Haiti, Senegal, ONU e União Africana condenam palavras racistas de Trump
Presidente dos EUA desmentiu ter insultado o Haiti e nações africanas, mas foi prontamente desmentido por um senador democrata que esteve presente na reunião onde as palavras terão sido proferidas.
Cresceu esta sexta-feira a condenação internacional às palavras do Presidente norte-americano Donald Trump, que no dia anterior, e durante uma reunião sobre política migratória com membros do Congresso na Casa Branca, se referiu ao Haiti e a diversas nações africanas como “países merdosos” [“shithole countries”, em inglês].
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Cresceu esta sexta-feira a condenação internacional às palavras do Presidente norte-americano Donald Trump, que no dia anterior, e durante uma reunião sobre política migratória com membros do Congresso na Casa Branca, se referiu ao Haiti e a diversas nações africanas como “países merdosos” [“shithole countries”, em inglês].
As afirmações atribuídas a Trump foram já criticadas por diversas organizações internacionais e pelo próprio Haiti, que diz que estas "reflectem o racismo em relação à comunidade haitiana".
O embaixador do Haiti em Washington, Paul Altidor, revelou que o Presidente daquela nação das Caraíbas ficou "chocado" com as notícias: “Eu falei com o Presidente Jovenel Moise sobre o assunto e, claro, ele está chocado”, revelou, citado pela Reuters. O diplomata disse ainda que o ministro dos Negócios Estrangeiros haitiano convocou o representante norte-americano no Haiti para prestar esclarecimentos numa audiência.
“Os haitianos não merecem este tratamento”, disse ainda Altidor, lembrando a contribuição do Haiti na Revolução Americana no século XVIII.
O embaixador lamentou ainda a atenção dada aos comentários de Trump no dia do oitavo aniversário do terramoto que matou cerca de 220 mil pessoas na ilha.
O Senegal também reagiu através de uma mensagem do seu Presidente, Macky Sall, através do Twitter. O chefe de Estado diz que ficou “chocado” com os comentários atribuídos a Trump e escreveu que “África e a raça negra merecem o respeito e a consideração de todos”.
As palavras de Trump também mereceram a condenação das Nações Unidas. O porta-voz do Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos, Rupert Colville, diz que não se pode "usar outra palavra para além de racista" para qualificar as declarações do Presidente, que diz serem "uma porta aberta para o pior da humanidade". Colville considera que as afirmações de Trump, causadoras de "choque e vergonha", vão contra os valores globais pelos quais se luta desde a II Guerra Mundial e desde o Holocausto.
A União Africana qualificou as declarações de Trump como “francamente alarmantes”. “Tendo em conta a realidade histórica da quantidade de africanos que chegaram aos Estados Unidos como escravos, esta declaração vai para lá de qualquer declaração ou comportamento aceitável”, considerou a porta-voz da organização, Ebba Kalondo, em declarações à Associated Press.
Kalondo acrescentou que as declarações são “particularmente surpreendentes” num país que continua a ser um exemplo de “como a imigração deu origem a uma nação construída com base nos valores da diversidade e oportunidade”.
“Declarações como estas atingem os nossos valores na questão da diversidade e direitos humanos e afectam o nosso entendimento mútuo", disse.
Trump nega comentários, mas é imediatamente desmentido
Na frente interna, Trump negou esta sexta-feira, através do Twitter, ter proferido as palavras que lhe são atribuídas. O milionário eleito com o apoio do Partido Republicano admitiu ter usado "linguagem dura" durante o encontro, mas negou o teor racista ou derrogatório das declarações que lhe foram atribuídas numa notícia avançada em primeira mão pelo Washington Post. No desmentido, referiu-se apenas ao Haiti: "Nunca disse nada de depreciativo sobre os haitianos, para além de que o Haiti é, obviamente, um país pobre e problemático”. O Presidente disse ainda que quaisquer outras declarações são “uma invenção dos democratas” e admitiu começar a gravar as suas reuniões: “Infelizmente, não se pode confiar”.
No entanto, e logo após este desmentido, o senador democrata Dick Durbin, que esteve na reunião de quinta-feira, garantiu que Trump utilizou expressões "recheadas de ódio, vis e racistas" de forma repetida.
"Não consigo acreditar que na História da Casa Branca, na Sala Oval, alguma vez um Presidente tenha proferido as palavras que eu próprio ouvi o nosso Presidente dizer”, disse Durbin, citado pelo correspondente da CNN na Casa Branca, Jim Acosta.
As declarações imputadas de Trump não foram directamente negadas pela Casa Branca até ao momento, tendo o porta-voz adjunto da presidência, Raj Shah, dito apenas, e em resposta ao New York Times, que "certos políticos de Washington escolhem lutar por países estrangeiros, mas o Presidente Trump vai sempre lutar pelo povo americano”.
Dentro do Partido Republicano, a figura mais destacada a criticar Trump é Paul Ryan, líder da Câmara dos Representantes, que considerou que as afirmações de Presidente são "infelizes".