Macron visita Calais, criticado pelos seus planos de reformar a lei de asilo
Presidente francês prometeu que não voltará a haver uma "selva" naquela cidade de fronteira com o Reino Unido, mas a nova legislação para a imigração está sob fogo.
Emmanuel Macron visitou Calais, a última fronteira para os migrantes que querem atravessar o canal que os separa do Reino Unido. E em pleno debate sobre a nova lei da imigração, criticada pelo excessivo pendor securitário, assegurou que nunca permitirá que ali seja reconstruída a tristemente célebre “selva”.
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Emmanuel Macron visitou Calais, a última fronteira para os migrantes que querem atravessar o canal que os separa do Reino Unido. E em pleno debate sobre a nova lei da imigração, criticada pelo excessivo pendor securitário, assegurou que nunca permitirá que ali seja reconstruída a tristemente célebre “selva”.
Calais foi palco da maior crise de imigração em França. Na cidade portuária do Norte de França chegaram a acumular-se cerca de dez mil migrantes num verdadeiro bairro de lata, sem quaisquer condições, a que se chamou The Jungle. Ali ficavam à espera de uma oportunidade para entrarem num barco, para num camião ou até num dos comboios que atravessam o túnel da Mancha, para chegarem escondidos ao Reino Unido. O primeiro-ministro Manuel Valls acabou por mandar arrasar tudo com bulldozers há cerca de ano e meio.
Hoje, sobrevivem por ali ainda 350 a 500 migrantes, segundo números oficiais citados pelo Le Monde, sobretudo vindos da Etiópia e da Eritreia, e do Afeganistão, que sobrevivem sem abrigo fixo, pois a polícia destrói os acampamentos salvagens, sempre que se estabelecem – segundo o Eliseu. As organizações humanitárias dão-lhes algum apoio, distribuindo alimentos, roupas, sacos cama. Num balanço revelado em Outubro, 42% dos migrantes que estavam em Calais tinham conseguido obter asilo.
Mas há uma prioridade absoluta em impedir que a situação volte ao que era. E o Governo Macron tem um projecto polémico para reformar as leis de imigração, que ameaça fracturar a sua larga maioria – demasiado larga, talvez, para poder congregar em uníssono os que defendem uma visão sobretudo securitária e os que esperam uma abordagem humanitária para com os que procuram refúgio na Europa.
O desagrado começou com uma circular de Dezembro de 2017 do ministro do Interior, Gérard Collomb, próximo de Macron, em que pedia aos prefeitos (equivalente aos antigos governadores civis portugueses) que fizessem o recenseamento dos migrantes nos centros de alojamento de emergência.
Se o ministro assegurou que o objectivo era garantir um melhor dispositivo de integração aos requerentes de asilo, para muitos este acto foi visto como uma forma de fazer a triagem entre os migrantes elegíveis para asilo e os classificados como tendo apenas motivos económicos. Mesmo deputados da República em Marcha, o partido de Emmanuel Macron, interpelaram o ministro Collomb no Parlamento sobre as intenções do Governo.
Estava constituído o caldo para a recepção do projecto de nova lei de imigração, que implica prazos e regras muito mais restritivas para os requerentes de asilo, apresentado na semana passada, e recebido com muitas críticas. Até o escritor Jean-Marie Le Clézio, Prémio Nobel da Literatura, ergueu a voz para denunciar “uma negação de humanidade insuportável”. Jean-Jacques Eledjam, presidente da Cruz Vermelha francesa, apelou ao respeito “do princípio do acolhimento de todas as pessoas em situação de sofrimento”, seja ele causado pela guerra ou pela miséria.