Universidade de Coimbra distingue trabalho de Rui Vieira Nery
Júri escolheu, por consenso, esta figura que é vista como "uma referência da musicologia portuguesa”.
O musicólogo, historiador e professor universitário Rui Vieira Nery (Lisboa, 1957) foi esta quinta-feira distinguido com o Prémio Universidade de Coimbra 2018, anunciou o reitor João Gabriel Silva.
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O musicólogo, historiador e professor universitário Rui Vieira Nery (Lisboa, 1957) foi esta quinta-feira distinguido com o Prémio Universidade de Coimbra 2018, anunciou o reitor João Gabriel Silva.
Professor da Universidade Nova de Lisboa e director do Programa Gulbenkian de Língua e Cultura Portuguesas (nesta fundação, foi também director-adjunto do Serviço de Música e director do programa Educação para a Cultura), Rui Vieira Nery é licenciado em História pela Faculdade de Letras de Lisboa e doutorado em Musicologia pela Universidade do Texas, em Austin, EUA.
Foi secretário de Estado da Cultura, entre 1995 e 1997, no primeiro Governo de António Guterres, e desempenhou, entre diversos outros cargos, o de comissário das Comemorações do Centenário da República Portuguesa e de presidente da Comissão Científica da candidatura do Fado à Lista Representativa do Património Cultural Imaterial da Humanidade (UNESCO).
O Prémio Universidade de Coimbra, no valor de 25 mil euros, distingue uma personalidade de nacionalidade portuguesa que se tenha afirmado por uma intervenção particularmente relevante e inovadora nas áreas da cultura ou da ciência, e “pareceu ao júri inquestionável” atribuí-lo a Rui Vieira Nery, que “é uma referência da musicologia portuguesa”, disse o reitor da Universidade de Coimbra (UC).
O laureado tem “uma intervenção longa” na musicologia portuguesa, “associada à Gulbenkian, na sua actividade académica”, e recentemente ligado à candidatura do Fado a Património Imaterial da Humanidade”, sublinhou o reitor na Sala do Senado da UC, na sessão de divulgação do nome distinguido com o prémio.
Rui Vieira Nery também tem “trabalho em Coimbra”, no “acervo de música barroca portuguesa”, da qual a Universidade possui, “talvez, o principal” património, “vindo essencialmente do Mosteiro de Santa Cruz”, recordou. Esse trabalho não “está em curso neste momento”, mas Rui Vieira Nery teve um importante papel na divulgação do “valor e da relevância desse acervo”, salientou João Gabriel Silva, admitindo que o prémio agora atribuído possa permitir que “essa linha de actividade seja retomada” pelo musicólogo – “quem sabe”, concluiu o reitor da UC.
Ao ser informado da decisão do júri do Prémio Universidade de Coimbra 2018, Rui Vieira Nery manifestou-se “muito satisfeito” e totalmente “surpreendido”, disse ainda João Gabriel Silva, revelando que a escolha do júri foi feita “por consenso”.
Quarenta anos de carreira
Em declaração à Agência Lusa, o musicólogo viu a distinção da UC como uma validação do seu trabalho – quando cumpre 40 anos de carreira científica –, que o encoraja a prosseguir. O autor de Para uma História do Fado defendeu que “os investigadores têm um dever ético de partilha do resultado do seu trabalho com a sociedade em geral”. “Nós somos pagos para fazer este trabalho pelos cidadãos, e eles têm o direito de beneficiar daquilo que estão a pagar”, argumentou.
Referindo-se ao prémio, o investigador afirmou: “É um reconhecimento pelo meu trabalho e pela minha área de trabalho, pela Universidade, ao mais alto nível, o que é uma coisa que é muito entusiasmante e encorajadora”. E notou ainda que a distinção “significa que a musicologia é reconhecida como uma disciplina de pleno direito no tecido universitário, e é uma componente importante no olhar da cultura para a sociedade, que é uma das funções que a Universidade tem”.
Sobre o seu trabalho, Vieira Nery afirmou que “há aspectos que se podem, de certa maneira, considerar inovadores”, como o facto de “partir de uma abordagem como historiador para a musicologia, pensar na prática musical como um fenómeno histórico, isto é, que deve ser pensado num contexto histórico mais amplo”, explicou.
O investigador está actualmente a trabalhar “numa recolha muito exaustiva dos relatos dos viajantes estrangeiros em Portugal e no Brasil, entre 1750 e 1834, e sobre aquilo que deixaram escrito sobre música, dança e artes do espectáculo”, e cujo primeiro volume, que irá abarcar o período de 1750 a 1807, conta editar ainda este ano.
Vieira Nery vai receber o Prémio Universidade de Coimbra 2018 no Dia da Universidade (1 de Março) – que este ano assinala o 728.º aniversário –, proferindo uma conferência para “partilhar” algum do seu saber.