Cafôfo recusa (novamente) ir à assembleia da Madeira falar sobre a tragédia do Monte
Autarca do Funchal diz que está em curso uma tentativa de aproveitamento político de um caso que provocou a morte a 13 pessoas.
O presidente da Câmara do Funchal, Paulo Cafôfo, rejeitou esta semana, pela terceira vez, ir à assembleia regional falar sobre a queda da árvore na freguesia do Monte, alegando não querer permitir que agendas partidárias se aproveitem das vítimas da tragédia.
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O presidente da Câmara do Funchal, Paulo Cafôfo, rejeitou esta semana, pela terceira vez, ir à assembleia regional falar sobre a queda da árvore na freguesia do Monte, alegando não querer permitir que agendas partidárias se aproveitem das vítimas da tragédia.
O autarca, que num primeiro momento se mostrou disponível para ser ouvido na Comissão Especializada Permanente de Saúde e Assuntos Sociais, alegou primeiro motivos de agenda e depois razões jurídicas para não ir ao parlamento madeirense falar sobre a queda do carvalho no Monte, ocorrida a 15 de Agosto do ano passado, que provocou 13 mortos e mais de meia centena de feridos.
“Nunca deixarei que uma qualquer agenda partidária sem regras, sem respeito e sem limites procure fazer aproveitamento de uma situação tão trágica, desrespeitando as vítimas da tragédia, enquanto procura interferir na acção da Justiça”, escreveu Paulo Cafôfo esta segunda-feira num ofício enviado para o presidente da assembleia madeirense, que foi tornado público pela própria autarquia.
Na resposta aos deputados, que tinham estabelecido 15 de Janeiro como data limite para o presidente da Câmara do Funchal responder ao pedido de audição da comissão, Cafôfo repete a argumentação utilizada em Novembro passado, quando evocou a separação de poderes e a vontade de não prejudicar o inquérito judicial – o caso está ser investigado pelo Ministério Público – para não ir à assembleia.
A investigação, disse na altura, repetindo agora os “mesmos fundamentos”, deve permanecer concentrada nos órgãos judiciais independentes, para evitar alarme social e aproveitamento político. Mas o caso já saltou para a esfera política, depois de ter sido divulgado que, logo em Novembro, o MP informou a autarquia de que o inquérito não se encontrava em segredo de justiça, quando Paulo Cafôfo questionou o procurador sobre o estado do processo, antes de rejeitar a ida à audição.
O deputado social-democrata Carlos Rodrigues, que integra a comissão, acusou no parlamento o autarca funchalense de cobardia e de falta de carácter, por recusar ir prestar declarações à assembleia, com a resposta a vir do chefe de gabinete do autarca. “Os totós (…) encheram os pulmões para ladrar mais uns impropérios dirigidos ao seu inimigo de estimação”, escreveu José Miguel Iglésias na página pessoal no Facebook.
Uma escalada de linguagem que serviu também de argumentação a Paulo Cafôfo para não ir ao parlamento. “Um senhor deputado eleito pelo partido que preside à aludida comissão parlamentar acaba de proferir afirmações públicas altamente insultuosas”, acusou o presidente da autarquia que, juntamente com a vereadora responsável pelo Ambiente (Idalina Perestrelo) e com um funcionário municipal, foram constituídos arguidos no processo, que ainda está em investigação.
O pedido de audição parlamentar, uma iniciativa do deputado independente Gil Canha, foi aprovado em Setembro por PSD, CDS e PS, com as abstenções do JPP e da CDU. Por proposta social-democrata, foi decidido que a audição só ocorreria após as autárquicas, para não contaminar a campanha eleitoral.
A comissão, reunida esta terça-feira, e perante nova recusa de Cafôfo, decidiu por unanimidade alargar o âmbito das audições, querendo agora ouvir Idalina Perestrelo, a presidente da junta de freguesia local, o comandante dos bombeiros municipais e o responsável pela protecção civil.
As críticas às ausência de Paulo Cafôfo estendem-se aos partidos que suportam a coligação que elegeu o independente para a Câmara do Funchal, como o PS e o JPP. Este último admite mesmo avançar para a criação de uma comissão de inquérito à queda da árvore do Monte, obrigando assim o autarca a ir à assembleia