A adolescência vai agora dos dez aos 24 anos, diz estudo publicado na Lancet Child
Há factores sociais e biológicos que, segundo os cientistas, explicam esta mudança. Os críticos dizem que isto leva a que as expectativas sobre as novas gerações sejam baixas, o que é um erro.
A adolescência, que costumava terminar por volta dos 19 anos, vai agora dos dez aos 24, dizem os cientistas num artigo publicado na conceituada revista Lancet Child & Adolescent Health. Explicações: os jovens passam mais anos a estudar, adiam o casamento ou a paternidade e a percepção quanto ao momento em que começa a vida adulta mudou.
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A adolescência, que costumava terminar por volta dos 19 anos, vai agora dos dez aos 24, dizem os cientistas num artigo publicado na conceituada revista Lancet Child & Adolescent Health. Explicações: os jovens passam mais anos a estudar, adiam o casamento ou a paternidade e a percepção quanto ao momento em que começa a vida adulta mudou.
No artigo, citado pela BBC, é dito que esta mudança na definição do período temporal da adolescência é vital para que as leis se mantenham actualizadas. Outros especialistas, porém, acresenta o canal de televisão britânico, advertem para o risco da "infantilização dos jovens".
Os avanços na saúde e na nutrição fizeram com que a puberdade comece mais cedo, o que significa que em média uma criança entra na adolescência aos dez anos, diz a revista. Na definição tradicional, a adolescência é o período da vida que decorre entre os 14 anos e os 19 anos. Para os cientistas do Royal Children's Hospital em Melbourne, na Austrália, que assinam o estudo, este espaço temporal era "demasiado restritivo", dizem, citados pelo Daily Mail.
O estudo não avança apenas explicações sociológicas e culturais para esta alteração, dá também razões biológicas. A puberdade, diz, começa quando o hipotálamo começa a libertar hormonas que activam a glândula pituitária e as gónadas (glândulas sexuais). Isto costuma ocorrer perto dos 14 anos, mas a melhoria nos cuidados de saúde e a alimentação, sobretudo no chamado mundo desenvolvido, fez baixar essa idade para dez anos.
Em países como o Reino Unido - cujos indicadores foram usados no estudo -, a idade média para o aparecimento do período menstrual nas raparigas desceu quatro anos nos últimos 150 anos. Metade das raparigas têm agora o período aos 12-13 anos.
Quanto a casamento, em 1972 os britânicos casavam aos 25 anos (homens) e aos 23 (mulheres), segundo o gabinete de estatísticas. Hoje, os homens casam aos 32,5 anos e as mulheres aos 30,6.
No campo das razões para que a adolescência seja levada até aos 24 anos está o facto de o cérebro continuar a amadurecer depois dos 20 anos - sobretudo no caso dos homens.
Os investigadores dizem também que muitos estão a optar por adiar as responsabilidades inerentes à idade adulta. Por isso, o período a que corresponde a adolescência deve ser alargado para garantir que os jovens beneficiam dos apoios sociais que são garantidos nesta fase da vida, sublinham os cientistas.
"Apesar de os privilégios legais do adulto começarem aos 18 anos, o início do comportamento adulto e das responsabilidades começa geralmente mais tarde", disse à BBC uma das responsáveis pelo estudo, Susan Sawyer.
Russell Viner, presidente do Royal College of Paediatrics and Child Health (ordem dos pediatras), explicou que alguns serviços britânicos já têm em conta esta mudança. "Uma definição mais inclusiva de adolescente é essencial para o desenvolvimento apropriado das leis, das políticas sociais e dos serviços", disse, acresentando que no Reino Unido a média de idades para um jovem sair de casa dos pais está neste momento nos 25 anos, para ambos os sexos.
Há quem critique esta abordagem. Jan Macvarish, sociólogo da Universidade de Kent, diz que "as crianças mais velhas e os jovens são sobretudo moldados pelas expectativas que a sociedade tem delas e não pelo crescimento biológico". Diz que esta definição vai levar à infantilização dos indivíduos que prolonguem demasiado a sua educação ou que gastem mais anos a "testar o mundo do trabalho".
"A sociedade deve manter as expectativas sempre muito elevadas em relação à próxima geração", defende.