O que ia na cabeça do casal norte-americano que manteve os 13 filhos em cativeiro?
A história do casal Turpin, que mantinha em cativeiro os 13 filhos, constrói-se pouco a pouco, a partir de detalhes que vão vindo a público. Como é que conseguiu fazê-lo sem que ninguém, nem os vizinhos mais próximos, tivessem sequer suspeitado?
A família morava desde 2010 numa casa térrea, situada numa rua tranquila de Perris, a cerca de cem quilómetros de Los Angeles (EUA). Desde 2011, aquela era também a morada de uma escola particular. O pai, David Allen Turpin, com 57 anos, figurava como administrador e director. E tinha alguns dos filhos, com idades compreendidas entre os dois e os 29 anos, como estudantes.
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A família morava desde 2010 numa casa térrea, situada numa rua tranquila de Perris, a cerca de cem quilómetros de Los Angeles (EUA). Desde 2011, aquela era também a morada de uma escola particular. O pai, David Allen Turpin, com 57 anos, figurava como administrador e director. E tinha alguns dos filhos, com idades compreendidas entre os dois e os 29 anos, como estudantes.
Não é invulgar estudar em casa nos Estados Unidos. Só que isso significa que aquelas crianças não tinham de conviver com outras. A família vivia fechada sobre si mesma. A mãe, Louise Anna Turpin, com 49 anos, era doméstica. O pai era pouco sociável.
Muitos vizinhos nem sabiam que ali viviam crianças. Alguns faziam piadas, comparando aquela família a famílias de vampiros que só existiam nos livros, nos filmes ou séries televisivas, por “só saírem de noite”, “serem muito pálidos”, “evitarem fazer conversa”, mas a verdade nem lhes passava pela cabeça.
No passado domingo, quando os filhos foram libertados pela polícia, estavam subnutridos, muito sujos, no escuro, alguns acorrentados. Ao vê-los, as autoridades até pensaram que eram todos menores de idade.
Tinham vindo do Texas em 2010. O pai já fora engenheiro numa empresa, mas declarara-se insolvente no ano em que abrira a escola. Tinham uma dívida de cerca de 240 mil dólares (cerca de 196 mil euros), sobretudo em cartões de crédito.
Os avós paternos não os visitavam há cinco anos. Mantinham contacto regular por telefone com o casal, não com os netos. À ABC News, afirmaram-se “chocados” – filho e nora sempre lhes pareceram “uma boa família cristã”. O casal dava uma educação rigorosa aos filhos. Faziam-nos decorar passagens da Bíblia. As crianças usavam roupas iguais por razões de segurança. Quando saíam todos juntos, formavam uma fila com os pais nas pontas.
“Os Turpins casaram-se há 27 anos, quando David tinha 30 anos e Louise 22. Não é uma diferença de idade invulgar, mas é compatível com a possibilidade de ele ser um homem dominante, ansioso por assumir o controlo”, nota o psicólogo forense David Canter, no The Independent. “A pessoa mais velha que foi encontrada na casa deve ter nascido pelo menos dois anos antes do casal se casar, o que sugere um compromisso de criar uma família desde o início. Os pais de David Turpin declararam aos meios de comunicação hoje [terça-feira] que o casal sentia um chamamento cristão para ter muitos filhos.”
E continua: “As famílias numerosas tendem a ser caóticas ou a desenvolver processos formais, muitas vezes rituais, para gerir as actividades diárias. É possível que, à medida que as finanças dos Turpins foram ficando fora de controlo, se tenham tornado mais coercivos nas suas tentativas de lidar com a situação.”
Louise mostrou-se perplexa quando a polícia lhes bateu à porta, no domingo, depois da filha de 17 anos ter agarrado num telemóvel que estava dentro de casa, fugido e ligado para a linha de emergência. Nenhum deles deu sinal de perceber as motivações da polícia para intervir. “Proteger os seus filhos de olhos curiosos tornou-se um meio de vida”, especula ainda aquele perito. “Podem ter pensado que o que estavam a fazer estava certo. Mas com o passar do tempo, podem ter-se tornado mais desesperados e apenas capazes de controlar os seus descendentes com ameaças e correntes.”
O casal foi acusado de tortura e de pôr crianças em perigo. Aguarda julgamento em prisão preventiva. Os filhos foram acolhidos em centros de saúde.