Médicos queixam-se de falta de condições na urgência e pedem mais clínicos
Internistas e equipa fixa das urgências do Hospital de São José, em Lisboa, entregaram duas cartas à administração com queixas. Hospital afirma que tem contratado pessoal médico e adianta que vai avançar com obras de 900 mil euros para ampliação da urgência.
Os médicos do Hospital de São José, em Lisboa, enviaram duas cartas ao conselho de administração onde se queixam das condições da urgência, da falta de pessoal clínico para reforçar as equipas e de falhas do sistema informático. A administração daquele que é um dos maiores hospitais do país afirma que a falta de médicos é “uma herança da crise”, mas refere que desde 2016 tem reforçado os serviços com mais pessoal. Quanto às urgências, adianta que vão avançar com obras de ampliação do serviço que espera estarem concluídas em Maio.
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Os médicos do Hospital de São José, em Lisboa, enviaram duas cartas ao conselho de administração onde se queixam das condições da urgência, da falta de pessoal clínico para reforçar as equipas e de falhas do sistema informático. A administração daquele que é um dos maiores hospitais do país afirma que a falta de médicos é “uma herança da crise”, mas refere que desde 2016 tem reforçado os serviços com mais pessoal. Quanto às urgências, adianta que vão avançar com obras de ampliação do serviço que espera estarem concluídas em Maio.
Uma carta partiu da equipa fixa da urgência de São José — unidade que pertence ao Centro Hospitalar Lisboa Central (CHLC) —, que é formada na sua maioria por médicos de medicina interna, e foi recepcionada pela administração a 29 de Dezembro do ano passado. A outra foi feita pelos médicos de medicina interna e chegou às mãos do conselho de administração a 12 de Janeiro.
As missivas foram entregues na altura em que os hospitais começaram a sentir maior pressão, devido ao frio e à gripe. Em média, passaram pelas urgências do São José, 414 utentes por dia (de 1 a 21 de Janeiro). Mas, ao que o PÚBLICO apurou junto de várias fontes, as cartas foram escritas entre um e dois meses antes de serem entregues.
Equipa fixa "claramente subdimensionada"
A equipa fixa da urgência, que iniciou actividade em 2009, aponta “a clara subdimensão” do espaço, lembrando que este é “um local onde a sobrecarga de trabalho e a necessidade de resposta rápida” é uma constante. Os médicos salientam a “insuficiente contratação” que deixa a equipa “claramente subdimensionada para desempenhar da melhor forma” as suas funções e a existência, “diariamente”, de falhas nos sistemas, falta de computadores e de apoio técnico “em tempo útil”.
Um alerta partilhado pelos internistas, que chamam ainda a atenção para o número reduzido de médicos nas equipas de urgência de medicina interna e para o seu “grau de diferenciação cada vez menor”, que “não permite assegurar níveis de qualidade” adequadas à assistência dos doentes. O que se traduz em mais tempo de espera e mais pressão, levando-os a reclamar turnos de 12 horas de urgência.
Para estes clínicos é “imprescindível e obrigatória” a criação de um protocolo de contingência para situações de sobrelotação da urgência, para evitar casos de “manifesta insegurança”, dando o exemplo da “necessidade de receber e tratar doentes admitidos para reanimação no corredor do SO [serviço de observação]”.
Questionada pelo PÚBLICO, a presidente do conselho de administração, Ana Escoval, lembra que a falta de médicos nas urgências “não é exclusivo do São José” e é ainda “uma herança da crise”. Destaca a contratação de “mais de 15 médicos internistas” desde 2016, para as oito enfermarias dos serviços de urgência do CHLC, num universo de cerca de 300 camas. Houve ainda contratações a tempo parcial, em regime de prestação de serviços, que a administração não quantifica.
A administração aprovou, no final do mês de Dezembro, a abertura de um concurso para as obras previstas na urgência do São José. O anúncio deverá ser publicado “em breve” em Diário da República, prevendo-se que a empreitada de 360 dias comece no início de Maio, fez saber o gabinete de comunicação do CHLC. As obras, orçadas em 900 mil euros, visam a melhoria das condições da urgência e o alargamento dos serviços de psiquiatria, médico-cirúrgico, otorrinolaringologia e ortopedia, adiantou Ana Escoval.
A administradora nota ainda que, enquanto não tiver concluído o novo hospital, o que só deverá acontecer em 2022, vão “continuar a dotar as infra-estruturas”.
Modelo da equipa fixa em discussão
Outra das queixas da equipa fixa de urgência é o facto de dois dos seus membros não estarem a receber o suplemento financeiro por trabalharem apenas na urgência e estarem sujeitos a turnos de 24 horas. A equipa diz-se prejudicada em relação aos outros médicos do hospital por não receberem por formarem internos, não terem no horário tempo definido para investigação e estarem impedidos de tirar férias no Natal e Ano Novo.
A administração confirma a situação das duas internistas, justificando que estas integraram a equipa dedicada de urgência depois da entrada em vigor das “restrições orçamentais” previstas no Orçamento do Estado de 2011, que “impediram a criação de novos suplementos remuneratórios”. Em resposta, a administração reconhece ainda a “dificuldade” que os médicos desta equipa enfrentam, “dado que a actividade na urgência é menos ponderada que outras componentes na sua avaliação para a progressão na carreira”, mas Ana Escoval rejeita qualquer mudança neste modelo até que a coordenação nacional dos hospitais, que está a estudar a questão, formule novas regras.
Por sua vez, os internistas sublinham não ter competências técnicas para assumir a “responsabilidade de doentes com patologia de outras especialidades”, nomeadamente otorrinolaringologia e ortopedia, depois das regras da triagem terem mudado em Outubro. O director clínico do CHLC, Luís Nunes, rejeita que os internistas não tenham “competências para acompanhar estes doentes” e afirma que se trata apenas da adopção interna das “normas inter-hospitalares”, fazendo com que apenas as situações urgentes e emergentes transitem para as especialidades.
Ana Escoval explica que caso um doente não reúna os critérios para ser visto na especialidade, “é seguido por um internista na urgência, vai para casa com uma terapêutica e, se necessário, pode ser encaminhado para a consulta externa (…) onde recebe a avaliação do especialista”.
Às preocupações dos internistas relativamente à incapacidade frequente da neurologia para “assegurar a presença física” de um profissional na urgência, Ana Escoval responde que esta é uma das especialistas onde contrataram mais especialistas. “Temos uma equipa de prevenção para crianças e outra para adultos. É um serviço que funciona."