Lula não quer ser preso mas o sistema político gostaria de ter um candidato alternativo
Ex-Presidente viu habeas corpus rejeitado, mas continua a ser o preferido nas sondagens para as eleições de Outubro
A defesa de Lula da Silva fez um pedido de habeas corpus preventivo ao Superior Tribunal de Justiça para tentar evitar a prisão do ex-Presidente, após a confirmação e até aumento da pena pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Mas o pedido foi negado, com o argumento de que estava a ser apresentado cedo de mais: a prisão de Lula não deverá ocorrer antes de este apresentar o seu último recurso e ele ainda não o fez.
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A defesa de Lula da Silva fez um pedido de habeas corpus preventivo ao Superior Tribunal de Justiça para tentar evitar a prisão do ex-Presidente, após a confirmação e até aumento da pena pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Mas o pedido foi negado, com o argumento de que estava a ser apresentado cedo de mais: a prisão de Lula não deverá ocorrer antes de este apresentar o seu último recurso e ele ainda não o fez.
Se a defesa do ex-Presidente e de novo candidato do Partido dos Trabalhadores (PT) às eleições presidenciais de Outubro parece confusa, reflecte a confusão na política brasileira, em que se multiplicam candidatos às presidenciais e os fantasmas gémeos da corrupção e dos procuradores de Curitiba que lideram a investigação da Lava-Jato pairam sobre um sistema que, para o historiador brasileiro Daniel Aarão Reis, da Universidade Federal Fluminense, é “um cadáver, apodrecendo a céu aberto”, como disse ao El País Brasil.
A condenação, e prisão, do ex-Presidente “poderá aprofundar o cepticismo e o pessimismo quanto às possibilidades da democracia brasileira”. Os caminhos que se abrem a partir daí são negros: “Há um processo crescente de desconfiança nas instituições democráticas, estimulando tendências autoritárias e messiânicas. Se prevalecerem, e demolirem a pobre e frágil democracia brasileira, a condenação de Lula terá sido um marco importante na marcha para este despenhadeiro”, declarou ao diário espanhol.
À esquerda surgiram vários pré-candidatos, numa multidão de pequenas candidaturas que prometem dividir o eleitorado até ao nível da poeira — a união que Lula conseguiu para ser eleito e para governar está desfeita. A esquerda brasileira discute a possibilidade de um programa mínimo comum, embora recuse um candidato único. Lula, de certeza, não será jamais esse candidato único.
O líder do Movimento dos Trabalhadores sem Teto (MTST), Guilherme Boulos, é muito falado como pré-candidato do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), e é alguém considerado com boa imagem e carisma.
O PSDB (Partido da Social Democracia Brasileira), que foi a principal força da oposição na governação Lula e Dilma Rousseff, está muito enfraquecido, e foi fortemente tocado pelos escândalos de corrupção. Agora, falta-lhe um candidato convincente.
À direita — à extrema-direita — vinga a candidatura de Jair Bolsonaro, um antigo pára-quedista com ideias extremas. É precisamente o tipo de candidato que pode levar o Brasil pelo caminho autoritário contra o qual avisa o académico Daniel Aarão Reis.
Se Lula for de facto preso, a polarização da sociedade brasileira pode chegar a um ponto de verdadeira ruptura, alerta Brian Winter, editor-chefe da revista America's Quartely, em declarações ao El País. Cerca de um terço dos brasileiros diz que não votará em mais ninguém senão em Lula — e outro tanto diz que jamais votará no ex-Presidente. Mas há muitos brasileiros, sobretudo entre os mais pobres, para quem Lula foi o único político que realmente fez alguma coisa por eles, sublinha Winter.
“Se não encontram um candidato que os represente, acredito que a fé na democracia vai diminuir ainda mais. Já é a mais baixa da América Latina, segundo uma pesquisa do Latinobarômetro”, afirmou, embora não acredite na tese de que o sistema judiciário brasileiro esteja totalmente politizado, como dizem militantes do Partido dos Trabalhadores.