Coreias entram nos Jogos Olímpicos sob a mesma bandeira
Os dois países vão fazer alinhar uma equipa conjunta de hóquei no gelo. Pequim e Moscovo criticam cimeira entre aliados de Washington.
A lua-de-mel olímpica entre as duas Coreias continua a todo o vapor. Esta quarta-feira, os dois países chegaram a acordo para marcharem na cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos de Inverno sob a mesma bandeira e para formarem uma equipa conjunta feminina de hóquei no gelo.
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A lua-de-mel olímpica entre as duas Coreias continua a todo o vapor. Esta quarta-feira, os dois países chegaram a acordo para marcharem na cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos de Inverno sob a mesma bandeira e para formarem uma equipa conjunta feminina de hóquei no gelo.
Para um Presidente que foi eleito com a promessa de voltar a trazer a Coreia do Norte para a via do diálogo, o início do ano tem sido um sonho tornado realidade para Moon Jae-in. Delegações das duas Coreias têm reunido regularmente em Panmunjom, na zona desmilitarizada; a linha para comunicações foi reaberta depois de um ano encerrada e, agora, foi garantida uma imagem que irá certamente ficar na História: as duas delegações olímpicas vão marchar em conjunto sob uma bandeira da “Coreia unificada” na cerimónia de abertura de umas Olimpíadas organizadas na península.
Os dois países vão também competir com uma equipa conjunta no torneio feminino de hóquei no gelo. As Coreias participaram nestes moldes em duas competições – no Campeonato do Mundo de Ténis de Mesa de 1991 e no Mundial de Juniores da FIFA do mesmo ano –, mas é a primeira ocasião em que o fazem numas Olimpíadas. Também não será a primeira vez que os dois países marcham lado a lado numa cerimónia de abertura: aconteceu nos Jogos Olímpicos de Verão de 2000 e 2004 e de Inverno de 2006.
Porém, o actual processo de reaproximação surge depois de um dos períodos mais turbulentos na história da península. Nos últimos meses, o mundo assistiu ao desenvolvimento acelerado dos programas balístico e nuclear através dos inúmeros testes levados a cabo pelo regime norte-coreano. Ao contrário dos seus antecessores, Kim Jong-un parecia não ter qualquer interesse em abrir portas ao diálogo com Seul, recusando várias iniciativas lançadas por Moon desde que foi eleito, em Maio do ano passado.
Por tudo isto, o discurso de Ano Novo em que Kim aludiu à possível participação da Coreia do Norte nos Jogos marcados para Fevereiro em Pyeongchang foi recebido com entusiasmo pela liderança sul-coreana. Seul pretende garantir um apaziguamento da tensão durante a competição, mas também aprofundar o diálogo, incluindo conversações sobre o programa nuclear.
Não faltam, no entanto, críticos quanto à reaproximação inter-coreana, desde logo sob o prisma desportivo. A treinadora da equipa de hóquei no gelo da Coreia do Sul, a norte-americana Sarah Murray, alertou para o “perigo” de desestabilização da equipa e disse esperar não ser pressionada para fazer alinhar jogadoras norte-coreanas. Nos últimos dias, várias petições contra a apresentação de uma equipa conjunta chegaram ao Presidente sul-coreano, uma das quais com onze mil assinaturas online, diz a Reuters.
Cimeira da discórdia
No campo diplomático, as objecções são mais sérias. O ministro dos Negócios Estrangeiros japonês, Taro Kono, deixou um conselho a Seul: “Não é o tempo de aliviar a pressão ou recompensar a Coreia do Norte.”
Na mesma lógica, esta semana, duas dezenas de países reuniram-se em Vancouver numa cimeira organizada pelos EUA e chegaram a acordo para avançar para a introdução de novas sanções unilaterais contra a Coreia do Norte, à margem das que estão contempladas pelas resoluções aprovadas pelo Conselho de Segurança da ONU.
O encontro, que juntou apenas representantes diplomáticos dos países que apoiaram a Coreia do Sul durante a Guerra da Coreia (1950-53), foi duramente criticado pela China e pela Rússia, que ficaram de fora. Pequim disse que a cimeira é um reflexo da “lógica de Guerra Fria” da Administração norte-americana e avisou que reuniões deste género “não vão ajudar a promover uma resolução apropriada para a questão” do programa nuclear norte-coreano. O Kremlin declarou que decisões deste género apenas vêm “agravar” a situação.