Quatro gins dos novos: três delícias e um desastre
A publicidade dos gins está sempre a falar dos aspectos técnicos para justificar o preço mas o preço não nos diz nada. Alguns dos melhores gins são baratos e muitos gins caríssimos são uma aldrabice.
Estive 12 anos sem beber gin. Em 2005, quando deixei de beber, conhecia bem todos os gins do mercado, bons e maus. Quando estive no Independente organizei uma prova de gins, no tecto da Mãe de Água, em Lisboa, em que uma dúzia de jornalistas alegres provou todos os gins do mercado — não eram mais de 10, incluindo os horrendos. Provámos às cegas e ganhou o gin Gilbey’s, na altura formidável, que pouco depois perderia todas essas as qualidades.
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Estive 12 anos sem beber gin. Em 2005, quando deixei de beber, conhecia bem todos os gins do mercado, bons e maus. Quando estive no Independente organizei uma prova de gins, no tecto da Mãe de Água, em Lisboa, em que uma dúzia de jornalistas alegres provou todos os gins do mercado — não eram mais de 10, incluindo os horrendos. Provámos às cegas e ganhou o gin Gilbey’s, na altura formidável, que pouco depois perderia todas essas as qualidades.
Hoje há centenas de gins e centenas de maneiras de bebê-los. A primeira coisa a dizer é que nunca houve gins tão bons e variados. Os novos gins não só não substituíram os tradicionais como os reforçaram.
Os gins mais difíceis de fazer são os London Dry Gins. Os mais raros London Dry Gins (LDG) são inteiramente feitos numa só destilação: são os one shot gins. Isto nada nos diz sobre a qualidade do gin, claro — mas é uma prova de seriedade. O excelente Hendrick’s gin é composto de dois one shot gins, feitos no estilo LDG em dois alambiques mas perde o direito de usar a designação porque se acrescenta essência de pepino ao gin. Do mesmo modo, três outros excelentes LDG tradicionais como Tanqueray, Beefeater e Plymouth são destilados e depois esticados com quantidades imensas de álcool neutro.
Mas lá está: para fazer o magnífico Tanqueray Ten, o grande destilador Tom Nichol — o mesmo que faz todos os Tanquerays — prefere trabalhar com um alambique pequeno e fazer um gin one shot.
Por outro lado, o outro grande destilador, Desmond Payne da Beefeater, faz o espantoso Beefeater 24 (uma criação original dele) sem precisar desses cuidados.
Infelizmente, não há maneira de avaliar a qualidade de um gin sem prová-lo. Há gins artesanais que são horrendos e gins industriais que são deliciosos. Há LDG desastrosos e gins irresistíveis que não são LDG. A publicidade dos gins está sempre a falar dos aspectos técnicos para justificar o preço mas o preço também não nos diz nada.
Alguns dos melhores gins — como o Beefeater e o Tanqueray — são baratos e muitos gins caríssimos são uma aldrabice.
Os produtores que destilam o gin também não são melhores do que aqueles que encomendam os gins às grandes destilarias que produzem dezenas de gins. Cada gin precisa mesmo de ser avaliado um a um. Não há alternativa.
Para entrar em 2018 vou escolher quatro gins do milénio: três surpresas muito boas e uma surpresa muito má.
Para mim o melhor gin do novo milénio — e talvez o melhor de sempre — é o Santamania, destilado em Madrid. É um one shot London Dry Gin feito com vodka de uva destilado pelas mesmas pessoas.
No papel não poderia ser mais artesanal e trabalhoso. O resultado é fantástico. É como se tivessem pegado no melhor London Dry Gin e tivessem resolvido torná-lo ainda mais seco, limpo e refrescante. Dou 19 valores em 20 só porque quero deixar um valor de reserva, no caso de aparecer outra maravilha ainda maior do que o Santamania.
A qualidade extrema do gin Santamania — feito por espanhóis relativamente jovens em Madrid — mostra que nada se ganha em virar as costas às novas gerações. Defender os gins do milénio anterior só por preguiça ou reaccionarismo é uma estupidez que só prejudica quem fica de fora.
Diz-se que o Santamania é o Sipsmith de Madrid com alguma justiça. O gin Sipsmith também é delicioso. Não podia estar mais na moda mas, lá está, não é por isso que deixa de ser uma maravilha. O Sipsmith é um gin novo, com menos de dez anos, mas é um LDG tradicionalíssimo, só que depurado e melhorado, mais adstringente e mais salivoso. Foi concebido para a água tónica para fazer um gin tónico completamente clássico — mas melhor. Dou-lhe 16 valores. Não é sensacional como o Santamania mas é muito bom.
O terceiro grande gin é o mais velho, tendo surgido no ano 2000: é o Tanqueray Ten. O Ten reinventa realmente o London Dry Gin através da toranja. Se o Tanqueray normal é zimbro galopante, o Ten salta para o cítrico. É diferente de todos os gins anteriores mas é tão conseguido e delicioso que é imprescindível. 18 valores.
Finalmente a desilusão: o Gin Mare. Não sabe a gin, é um caldo alcóolico: sabe a azeitonas velhas, canela e sei lá o quê. Tive de cuspir, mesmo com água tónica. É horroroso. 3 valores, pela ambição.
Talvez dê para fazer um very dirty Martini — mas um que eu não beberia. O que é que eu vou fazer ao resto da garrafa? Estragar cozinhados?