Caciques: a décima praga da democracia

Hoje, a arte da cacicagem é usada, sobretudo, para tentar higienizar os partidos das vozes próprias, das vozes que não existem apenas como ecos de outrem

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Se no passado assistíamos a uma subserviência de certos "moços de recados" dos partidos a uma elite mais rica, culta e, portanto, poderosa e influente, hoje, em pleno século XXI, essa mesma subserviência corrosiva e perigosa continua a estar presente. Apenas a elite mudou.

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Se no passado assistíamos a uma subserviência de certos "moços de recados" dos partidos a uma elite mais rica, culta e, portanto, poderosa e influente, hoje, em pleno século XXI, essa mesma subserviência corrosiva e perigosa continua a estar presente. Apenas a elite mudou.

 

Os caciques (líderes políticos cuja denominação tem origem nos ameríndios) continuam a demonstrar a rédea curta com que controlam as suas tribos de galopins amestrados. Estes senhores continuam a administrar os seus feudos — que é como quem diz os "bancos de votos" — e a forma de "fazer" política. 

 

Estas úlceras da democracia portuguesa jogam os seus peões num xadrez de permutas de votos, cargos, empregos e tudo mais que possa ser negociado. Mas se no passado alguns destes profissionais do poder usavam a formação académica que possuíam para monopolizar e assustar os seus serviçais, nos dias que correm há uma inversão.

 

Hoje, a arte da cacicagem é usada, sobretudo, para tentar higienizar os partidos das vozes próprias, das vozes que não existem apenas como ecos de outrem. Para tentar calar as vozes que se opõem ao estado a que os partidos chegaram. Para tentar calar os que, ao contrário de si, carregam sabedoria nas palavras e ética e trabalho nos actos.

 

Estes xerifes contemporâneos são uma das maiores ameaças à democracia. Na mira do seu fogo cruzado estão os valores ideológicos e éticos dos partidos, as juventudes partidárias e o próprio eleitorado. Surgem com o desgaste dos partidos e corroem tudo o que aparece pela frente.

 

A única hipótese para salvar os partidos desta mancha que se alastra de dia para dia é tentar garantir que as juventudes, sejam partidárias ou não, permaneçam imaculadas. Os partidos devem ser o exemplo, enquanto grandes instituições políticas, para a nova geração de eleitores. Para a nova geração de pensantes. Os partidos devem ser exemplos de luta contra estes sindicatos de voto, estes lobbies e estes "senhores" que fragilizam os regimes democráticos.

 

Se não agirem a tempo, as instituições partidárias correm o risco de matarem as hipóteses com os seus "primogénitos". E não, não me refiro aos seus militantes, mas sim a todos aqueles que, livres, poderão reconstruir e renovar o que o caciquismo foi ceifando.