A linha virtual do fora de jogo
O debate sobre se um jogador está 10 centímetros em fora de jogo ou não, foi uma das questões que a implementação do projecto do videoárbitro (VAR) acentuou no nosso futebol.
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O debate sobre se um jogador está 10 centímetros em fora de jogo ou não, foi uma das questões que a implementação do projecto do videoárbitro (VAR) acentuou no nosso futebol.
Todos os fins-de-semana vemos acesas discussões por causa de um golo que foi precedido por uma situação em que uns argumentam que o jogador estava em linha com o penúltimo adversário e, outros, defendem que o jogador estava adiantado. A segunda fase da discussão já envolve a tecnologia ou a falta dela: “A linha virtual está mal colocada!”; “Porque é que não há linha virtual neste lance?”; “O VAR não tem acesso às linhas virtuais da transmissão televisiva! Porquê?!”.
As linhas virtuais são, assim, uma das figuras do futebol português actual. E, se o são, também eu quero falar sobre elas.
Quem coloca a linha?
As linhas virtuais que vemos nas transmissões são colocadas pelos técnicos da empresa que em Portugal está responsável pela captação das imagens dos jogos. SportTv e BenficaTv, canais que transmitem jogos da Liga NOS, utilizam o mesmo fornecedor.
Importa, no entanto, esclarecer que a opção de colocar ou não no ar a imagem com essa linha, já é de responsabilidade do canal que transmite o jogo. É uma opção editorial.
Como colocar a linha?
Existe uma diferença importante relativamente à posição em que uma linha virtual é colocada e à forma como um fora de jogo deve ser analisado.
As linhas devem ser sempre colocadas nos pés do penúltimo defensor (normalmente o guarda-redes é o último), mais concretamente, no pé que esteja mais próximo da linha de baliza. Mesmo que o defensor tenha o tronco mais perto da linha de baliza, será no pé que a linha é colocada pois, estando o pé no chão ou perto deste, é a forma que garante não haver uma colocação errada da linha. Já para a análise ao fora de jogo, importa olhar e considerar a parte do corpo, com excepção dos braços e mãos, que está mais próxima da linha de baliza.
Havendo esta diferença, entre a possível colocação da linha virtual e a análise da parte do corpo a considerar para o fora de jogo, é importante estarmos cientes de que as linhas virtuais servem como ajuda à tomada de decisão e não como carimbo final. Muitas vezes um atacante aparece ligeiramente adiantado relativamente à linha (colocada no pé do defesa) e poderá estar a ser colocado em jogo pela cabeça desse mesmo defesa que está inclinado na direcção da sua baliza.
Em que momento colocar a linha?
Alguns centésimos de segundo são o suficiente para um jogador, em corrida, avançar alguns centímetros no terreno de jogo. O acto de tocar/chutar a bola para um colega também demora apenas alguns centésimos de segundo. Pela importância que a análise, ao centímetro, dos foras de jogo tem vindo a tomar, o International Board veio esclarecer, no passado mês de Setembro, que o momento de avaliação do fora de jogo é aquele em que o pé (ou outra parte do corpo que possa contactar legalmente com a bola) inicia o contacto com a mesma para efectuar o passe. Assim, a colocação das linhas virtuais deve, também, acontecer no momento em que o pé do colega que passa a bola começa a contactar com esta e não quando a bola começa a sair do pé. São dois ou três frames de diferença que, como já temos visto esta época, podem fazer toda a diferença.
E o VAR, quanto terá linha virtual para ajudar à decisão?
Existem ainda muitas dúvidas sobre a fiabilidade da colocação de linhas virtuais. As medidas exactas dos campos e o tipo de lentes usadas para filmar os jogos são duas variáveis que podem fazer toda a diferença na precisão e fiabilidade da colocação das linhas virtuais.
A FIFA convidou, em Outubro passado, algumas empresas para, num jogo da Bundesliga, demonstrarem e testarem as suas diferentes tecnologias de aplicação das linhas virtuais. Estes testes demonstraram que existem várias empresas e tecnologias capazes de, com um elevado grau de precisão, aplicar estas linhas de diferentes ângulos. Com estes resultados positivos, ficou decidido que se iriam fazer mais testes, e de forma mais ampla (em mais jogos) para validar e certificar estas tecnologias. É seguro dizer que, em breve, o VAR poderá apoiar-se nas linhas virtuais para ajudar a verdade desportiva.