Construtores alemães financiaram testes de emissões com macacos
Um novo capítulo do escândalo de manipulação das emissões poluentes na indústria automóvel implica três fabricantes alemães em testes com animais.
A Volkswagen, a Daimler (que detém a Mercedes-Benz) e a BMW financiaram um estudo em que macacos foram submetidos a fumos tóxicos emitidos por motores a diesel, noticiou esta semana o New York Times, num artigo que reabre a polémica sobre a fraude relativa à manipulação dos valores das emissões de gases poluentes que afectou milhões de veículos daqueles grupos germânicos e de outras marcas europeias. No sábado, os três construtores automóveis condenaram publicamente a realização do estudo em causa, que foi conduzido nos Estados Unidos a pedido de um centro de investigação europeu financiado pelas referidas empresas alemãs.
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A Volkswagen, a Daimler (que detém a Mercedes-Benz) e a BMW financiaram um estudo em que macacos foram submetidos a fumos tóxicos emitidos por motores a diesel, noticiou esta semana o New York Times, num artigo que reabre a polémica sobre a fraude relativa à manipulação dos valores das emissões de gases poluentes que afectou milhões de veículos daqueles grupos germânicos e de outras marcas europeias. No sábado, os três construtores automóveis condenaram publicamente a realização do estudo em causa, que foi conduzido nos Estados Unidos a pedido de um centro de investigação europeu financiado pelas referidas empresas alemãs.
De acordo com o New York Times, a experiência num laboratório do Instituto Lovelace de Pesquisa Respiratória, em Albuquerque, estado norte-americano do Novo México, foi encomendada pelo Grupo Europeu de Pesquisa Ambiental e de Saúde no Sector dos Transportes (EUGT, na sigla original alemã), um organismo inteiramente financiado pela Volkswagen, a Daimler e a BMW, que entretanto encerrou perante críticas e dúvidas relativas à sua actividade.
A experiência suportaria um estudo cujo objectivo seria apontar que os motores diesel não trariam perigos para a saúde pública. Noutros trabalhos, o mesmo organismo financiado pela indústria automóvel alemã contestou as conclusões da Organização Mundial de Saúde, que em 2012 considerou que os fumos dos combustíveis fósseis são cancerígenos, e tentou lançar dúvidas sobre se a exclusão de automóveis mais antigos dos centros urbanos reduziria a poluição.
Segundo um relatório do Parlamento Europeu, só em 2012 morreram cerca de 72 mil pessoas na Europa devido à poluição provocada por dióxido de azoto, que tem sobretudo origem em veículos com motor a diesel.
Os testes em animais datam de 2014. Dez macacos foram colocados numa sala hermeticamente fechada, onde eram mostrados desenhos animados para distrair as cobaias, enquanto inalavam gases de escape de um Volkswagen Beetle com motor a diesel e de uma pick-up Ford F-250. O New York Times sublinha que o Volkswagen Beetle utilizado, um modelo de 2013, era um dos veículos cujo motor tinha sido manipulado de forma a que os níveis de poluição registados no laboratório fossem inferiores aos reais.
A experiência laboratorial foi referida pela primeira vez em 2017, no âmbito de um processo que decorre em tribunal nos EUA e em que proprietários de viaturas Volkswagen lutam por uma indemnização da construtora automóvel germânica, que acusam de defraudar os consumidores. O teste é igualmente referido num episódio de uma nova série documental da Netflix, Dirty Money, segundo refere o Financial Times.
Entretanto, a notícia gerou protestos por parte de organizações de defesa dos direitos dos animais como a PETA.
A agência Reuters refere que não é claro se a Volkswagen, a Daimler e a BMW teriam conhecimento de que foram utilizados macacos na experiência em Albuquerque. No entanto, o New York Times indica que engenheiros da Volkswagen terão estado no Novo México a preparar o teste.
No sábado, os três construtores alemães condenaram publicamente o uso de animais neste tipo de testes.
“O grupo Volkswagen distancia-se de forma clara de todas as formas de crueldade animal. Os testes feitos em animais contradizem os nossos próprios princípios éticos”, disse a Volkswagen, em comunicado.
“O grupo BMW não influenciou de modo algum o propósito ou a metodologia destes estudos levados a cabo pelo EUGT”, disse por sua vez a BMW, citada pela Reuters, sublinhando que não conduz testes em animais e que não teve qualquer relação directa com a investigação.
Também a Daimler considerou que os testes em animais são “repugnantes”, dizendo distanciar-se dos estudos e do EUGT, declarando ainda, no Twitter, que foi aberta uma investigação interna ao caso. “A Daimler não tolera ou apoia qualquer tratamento não ético de animais”, sublinha.