Gramax Capital, um historial de insolvências
Os três pedidos de insolvência foram entregues cerca de um ano depois de as empresas, sediadas em França, Alemanha e Portugal, terem sido adquiridas por subsidiárias da Gramax Capital. Actualmente, a sociedade de investimento suíço-alemã deterá apenas uma fábrica, comprada pela participada portuguesa dois meses antes de pedir insolvência.
A 18 de Outubro do ano passado, o tribunal comercial de Rennes aprovou o “plano de transferência” da Huit, fábrica francesa de roupa interior e de fatos de banho, “em benefício da Têxtil Gramax Internacional (TGI)”, sediada em Lisboa. A empresa francesa, fundada em 1968, encontrava-se em processo de insolvência desde Maio, entregue pelo grupo Trendy Capital, que a tinha comprado no ano anterior. Era o terceiro proprietário da fábrica em menos de dez anos.
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A 18 de Outubro do ano passado, o tribunal comercial de Rennes aprovou o “plano de transferência” da Huit, fábrica francesa de roupa interior e de fatos de banho, “em benefício da Têxtil Gramax Internacional (TGI)”, sediada em Lisboa. A empresa francesa, fundada em 1968, encontrava-se em processo de insolvência desde Maio, entregue pelo grupo Trendy Capital, que a tinha comprado no ano anterior. Era o terceiro proprietário da fábrica em menos de dez anos.
Na altura da aquisição da Huit pela TGI, o novo director comercial nomeado pela Gramax Capital, sociedade de investimento suíço-alemã detentora da subsidiária portuguesa, afirmava que a unidade francesa passava a beneficiar “não só de apoio financeiro como de capacidade de produção”. Entre os planos, estava uma sinergia com a fábrica de Sacavém. “Já estamos a trabalhar no [catálogo] de 2018-2019, uma temporada que marca um novo começo para a Huit, com o relançamento da produção em Portugal”, afirmava Thierry Mercier. O objectivo seria transferir gradualmente para Sacavém parte da produção até então entregue a um fabricante na Tunísia.
Em Novembro, a administração da empresa em Portugal comunicava aos trabalhadores a intenção de iniciar um processo de reestruturação, que previa o despedimento de 150 pessoas. Pouco depois, o plano mudava. A 13 de Dezembro, a Têxtil Gramax Internacional entregava o processo de insolvência no tribunal de Loures. A insolvência foi decretada esta segunda-feira pelo tribunal. A partir desta data, correm 30 dias para a reclamação de créditos em Portugal, que pode ser feita pelos trabalhadores, fornecedores, Estado ou outra entidade envolvida. Os 463 trabalhadores da antiga Triumph podem agora aceder ao subsídio de desemprego e ao fundo de garantia social, enquanto aguardam o pagamento de salários em atraso e das indemnizações a que terão direito. O P2 tentou contactar os responsáveis pela sociedade de investimento Gramax Capital, mas não obteve qualquer resposta até ao fecho da edição deste caderno.
Este é o terceiro processo de insolvência iniciado por subsidiárias da Gramax em 14 meses. O primeiro foi apresentado pela Darbo SAS, em Outubro de 2016. A fábrica de painéis de partículas de madeira, com sede no Sul de França, tinha sido adquirida à Sonae Indústria (do grupo que detém o PÚBLICO) em Julho de 2015. Cinco meses depois, a Gramax anunciava um plano de investimento a dois anos, prometendo injectar 11,4 milhões de euros na empresa até ao final de 2017.
Há um ano, o tribunal de Dax pronunciou-se a favor da comissão dos antigos trabalhadores da fábrica, que exigiam às duas empresas a revelação do contrato de aquisição da empresa, entre outros documentos, de forma a utilizá-lo como prova de que a venda teria sido alegadamente fraudulenta. Parte dos documentos foi entretanto entregues pelas duas empresas, mas o processo ainda se encontrará em tribunal. Quando encerrou, a Darbo empregava cerca de 130 trabalhadores.
Um mês antes de ter sido pedida a insolvência da TGI em Portugal, outra subsidiária da Gramax Capital iniciava um processo semelhante na Alemanha. A CS Schmalmöbel, fábrica de móveis de montagem fácil, tinha sido adquirida ao grupo alemão Nolte em Julho de 2016. Tal como a Sonae Indústria, o grupo alemão especializado no fabrico de mobiliário justificou a venda como uma necessidade de desinvestir em negócios que deixaram de fazer parte da estratégia de crescimento da empresa. De acordo com o jornal regional Rheinpfalz, o administrador da insolvência decretou entretanto a reabertura da fábrica, que voltou a produzir. Emprega 417 pessoas. No final de Novembro, o administrador do processo anunciou estar à procura de um investidor.
A Gramax Capital foi fundada em 2011 por Alexander Schwarz e Achim Pfeffer, com escritórios na Suíça e na Alemanha. Apresenta-se como uma “sociedade de investimento independente, focada em pequenas e médias empresas sediadas na Europa”, que estejam a passar por “um período de transformação” ou a enfrentar “situações especiais” e que tenham “potencial para crescer, reestruturar ou optimizar”. Entre as “situações de investimento” que enunciam no site da sociedade, estão empresas “em risco de insolvência” e filiais que “não podem ser mantidas sob a actual estrutura do grupo [empresa-mãe] por não se ajustarem estrategicamente ou por falta de desempenho, de capacidade de gestão e/ou de recursos financeiros”. De acordo com a informação disponibilizada na página do fundo de investimento, esta foi a situação — denominada carve-out — em todas as aquisições feitas até ao momento.
Depois da venda da italiana Fucine Film Solutions ao grupo de trabalhadores responsáveis até então pela administração da fábrica, em Maio de 2017, e dos dois processos de insolvência, a Huit será a única empresa detida actualmente pela Gramax Capital.