo ano lectivo) e na Av. das Forças Armadas. Em fase de projecto está a construção de um complexo atrás da Biblioteca Nacional, que poderá ter residências com até “900 camas”. No total a UL pode assim vir a ficar com uma carteira de cerca de 2500 camas.

“As residências estão todas lotadas”, diz Carlos Dá Mesquita, director dos Serviços de Acção Social da Universidade de Lisboa. “Para as mil vagas temos pedidos superiores a dois mil”, mas é difícil ter a contabilização certa sobre se esse número é superior. O bolseiro que não tem vaga recebe um complemento de alojamento de 126 euros. “Mas é muito difícil encontrar um quarto em Lisboa. Por isso estamos a aumentar a nossa capacidade de resposta”, continua.

De 8100 candidatos a bolsa, 6300 (no máximo) é que a irão ter e isto entre mais de 40 mil estudantes. O que estes dados também mostram é que o universo de quem não precisa de bolsa na UL é alto, sobretudo comparado com outras universidades públicas, observa Carlos Dá Mesquita.

Para Rita Casquilho, chefe de divisão da área de alojamento e apoio à infância da UL, “o problema do sistema são as franjas”: “Os que são apoiados por nós continuam a sê-lo; aquela franja que está no limite e não pode ser bolseira é que passa as grandes dificuldades.” Não tem direito a alojamento e quando o procura esbarra com os preços altos. Nos últimos três anos, e sobretudo no último ano, aconselham os alunos a procurar quarto em zonas fora do centro, nas linhas de transporte. “Muitos não têm opção, porque não têm possibilidade de pagar 300 euros em Lisboa.”

Porém, há universidades a estudar outros modelos, que implicam parcerias ou concessões a privados. Quase a mudar-se para o novo complexo universitário, a Nova School of Business and Economics (Nova SBE) tem cerca de três mil alunos. A Universidade Nova tem no total 450 camas, para alunos de todas as faculdades.

Está também a ser construída uma residência com capacidade para 123 quartos, mas a exploração irá ser concessionada a uma empresa austríaca, a Milestone, que ergue outro complexo com mais 300 quartos, a poucos metros dali. Isto, porque a Nova SBE não quer, “nem tem capacidade”, para gerir a residência – cuja concessão será, aliás, uma fonte de rendimentos, diz o responsável.

De resto, prevê: em Portugal “o número de residências vai ter de aumentar muito, e a tendência será pensar em residências de raiz”. Terá “enormes vantagens, porque são pessoas que vão trazer vida ao centro das cidades”.