André Gonçalves numa viagem contemplativa sem fim
Ao mesmo tempo que se dedica a conceber sintetizadores para nomes como os Depeche Mode, o músico André Gonçalves cria apps em forma de Música Eterna, que expõe em palcos como o Teatro Maria Matos, esta terça-feira.
Em 2015 o músico, artista e criador de instrumentos André Gonçalves resolveu lançar não um CD, um disco em vinil ou uma cassete, mas uma aplicação (app). Deu-lhe o nome de Música Eterna (pode ser adquirida aqui), porque a música é sempre diferente cada vez que é experienciada pelo ouvinte. É uma edição sem duração e formato fixo, com a música a ser reorganizada de forma diferente cada vez que é ouvida. É um registo musical dentro de uma aplicação para iOS que funciona apenas em iPhone, iPad ou iPod, recorrendo a uma partitura que joga com múltiplos blocos sonoros.
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Em 2015 o músico, artista e criador de instrumentos André Gonçalves resolveu lançar não um CD, um disco em vinil ou uma cassete, mas uma aplicação (app). Deu-lhe o nome de Música Eterna (pode ser adquirida aqui), porque a música é sempre diferente cada vez que é experienciada pelo ouvinte. É uma edição sem duração e formato fixo, com a música a ser reorganizada de forma diferente cada vez que é ouvida. É um registo musical dentro de uma aplicação para iOS que funciona apenas em iPhone, iPad ou iPod, recorrendo a uma partitura que joga com múltiplos blocos sonoros.
“A criação de uma app foi uma opção desde o início”, esclarece André Gonçalves. “Os registos discográficos editados em formatos físicos fixos iriam restringir a peça a algo que seria sempre igual e esse não era o princípio norteador do trabalho. A app acaba por se tornar na orquestra que toca aquela peça vezes sem conta, com princípios da aleatoriedade diferentes de cada vez que é tocada. Isso nunca seria possível num CD.”
É música contemplativa, uma viagem pelo infinito, que nos faz perder no tempo e no espaço, aquela que tem para propor. Uma das apresentações ao vivo aconteceu precisamente no Teatro Maria Matos de Lisboa, em 2016, o mesmo local onde esta terça-feira decorre outra apresentação do mesmo registo. “Mas será muito diferente”, garante-nos André Gonçalves, “porque se é verdade que os princípios e as regras que norteiam a criação são praticamente iguais, os sons, as melodias e as direcções serão totalmente outras.” O que será idêntico é a organização do espaço, com o público a ser convidado a invadir o palco, de preferência deitando-se para melhor se deixar submergir pela música e imagens.
Na primeira versão da criação da peça participaram o dinamarquês Casper Clausen, cantor dos Efterklang e Liima e o americano Alex Zhang Hungtai (Dirty Beaches) em saxofone e piano. Na nova versão voltou a participar Casper Clausen, actualmente a residir em Lisboa, e a espanhola – também a viver em Portugal – Angelica Salvi em harpa. Desta feita haverá também uma projecção vídeo que, de alguma forma, potenciará a criação de um ambiente cósmico. “A música é a base da atmosfera, não sou performer, por isso gosto de ter um elemento extra que crie sinergia com o som para tornar a coisa maior e neste caso vai ser a projecção vídeo”, esclarece.
600 linhas musicais
Já se percebeu. Não será, claro, uma apresentação clássica. Haverá três sistemas de som independentes e uma condução subtil do seu autor, numa peça que quando exposta ao vivo apresenta algumas complexidades. “São cerca de 600 pequenas linhas musicais que são tocadas consoante certas regras, que incutem alguma aleatoriedade no processo de as tocar”, diz André Gonçalves, “e depois existem condicionantes de tempo. Os músicos sabem que têm de ir avançando no tempo e isso condiciona que linhas melódicas é que poderão vir a tocar.”
Ao longo dos anos André Gonçalves tem operado em diversas áreas artísticas, da música às artes plásticas, do vídeo ao design, passando pela instalação, contando no seu currículo com inúmeras exposições e festivais em mais de 20 países por todo o mundo. Nos últimos anos tem investido menos no campo da arte contemporânea, segundo ele por “saturação”. O seu trabalho musical, a solo ou no âmbito de colectivos, está documentado em mais de 15 edições em editoras portuguesas e internacionais – o último registo, de 2016, foi lançado na editora Shhpuma e intitula-se Currents & Riptides.
Nos últimos anos o que o tem preenchido de forma mais sistemática é a sua empresa. É o criador da marca de sintetizadores modulares ADDAC System, uma das cinco do género mais reconhecidas globalmente. Da sua carteira de clientes, ao longo dos anos, têm feito parte nomes conhecidos do universo da música como os Depeche Mode, David Sylvian, Lloyd Cole ou Amon Tobin. Como muitas outras coisas tudo surgiu um pouco por acaso. Um dia dispôs-se a criar um sintetizador modelar e quando o terminou publicitou a criação na Internet com um vídeo. “Fui dormir e no dia a seguir tinha 70 encomendas”, afirma, iniciando aí a empresa. Esta terça-feira, no Teatro Maria Matos, não irá estar em palco com um desses instrumentos, mas espera-se uma expressão sónica feita de suaves e progressivos movimentos sonoros, com vozes processadas, mistura de elementos orgânicos e sintéticos, num ecossistema sonoro sem fim.