Porta-voz da VW é a primeira baixa dos testes com macacos e humanos
Thomas Steg acumulava o pelouro das Relações Externas com o da Sustentabilidade do fabricante de Wolfsburgo. O presidente executivo da Volkswagen promete levar o caso “até às últimas consequências”.
Começaram a rolar cabeças na indústria automóvel alemã, que está sob alta pressão por causa do uso de macacos e humanos como cobaias em testes de laboratório às emissões de gases. Na segunda-feira, os três grupos directamente atingidos – Volkswagen, BMW e Daimler (Mercedes) – apostaram em promessas de que nada voltaria a ser como dantes. Vinte e quatro horas depois, eis a primeira baixa: a Volkswagen demitiu o porta-voz, Thomas Steg.
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Começaram a rolar cabeças na indústria automóvel alemã, que está sob alta pressão por causa do uso de macacos e humanos como cobaias em testes de laboratório às emissões de gases. Na segunda-feira, os três grupos directamente atingidos – Volkswagen, BMW e Daimler (Mercedes) – apostaram em promessas de que nada voltaria a ser como dantes. Vinte e quatro horas depois, eis a primeira baixa: a Volkswagen demitiu o porta-voz, Thomas Steg.
Talvez a saída de Thomas Steg não surgisse como primeira aposta de demissão para muitos que vieram a terreiro qualificar os testes com macacos e humanos como algo “inqualificável”, “absurdo” ou “eticamente reprovável”. A começar pelo Governo de Berlim, que criticou em peso a indústria alemã (sem poupar nos adjectivos) quando o assunto assumiu contornos de escândalo público.
Angela Merkel, que só se fez ouvir através do seu porta-voz, e todos os ministros – federais e regionais, do Ambiente à Economia – que antes ou depois da chanceler se juntaram ao coro de críticas, talvez apostassem em demissões em perfis mais técnicos ou de gestão. Mas não. A fava saiu ao porta-voz da marca sediada em Wolfsburgo, uma decisão que parece pouco óbvia, mas que se explica sobretudo pelo facto de Thomas Steg acumular o pelouro das Relações Externas com o da Sustentabilidade.
Além disso, exerceu funções semelhantes em governos de Angela Merkel (CDU, conservadores) e Gerhard Schröder (SPD, sociais-democratas). Os mais cínicos entendem, por isso, que a demissão de Steg serve mais a classe política – cujas relações com a importante indústria automóvel alemã tem sido questionada por mais vozes nas últimas horas – do que a prestação de contas ao mercado. Os mais pacientes olham de forma mais prudente para esta decisão, encarando-a como o início de um processo que vai fazer rolar mais cabeças.
“Métodos errados, antiéticos e repugnantes”
A indignação de consumidores e políticos na Alemanha apanhou o presidente executivo (CEO) da VW, Matthias Müller, em Bruxelas. Em vez de falar dos planos da empresa para 2018, Müller pediu desculpa por testes “inaceitáveis” com macacos, levados a cabo nos EUA, por um instituto fundado e financiado por VW, BMW e Daimler, o EUGT. Prometeu levar o caso “até às últimas consequências”, relata a edição online da revista Spiegel.
“Lamento que a Volkswagen, como um dos financiadores do EUGT, esteja envolvida nestes ensaios. Há coisas que simplesmente não se devem fazer”, declarou Müller. “Os métodos da EUGT nos EUA eram errados, foram antiéticos e repugnantes”, rematou.
Daimler, BMW e VW já tinham apresentado desculpas no início da semana, assim que as notícias dos testes com macacos, revelados pelo New York Times, atravessaram o Atlântico. Tal como as marcas, outros representantes do sector, como o presidente da associação da indústria automóvel alemã (DVA, na sigla original), Matthias Wissmann, tentaram demarcar-se dos ensaios com animais e humanos. Wissman está de saída da presidência da DVA – será substituído a 1 de Março pelo ex-líder da Ford na Alemanha, Bernhard Mattes – e é um exemplo das relações próximas entre poder político e indústria de carros naquele país, tendo sido ministro federal de diversas pastas pela CDU, entre 1993 e 1998.
No parlamento alemão, a bancada do partido ecologista Os Verdes pediu o agendamento deste tema para discussão. E questionou o executivo de Merkel sobre “se tinha conhecimento dos métodos da indústria automóvel e se eventualmente houve algum financiamento público”. Para adensar as dúvidas sobre as implicações políticas do caso, o diário Handelsblatt noticiava na segunda-feira que “estes ensaios eram do conhecimento de políticos desde 2016”, altura em que um conhecido especialista em toxicologia, Helmut Grein, revelou essas informações numa audição cuja acta está disponível no site do parlamento alemão, o Bundestag. “Nenhum dos políticos que foram informados tomou qualquer iniciativa”, sublinha o mesmo jornal.
De acordo com o diário germânico de maior circulação, o tablóide Bild, para esta terça-feira estava marcado para Bruxelas um encontro do ministro alemão da tutela, Christian Schmidt, com homólogos europeus, havendo a expectativa de que o tema dos ensaios pudesse vir a ser abordado.