Uma boa celebração da guitarra e das suas “vozes”
O ciclo Há Fado no Cais começou bem em 2018: lotação esgotada numa celebração da guitarra portuguesa e das suas “vozes”, com a boa estrela de Pedro de Castro por guia.
A guitarra portuguesa vive um bom momento e o concerto de Pedro de Castro na abertura do ciclo Há Fado no Cais, no CCB, na noite de 12 de Janeiro, foi um bom exemplo disso. Com lotação esgotada muitos dias antes da sua realização (no Pequeno Auditório), beneficiou de uma plateia atenta e interessada, onde se encontravam vários músicos, e não só fadistas. Isso deveu-se, em parte, à popularidade de Pedro de Castro, mas também ao programa que ele quis apresentar, percorrendo aqui as várias “vozes” da guitarra, desde os grandes criadores dos primeiros tempos até aos mais recentes, passando pela distinta sonoridade de Coimbra. Uma boa ideia, bem pensada e bem concretizada, por ele e por todos os músicos presentes.
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A guitarra portuguesa vive um bom momento e o concerto de Pedro de Castro na abertura do ciclo Há Fado no Cais, no CCB, na noite de 12 de Janeiro, foi um bom exemplo disso. Com lotação esgotada muitos dias antes da sua realização (no Pequeno Auditório), beneficiou de uma plateia atenta e interessada, onde se encontravam vários músicos, e não só fadistas. Isso deveu-se, em parte, à popularidade de Pedro de Castro, mas também ao programa que ele quis apresentar, percorrendo aqui as várias “vozes” da guitarra, desde os grandes criadores dos primeiros tempos até aos mais recentes, passando pela distinta sonoridade de Coimbra. Uma boa ideia, bem pensada e bem concretizada, por ele e por todos os músicos presentes.
Dividiu, para isso, o concerto em três partes, onde apenas a viola ia mudando (a guitarra portuguesa foi sempre tocada por Pedro, com Francisco Gaspar sempre no baixo). Na primeira parte, com a viola de Jaime Santos Jr., o concerto começou inevitavelmente por Armandinho (1891-1946), com Meditando, passando depois a Jaime Santos (1909-1982), com Corrido do Mestre Zé e Meditação. Entrando-se nas guitarradas, destaque para a de José Luís Nobre Costa (1948-2014), mestre de Pedro, que este ali fez questão de celebrar.
A segunda parte, “coimbrã”, contou com Artur Caldeira na viola e arrancou com um tema de Pedro Caldeira Cabral, Balada da oliveira, para depois imergir no belo universo de Carlos Paredes, em rapsódias onde se ouviram Canção de Alcipe, Dança palaciana, Verdes anos ou Movimento perpétuo. Se Jaime Ramos Jr., na primeira parte, soou perfeitamente ajustado ao repertório “clássico” dos mestres (entre os quais o do seu pai), no segunda Artur Caldeira foi vibrante na linguagem coimbrã, com Pedro de Castro a “saltar” entre os dois universos com destreza e entrega, quer nos trinados mais líricos quer na agilidade dos mais rápidos.
A terceira parte, com André Ramos na viola, incluiu também rapsódias, centrando-se em instrumentais mais contemporâneos, de autores como Francisco Carvalhinho (1918-1990), Raul Nery (1921-2012), Domingos Camarinha (1915-1993) ou José Nunes (1916-1979). Mas se à guitarra portuguesa foi dado espaço para expor as suas “vozes”, consoante os criadores que para ela compuseram e nela tão bem se expressaram, houve também vozes convidadas, todas elas femininas (não foi António Chaínho quem chamou a um dos seus discos A Guitarra e Outras Mulheres?), interpretando todas elas temas com música de Pedro da Castro. Na primeira parte, a jovem Teresinha Landeiro, voz promissora mas ainda carente de uma maior solidez, cantou Penha de França. Voz clara, juvenil, demasiado ousada no grito, deixa antever um valor seguro do fado no futuro. Na terceira parte ouvimos primeiro Katia Guerreiro, num Quero Cantar para a Lua aquém das suas reais possibilidades, devido a trejeitos vocais que de algum modo lhe aplacaram a expressividade do canto. E, por fim, a presença e a voz de uma grande senhora, Celeste Rodrigues, a mostrar (com Se alguém me procurar, de Ricardo Maria Louro) que o fado é primeiro profundidade e sentimento e só depois expansão ou intensidade vocal. Uma lição de extrema sabedoria, nestes tempos.
O concerto, muito aplaudido pelo público, terminou com um duplo encore, já com todos os músicos em palco (guitarra, violas, baixo) numas Variações de Fontes Rocha (1926-2011). E assim começou, com uma boa e digna celebração da guitarra, o fado no CCB em 2018.
Nos próximos “capítulos” do Há Fado no Cais, uma bem-sucedida parceria do CCB com o Museu do Fado, actuam no Centro Cultural de Belém Jorge Fernando (9 de Fevereiro), Cuca Roseta (9 de Março), Aldina Duarte (6 de Abril), Joana Almeida (4 de Maio), Maura (2 de Junho), Bernardo Espinho (também conhecido como Buba Espinho, 29 de Setembro) e Camané (11 de Outubro). O ciclo fecha como começou, com um guitarrista, desta feita o jovem Gaspar Varela, bisneto de Celeste Rodrigues.