O Governo está paralisado e Trump é um dos grandes culpados
O Governo está em shutdown pela primeira vez em mais de quatro anos e o Presidente Trump tem passado os dias a culpar os democratas. Mas há fortes argumentos para defender que foram as acções do Presidente (e a falta delas) que provocaram, ou pelo menos exacerbaram, a paralisação.
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O Governo está em shutdown pela primeira vez em mais de quatro anos e o Presidente Trump tem passado os dias a culpar os democratas. Mas há fortes argumentos para defender que foram as acções do Presidente (e a falta delas) que provocaram, ou pelo menos exacerbaram, a paralisação.
Este é o primeiro “shutdown” com um partido no controlo de todos os órgãos de poder em Washington, onde os republicanos controlam ambas as câmaras do Congresso. Como é que é ele poderia evitar parte da culpa? Ele controla (ostensivamente) o seu partido.
Quando mergulhamos no que Trump disse sobre paralisações do Governo, é justo questionarmos se ele a não quereria, ou pelo menos se não se importaria. Os meus colegas noticiaram em Novembro que o Presidente disse a confidentes que um shutdown podia ser politicamente bom para ele; uma oportunidade para exibir a sua linha dura na imigração. E claro, também defendeu que “ou se elegem mais senadores republicanos em 2018 ou é melhor mudar as regras para uma maioria de 51%, o nosso país precisa de um bom ‘shutdown’ em Setembro para arrumar esta confusão”.
Sexta-feira, os colaboradores do Presidente diziam que ele foi fundamental ao convencer os republicanos conservadores da Câmara dos Representantes a apoiar a proposta de orçamento e que estava a “trabalhar activamente” para impedir a paralisação. Convidou o líder da maioria no Senado para debater o acordo na Casa Branca. Charles Schumer diz ter chegado a “pôr em cima da mesa o muro na fronteira”, sugerindo que Trump teria dinheiro para isso em troca de manter o Governo a funcionar. Já no sábado, Schumer diz que o Presidente rejeitou, recusando pela segunda vez numa semana dois acordos sobre imigração.
Então, se o Presidente diz em privado que não se importa mas em público condena a paralisação, o que é que ele de facto quer?
Isso é um mistério até para os seus aliados no Congresso. Esta semana, Trump pôs em dúvida se assinaria um orçamento de curto prazo para manter o Governo a funcionar mais um mês, horas depois de a sua porta-voz dizer que o faria. E horas depois de uma votação precária na Câmara dos Representantes para evitar esse cenário, Trump puxou o tapete aos líderes republicanos, ao sugerir que ia retirar da mesa a única margem que tinham para convencer os democratas: o funcionamento do Programa Público de Seguro Pediátrico.
Trump tem sido extraordinariamente inconsistente sobre o que quer num tema que é impossível de separar do ‘shutdown’: impedir a deportação de imigrantes trazidos de forma ilegal quando eram crianças (“dreamers”).
Em Setembro, Trump pôs fim às protecções criadas por Obama para estes imigrantes, atirando a bola para o Congresso. Depois, mudou várias vezes de opinião sobre se queria que o Congresso encontrasse ou não uma solução permanente e o que queria em troca (o muro? O fim do programa da “lotaria de vistos”?). Os senadores alcançaram um acordo bipartidário, pensando que ele o apoiaria. Incluía alguns fundos para o muro na fronteira.
Os republicanos disseram que ele estava a bordo, depois que se opôs quase automaticamente. E foi então que terá perguntado por que é que o acordo tinha de deixar entrar pessoas de países “shithole” (merdosos), como Haiti, El Salvador e nações africanas.
Com duas palavras, Trump causou agitação internacional e tornou muito mais difícil aos democratas negociarem. As suas bases já estavam frustradas com a ausência de protecção aos “dreamers” no acordo de orçamento de Dezembro.
De repente, até um voto num novo acordo de curto prazo sem assegurar essa protecção seria visto como uma capitulação.
Nada disto significa que Trump seja o único responsável pela paralisação. Os republicanos também passaram os últimos dias a descrever os democratas como vilões, dispostos a votar contra um orçamento por causa de um assunto não relacionado, a imigração.
Josh Holmes, ex-assessor do líder da maioria no Senado, Mitch McConnell, aponta para a história recente para culpar os democratas: Em 2013, os republicanos conservadores recusaram votar um Orçamento que não retirasse fundos ao Obamacare. O Governo esteve 16 dias paralisado e as sondagens mostraram que a maioria responsabilizou os republicanos. “Basta mudarmos o nome do partido. Nunca é bom para os que bloqueiam o acordo por razões irrelevantes para o orçamento”.
Para já, uma sondagem Washington Post – ABC News mostra o oposto. Na véspera deste shutdown, os americanos diziam responsabilizar mais os republicanos e Trump do que os democratas. Os motivos para culpar Trump são muito claros.
Exclusivo PÚBLICo/The Washington Post