Os cereais do pequeno-almoço têm menos açúcares, mas ainda há muito a fazer
Exigências dos consumidores obrigam a multinacional Nestlé a alterar as suas receitas e ingredientes. Novos produtos à venda a partir do início do ano
Menos açúcares, mais aromas naturais e cereais integrais. São estas as principais alterações às receitas dos cereais de pequeno-almoço da Nestlé. A partir deste mês há novas embalagens a pensar em consumidores mais exigentes, preocupados não só com a saúde, mas também com um planeta mais sustentável.
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Menos açúcares, mais aromas naturais e cereais integrais. São estas as principais alterações às receitas dos cereais de pequeno-almoço da Nestlé. A partir deste mês há novas embalagens a pensar em consumidores mais exigentes, preocupados não só com a saúde, mas também com um planeta mais sustentável.
"Quem não consome cereais ao pequeno-almoço continua a pensar que estes têm muito açúcar e são muito processados", refere Daniela Grave, gestora de portefólio da Nestlé, com base em inquéritos feitos aos consumidores. As declarações são feitas durante uma apresentação à imprensa, no início desta semana, onde os jornalistas foram convidados a experimentar os cereais de chocolate Chocapic, feitos segundo a receita de 1997 e a nova, e puderam comprovar, como há 20 anos eram mais doces.
Em 1997 havia 12,6g de açúcar por cada 30g de cereais de pequeno-almoço, a receita de 2018 baixou para 8,6g (houve uma redução de 34%, diz a marca). O concorrente directo, que vende menos que a Nestlé, frisa Daniela Grave, tem 9,6g de açúcar por cada 30g de cereais. Estes valores, segundo o nutricionista Pedro Carvalho, professor da Universidade do Porto, ainda são elevados. Os cereais "continuam a ter demasiado açúcar, mas isso é quase uma obrigatoriedade para manterem o sabor. Dificilmente o público infantil os aceitaria caso reduzissem ainda mais o açúcar", diz ao Culto.
No entanto, a Nestlé vai continuar a "optimizar as receitas", responde Ana Leonor Perdigão, responsável de nutrição, saúde e bem-estar da Nestlé. "No futuro continuaremos a renovar e a melhorar as nossas receitas nomeadamente com novas reduções de açúcares, sendo a próxima prevista já para o primeiro semestre de 2019, garantido sempre o sabor inconfundível e tão apreciado dos cereais de pequeno-almoço Nestlé”
Essa é a grande preocupação da multinacional, como é que se altera uma receita sem defraudar as expectativas dos consumidores? Com muita investigação científica, à procura de soluções mais saudáveis, responde Ana Leonor Perdigão. Uma das primeiras alterações feitas, foi a substituição dos cereais refinados por cereais integrais (que levou ao aumento de 49% do uso de cereais integrais), essa mudança já tem uns anos. "Os cereais integrais são mais interessantes do que os refinados, porque são cereais completos, tal como estão disponíveis na natureza", explica a nutricionista. Outra mudança foi a redução do sal (menos 33%). Em suma, houve uma "melhoria do perfil nutricional dos cereais de pequeno-almoço", resume.
Sem corantes e aromas artificiais
No início deste ano, a Nestlé apresenta mais alterações. Os novos cereais não têm corantes nem aromas artificiais. Estes foram substituídos por corantes e aromas naturais, por isso, os cereais mantêm a mesma aparência. Além disso, o óleo de palma deu lugar ao óleo de girassol – uma exigência sobretudo dos consumidores franceses e espanhóis, conta Daniela Grave, preocupados com o planeta. Esta é uma mudança que também se fez sentir noutros produtos da marca, por exemplo, nos chocolates como o Kit Kat que mantêm o óleo de palma, mas produzido de maneira sustentável.
As embalagens vão ser outras, por isso, os consumidores vão ficar a saber quais são as principias mudanças. Ana Leonor Perdigão lembra, a partir de dados da Direcção-Geral de Saúde e da Associação Portuguesa de Nutricionistas, a importância do pequeno-almoço como a primeira refeição do dia e como esta deve fornecer os nutrientes, energia, sais minerais e vitaminas para um "melhor desempenho físico e intelectual". E como o pequeno-almoço deve incluir cereais – "idealmente integrais", diz –, produtos lácteos e fruta. Como fonte de proteína adicional, pode acrescentar-se ovo, fiambre ou frutos secos, e água como fonte de hidratação. "Esta refeição não tem de ser muito calórica", salvaguarda a especialista. No entanto, deve estar concentrado 20 a 25% do consumo diário de energia.
Ana Leonor Perdigão cita ainda estudos que dizem que quem consome cereais ao pequeno-almoço tem um comportamento alimentar mais saudável. Os consumidores de cereais tendem a consumir menos gordura e sal, saltam menos vezes o pequeno-almoço, são mais activos e têm um estilo de vida mais saudável.
"Sim, os cereias estão mais saudáveis porque [as marcas] têm conseguido fazer todas essas alterações. Se estão suficientemente saudáveis ainda, a resposta é 'não', na minha opinião", avalia Pedro Carvalho, que sugere como alternativa as aveias com sabor, "têm adoçantes a substituir o açúcar", mas "só algumas marcas de suplementos vendem".