Um diálogo entre o existente e a actualidade
Publicamos, mensalmente, às sextas, um projecto de arquitectura e de decoração de interiores com exemplos de como aproveitar da melhor forma o pouco espaço disponível numa habitação. Bem-vindos às Casas XS. Uma curadoria do blogue Alexandra Matos Design
Este mês partilho convosco a reabilitação de edifício localizado na Foz Velha do Porto, onde se fez a reconversão da totalidade do espaço em apartamentos para alojamento local, com tipologias T0, T1, T2.
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Este mês partilho convosco a reabilitação de edifício localizado na Foz Velha do Porto, onde se fez a reconversão da totalidade do espaço em apartamentos para alojamento local, com tipologias T0, T1, T2.
“A planta inferior do edifício terá servido em tempos para as lojas dos animais, provavelmente cavalos ou jumentos, com acesso pelo largo de Montebelo, as quais terão sido convertidas no século XX numa padaria e que nós agora convertemos num apartamento T1, ao nível da rua, mantendo os 45 metros quadrados originais”, explica Francisco Adão da Fonseca, da oficina SKREI.
“O piso superior do edifício terá sido sempre utilizado para habitação, apresentando portas interiores com bandeiras envidraçadas até ao tecto e uma cercadura de janelas exteriores igualmente altas, com fachadas voltadas para os quatro quadrantes, permitindo a entrada de luz em profundidade e abrindo vistas sobre as copas das árvores do jardim do Passeio Alegre e o cabedelo do Rio Douro.” Neste piso manteve-se o uso original, como habitação: “O piso intermédio foi convertido em apartamento. Trata-se de um apartamento com espaços caracterizados pela ligação ao jardim, numa lógica de sucessivos acrescentos ao edifício principal, em diferentes patamares, com áreas apertadas, passagens pequenas, um degrau aqui outro ali, nichos nas paredes. Tudo isto em 50 metros quadrados que descem direcção a sul, num compromisso entre a rua, o jardim e o edifício principal.”
Tal como manda a lógica construtiva portuense, “Montebelo trata-se de um edifício em alvenaria de granito, vigas em castanho, paredes em tabique preenchidas com saibro, janelas e portas bem guarnecidas em madeira, com ombreiras possantes e rodapés de duas alturas, sendo que todas as madeiras terão sido esmaltadas num amarelo pálido próprio do óxido de ferro que se usou no norte do país no início do século passado". Quando esse material foi removido, tiveram de empreender "uma profusão de cuidados de manutenção, remendos de soalhos, improvisos de ferragens, reaproveitamento de madeiras, enriquecido por uma riqueza de opções de acabamento, desde mosaicos hidráulicos de variados matizes, papéis de parede em diversos temas, vidros martelados". "Tudo isto deixando a descoberto a arquitectura popular ‘pobre’, que os livros e o património cultural não se interessam por registar, do inicio do século passado, onde encontrámos um mundo por explorar e descobrir”, reforça Francisco Adão da Fonseca.
O edifício foi sujeito a uma delicada operação de reabilitação, “onde o espírito da habitação popular portuense do século passado foi incorporado no desenvolvimento e modernização das técnicas construtivas já existentes no edifício”, ou seja, o objectivo foi “reter das tecnologias antigas tudo aquilo que representa uma mais-valia no contexto actual, investigando e potencializando esses aspectos de forma que a construção vernacular torna-se inovadora e eficaz”.
Este projecto destaca-se pelo uso de “materiais e lógicas construtivas que estão praticamente extintas e que ganham nos dias de hoje um novo sentido, tornando-se patente no uso de elementos vegetais — vime, linho, madeiras — assim como no uso da argila e saibros locais, óleos, cera de abelha, em conjunto com toda a parafernália da tecnologia contemporânea de comunicação, energia, climatização, entre outros”.
Dicas para espaços pequenos
“Os espaços pequenos estão mais próximos da alfaiataria do que da arquitectura. Devem ser vestidos com materiais macios, madeiras, tadelakt, tecidos, e deve-se aceitar que o espaço é pequeno: não tentar fazê-lo maior pintando-o de branco, o que só vai fazer com que se torne mais frio. É de evitar luz artificial no tecto, para além de ofuscar as pessoas vai fazer com que o tecto fique mais baixo; já a luz baixa e amarela, tipicamente de abat-jours bem posicionados e distribuídos por vários pontos, é muito mais confortável e torna o espaço mais amplo.”
Soluções low cost
Primeiro: dar preferência a móveis em segunda mão em madeira em vez de IKEA — são normalmente mais baratos, pequenos, e agradáveis. Segundo: os elementos vegetais como a palhinha, madeira crua, vime, cestaria, são leves e pouco intrusivos. Terceiro: não diferenciar a cor.