Edifício do séc. XIX vai dar lugar a cubo de betão, acusam cidadãos
Movimento criado para contestar a demolição do edifício conhecido por Casa Barahona e onde funciona a biblioteca municipal diz que o projecto enferma de procedimentos “cuja legalidade é questionável”
Tudo indica que a Câmara de Grândola não vai ceder às pretensões do movimento de contestação “Preserve Casa Barahona” que foi criado no passado mês de Novembro para travar a demolição do edifício datado do último quartel do século XIX e onde funcionou durante três décadas, a biblioteca municipal desta vila alentejana. A autarquia defende o projecto e nega que ali vá ser erguido um “cubo” de betão, como alega o grupo de cidadãos.
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Tudo indica que a Câmara de Grândola não vai ceder às pretensões do movimento de contestação “Preserve Casa Barahona” que foi criado no passado mês de Novembro para travar a demolição do edifício datado do último quartel do século XIX e onde funcionou durante três décadas, a biblioteca municipal desta vila alentejana. A autarquia defende o projecto e nega que ali vá ser erguido um “cubo” de betão, como alega o grupo de cidadãos.
O movimento acusa o executivo municipal de pretender fazer “uma demolição” da Casa Barahona e “não uma requalificação”, como determina o projecto de execução elaborado pela autarquia. O novo equipamento, garantem, “não serve nem para as necessidades presentes, nem as necessidades futuras”.
João Sobral, porta-voz do movimento, afirma que as informações sobre o novo projecto a que teve acesso prevêm que, na futura biblioteca, oespaço destinado à sala de leitura dos adultos será “reduzido em 21%” e que a área de exposições “passa para metade da área actual”. A sala para os conteúdos multimédia “desaparece e a sala de animação é mais pequena” e só existem instalações sanitárias na cave, acrescenta.
Em síntese, a concretização deste projecto “significa um encargo de 1,4 milhões de euros para reduzir áreas e valências”, salienta João Sobral. O movimento consultou três especialistas em engenharia civil e arquitectura para interpretar melhor os números previstos para aquele espaço, concluindo que o espaço útil da biblioteca actual “é de cerca de 700 metros quadrados e o projecto aprovado prevê uma redução para 625 metros quadrados”.
O presidente da câmara de Grândola, António Figueira Mendes, referiu ao PÚBLICO que “os espaços do novo projeto ocuparão uma área de 862 metros quadrados (sem contar com o espaço de circulação), superior ao do edifício actual (que tem aproximadamente 821 m2”.
O projecto da nova biblioteca de Grândola é comparado pelo movimento “Preserve Casa Barahona” a “um cubo de betão” que terá um pátio rodeado de muros com 10 metros de altura na zona do núcleo tradicional da vila, onde apenas são permitidas construções com um máximo de dois pisos, com altura não superior a 6,5 metros. Esta limitação é imposta pelo Plano de Urbanização de Grândola.
As divergências que opõem o movimento à autarquia incidem, sobretudo, nas “potenciais desconformidades” que haverá na candidatura apresentada ao programa RE SEUR, em 2015, para obtenção de fundos comunitários. João Sobral, refere que na documentação a que teve acesso nos serviços municipais está patente que o objectivo da candidatura aponta para a “reabilitação” da Casa Barahona, mas o projecto de arquitectura “pressupõe a demolição total do edifício”.
O autarca escusou-se a comentar está afirmação mas garante que o projecto “cumpre todos os regulamentos e planos em vigor”, realçando o facto da respectiva maquete ter sido “publicamente apresentada durante a feira de Agosto de 2016 e que o projecto foi incluído no programa eleitoral da CDU” e votado, pelos grandolenses, com maioria absoluta, nas últimas eleições autárquicas”, assinalou Figueira Mendes.
Respondendo ao pedido de esclarecimento formulado por João Sobral junto da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Alentejo (CCDRA), este organismo informou que da leitura da memória descritiva da candidatura, “resulta claro” que a intervenção “visa manter o edifício principal (Edifício Barahona), desenvolvendo-lhe as suas características originais”. Daqui se pode aferir, prossegue a CCDRA “a impossibilidade de demolição do edifício”, sublinhando que a intervenção prevista promove a preservação de grande parte do edifício mais antigo, sublinhando que a sua “reconfiguração é só interna”.
Apesar da actual biblioteca garantir em pleno a sua função no local onde está instalada há cerca de três décadas e de em 2014 e 2015 terem sido investidos quase 55 mil euros em trabalhos de beneficiação, a todo o momento é esperada a entrada em acção do empreiteiro que vai intervir na Casa Barahona para ali eventualmente erguer “um cubo de betão” destinado à biblioteca e ao arquivo municipal de Grândola. Enquanto as obras prosseguirem, os serviços que a biblioteca presta passam para o salão dos bombeiros voluntários locais, onde vão permanecer durante 18 meses. Esta mudança teve lugar na última segunda-feira.
Entretanto, o movimento “Preserve Casa Barahona” lançou na Internet uma petição que recolheu cerca de mil assinaturas, onde é realçada a “necessidade de preservar o edifício actual, conciliando-o com um futuro equipamento que eventualmente venha a ser edificado no local”. Na passada semana, foi apresentada junto do Ministério Público um pedido de inquérito à actuação da Câmara de Grândola.