Renzi cria nova fractura no PD ao encher as listas eleitorais de aliados

Antigo primeiro-ministro acusado de estar a usar as legislativas de Março para afastar a oposição interna.

Foto
Matteo Renzi Remo Casilli/Reuters

O ex-primeiro-ministro italiano Matteo Renzi abriu a polémica no seu Partido Democrático (centro-esquerda) este fim-de-semana, ao agrupar nas listas eleitorais os seus aliados e fechando a porta aos dissidentes.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

O ex-primeiro-ministro italiano Matteo Renzi abriu a polémica no seu Partido Democrático (centro-esquerda) este fim-de-semana, ao agrupar nas listas eleitorais os seus aliados e fechando a porta aos dissidentes.

O PD, que está no governo, deverá sair do poder após as eleições de 4 de Março uma vez que o bloco de centro-direita impulsionado por Silvio Berlusconi deverá conseguir eleger a maior parte dos deputados, ainda que as sondagens digam que não conseguirá uma maioria absoluta.

Os partidos têm até segunda-feira para apresentar as listas de candidatos e em todas as formações há fricções devido aos escolhidos e excluídos. Porém, no PD a crise é maior com Renzi a ser acusado de aproveitar as legislativas para neutralizar os críticos. 

O apoio ao PD desceu nos últimos dois anos, devido ao orçamento de austeridade da terceira economia da zona euro e ao estilo abrasivo da liderança de Renzi. 

Matteo Renzi demitiu-se do cargo de primeiro-ministro em 2016, depois de ter perdido o referendo sobre a reforma constitucional; sobreviveu depois a uma guerra interna pela liderança. Muitos dos seus opositores descobriram este domingo que tinham sido excluídos das listas de candidados ao Parlamento.

"Isto é um golpe de morte para os valores do partido", disse Beppe Lumia, um dos excluidos. 

Renzi enfrentava uma tarefa difícil. O PD tem hoje 300 lugares no Parlamento mas as sondagens indicam que depois de 4 de Março terá entre 130 e 170. O que significa que os actuais deputados estavam numa luta renhida para assegurar um lugar nas listas que lhes garantisse que mantinham o lugar.

"Tem sido uma das experiência mais devastadora da minh avida", disse Renzi depois de passar horas em frente de uma folha de excel a escolher quem retirar das listas.

O ministro da Indústria, Carlo Calenda, que não é membro do partido mas é um próximo de Renzi, questionou a selecção através do Twitter: "Qual é o objectivo de não escolher gente séria e bem preparada para lutar nas batalhas importantes que se seguem?".

O PD sofreu um cisma em 2016, com um grupo de notáveis da ala esquerda do partido, incluindo o antigo primeiro-ministro Massimo D'Alema, a sair e a acusar Renzi de estar a arrastar o partido para a direita do espectro político.

Com um número considerável de veteranos da ala direita nas listas, a acusações voltaram a fazer-se ouvir, chegando alguns críticos a acusar Renzi de estar a preparar o partido para um pacto com Berlusconi no caso de não haver uma maioria no Parlamento.

Renzi já excluiu essa possibilidade e pediu calma. Disse que o PD ainda pode arrancar uma vitória nas eleições, apesar da erosão do apoio da opinião pública.

"Não subestimem o PD. Estamos convencidos de que temos a melhor lista para conseguir uma vitória", disse.