Arquidiocese de Braga abre a porta aos divorciados recasados

É a primeira diocese do país a, depois do desafio do Papa Francisco, dar um passo concreto no sentido de readmitir os divorciados e recasados em sacramentos como a comunhão.

Foto
Nelson Garrido

Os divorciados recasados vão poder aceder aos sacramentos da Igreja Católica na Arquidiocese de Braga, depois de “um longo processo de discernimento”. Numa atitude inédita - e que procura responder ao desafio reiteradamente lançado pelo Papa Francisco -, o arcebispo primaz de Braga, D. Jorge Ortiga apresentou esta quarta-feira, em conferência de imprensa, orientações muito claras quanto ao acompanhamento a dar aos fiéis que, estando numa situação irregular aos olhos da Igreja, queiram, por exemplo comungar.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Os divorciados recasados vão poder aceder aos sacramentos da Igreja Católica na Arquidiocese de Braga, depois de “um longo processo de discernimento”. Numa atitude inédita - e que procura responder ao desafio reiteradamente lançado pelo Papa Francisco -, o arcebispo primaz de Braga, D. Jorge Ortiga apresentou esta quarta-feira, em conferência de imprensa, orientações muito claras quanto ao acompanhamento a dar aos fiéis que, estando numa situação irregular aos olhos da Igreja, queiram, por exemplo comungar.

“Temos três sacerdotes disponíveis que vão elaborar um programa de acompanhamento para que, no final de um período bastante longo de tempo, estas pessoas possam ter acesso aos sacramentos da eucaristia e a uma outra integração na vida da comunidade”, precisou ao PÚBLICO D. Jorge Ortiga.

De acordo com as orientações divulgadas, haverá etapas a cumprir por quem queira regressar à Igreja depois de ter entrado numa nova união civil após uma ruptura. Desde logo a disponibilidade para se deixar orientar neste processo por um padre. A análise do que levou à anterior ruptura, a avaliação da relação actual e a existência ou não de filhos serão temas obrigatórios de conversa nos encontros quinzenais com o orientador.

“Haverá um tempo para ouvir as pessoas, para equacionar o problema dos filhos que tiveram, a relação com a outra parte”, enumera Jorge Ortiga, para quem as palavras de ordem são “discernir e acolher”.  

Abertura da Igreja às novas formas de estar em família

Há muito que do Papa Francisco vêm sinais no sentido de uma maior abertura da Igreja às novas formas de estar em família. Depois dos sínodos de 2014 e 2015, muito marcados pelas polémicas em torno da defesa de um maior acolhimento não só dos católicos divorciados e recasados mas também dos casais homossexuais, a exortação Amoris Laetitia publicada em Abril de 2016, veio desafiar as dioceses dos vários países a porem de parte “a fria moralidade burocrática” e a serem misericordiosas com quem se divorciou ou vive uma união fora do casamento.

Apesar da linguagem algo ambígua, o Papa deixou claro naquela espécie de constituição aplicada à família a necessidade de abrir as portas da Igreja à integração plena destes crentes, por considerar não ser possível “continuar a dizer que todos os que se encontram em situação irregular vivem num estado de pecado mortal e são privados da graça divina”.

Esta defesa de uma maior abertura suscitou a condenação dos sectores mais conservadores da Igreja que a equipararam a um ataque directo à indissolubilidade do casamento. As portas ficaram, no entanto, entreabertas. E, da parte da Conferência Episcopal Portuguesa, Manuel Clemente disse-se, em Novembro de 2016, disposto a acompanhar Francisco na integração dos divorciados recasados.

A iniciativa da arquidiocese de Braga é a primeira a dar passos concretos nesse sentido. E a predisposição para o acolhimento não visa só os divorciados recasados. O recém-criado Serviço Arquidiocesano de Acolhimento e Apoio Familiar congregou uma equipa de leigos, de juristas a psicólogos, passando por assistentes sociais e psiquiatras, disponíveis para ouvir e encaminhar quem esteja a atravessar problemas como violência doméstica ou litígios com filhos.