Macron sobre Trump: "Ele não é o clássico político"

Presidente francês dá entrevista em que também admite como viável um acordo feito "à medida" para o Reino Unido ao abrigo das negociações do "Brexit", desde que as condições do mercado único sejam aceites.

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LUSA/IAN LANGSDON

Numa entrevista com Andrew Marr da BBC, divulgada neste domingo, o Presidente francês Emmanuel Macron foi questionado sobre o que pensou e sentiu em relação à palavra que o seu homólogo norte-americano, Donald Trump, aplicou em alusão a países como o Haiti ou certos países africanos, classificados como “shitholes” (qualquer coisa entre “latrinas” e “merdosos”). “Partilhou a indignação desses países?”, pergunta o entrevistador, sublinhando que “há muitos países francófonos” no continente africano . O Presidente francês hesita por uns momentos e depois declara: “Com certeza.”

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Numa entrevista com Andrew Marr da BBC, divulgada neste domingo, o Presidente francês Emmanuel Macron foi questionado sobre o que pensou e sentiu em relação à palavra que o seu homólogo norte-americano, Donald Trump, aplicou em alusão a países como o Haiti ou certos países africanos, classificados como “shitholes” (qualquer coisa entre “latrinas” e “merdosos”). “Partilhou a indignação desses países?”, pergunta o entrevistador, sublinhando que “há muitos países francófonos” no continente africano . O Presidente francês hesita por uns momentos e depois declara: “Com certeza.”

Em causa está a referência a expressão “países de merda” que Trump terá utilizado numa reunião na Casa Branca. Trump desmentiu a dita referência, que foi revelada e confirmada por um senador do Partido Democrata, Dick Durbin, que esteve nessa reunião. Para Macron, essa “não é uma palavra que se possa usar.”

“Se queremos construir a paz, se queremos desenvolvimento nesses países e uma relação de respeito com eles”, não se pode usar esse tipo de palavras, frisa Macron. “Muitos dos problemas que enfrentamos tanto no Médio Oriente como em África devem-se a muitas frustrações e humilhações do passado e temos a obrigação de compreender isso”, prossegue o líder francês. “Eu acredito que devemos respeito a todos os países, devemos-lhe isso e isso é muito mais produtivo”, insiste Macron, acrescentando depois que considera manter “uma relação muito boa com o Presidente Trump”.

Andrew Marr evoca então um jantar que o Presidente francês ofereceu a Trump no topo da Torre Eiffel, em Paris, e pergunta-lhe o que “pensa dele”. Ao que Macron responde: “Veja, penso que ele não é o clássico político. Ele foi eleito pelos seus eleitores, é o Presidente dos EUA, um grande país e eu quero trabalhar com ele. Temos opiniões diferentes sobre diferentes matérias, telefono-lhe regularmente, sou sempre extremamente directo e franco, por vezes consigo convencê-lo, noutras ocasiões não consigo”, descreve Macron, que recusa dar demasiada importância – e aconselha a que se faça o mesmo – às numerosas mensagens que o seu homólogo norte-americano partilha no Twitter.

Porém, politicamente, a parte mais relevante desta entrevista será a abordagem ao “Brexit” por parte do Presidente, que reitera aquela que tem sido a posição de Bruxelas – o Reino Unido não pode ter da UE só o que lhe convém.

Admitindo que a França “provavelmente” também votaria pela saída da União Europeia, se houvesse um referendo “num contexto igual” ao que decorreu no Reino Unido, Macron deixa claro que considera “um erro” resumir o problema a uma pergunta de “sim ou não” num referendo.

Sobre o futuro das negociações do Reino Unido para a sua saída da UE, e o futuro das relações entre estes dois blocos, Macron admite ainda que será possível encontrar um “acordo à medida”, mas sublinha que uma “via especial” teria sempre de “preservar o mercado único”. Esta é uma questão sensível para a economia britânica, e sectores como o mercado financeiro do Reino Unido, mas Macron reitera sobre esse tema que “não se pode ter acesso ao mercado único, se não se assinalar que se aceita” o mercado único.