Concorrente da Uber chega a Lisboa com acesso a 600 motoristas

A Taxify, criada na Estónia em 2013, estreia-se nesta quinta-feira em Portugal com uma estratégia comercial agressiva e a pensar na expansão para o Porto e para o Algarve.

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Depois da Uber e da Cabify, é agora a vez da Taxify, plataforma de transportes de passageiros criada na Estónia, entrar no mercado português. E entra com força através de Lisboa, com a garantia de que, a partir desta quinta-feira, a empresa conta com 600 condutores registados como “parceiros activos”, a que se somam, de acordo com o responsável pela operação portuguesa, David Silva, mais duas mil manifestações de interesse.

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Depois da Uber e da Cabify, é agora a vez da Taxify, plataforma de transportes de passageiros criada na Estónia, entrar no mercado português. E entra com força através de Lisboa, com a garantia de que, a partir desta quinta-feira, a empresa conta com 600 condutores registados como “parceiros activos”, a que se somam, de acordo com o responsável pela operação portuguesa, David Silva, mais duas mil manifestações de interesse.

O combate pelo mercado, onde o principal concorrente directo é a Uber – isto além dos táxis –, promete ser aguerrido, já que a Taxify diz que vai cobrar uma menor comissão aos motoristas (15% contra os 25% do “maior concorrente”, diz David Silva ao PÚBLICO, sem pronunciar o nome da Uber) e que quer ser “o mais barato”.

A questão é saber como é que o mercado vai reagir, a começar pelos motoristas, até porque muitos já trabalham nesta actividade. “Os motoristas podem trabalhar com mais do que uma plataforma. Não há requisito de exclusividade”, diz o gestor, de 29 anos. “Acreditamos que, com melhores condições, os motoristas nos escolhem”, acrescenta. Além da questão da margem, diz que não há a obrigatoriedade de trabalhar um número mínimo de horas, os motoristas podem definir o raio de recepção das viagens e haverá “bónus de incentivo”. “Motoristas felizes significa uma melhor qualidade do serviço para os utilizadores”, diz a Taxify.

Quanto aos clientes, a empresa aposta na sua captação através do preço e de uma estratégia inicial de promoções agressivas. Neste campo, nota-se que o tema das margens é sensível quando David Silva faz questão de sublinhar que quem suporta o custo das promoções é a empresa, e não os motoristas.

O negócio alternativo aos táxis já está tão profissionalizado que no leque de opções da Taxify estão frotas com 150 veículos, ou empresas de uma só pessoa/veículo (que pesam cerca de 20% no total, ficando as frotas com os outros 80%).

Dados financeiros que atestem a saúde da empresa não há. Apenas se sabe que, na senda do seu crescimento rápido – Portugal é o vigésimo terceiro país onde está presente, contando, diz a Taxify, com “mais de cinco milhões de utilizadores –, a previsão é a de uma receita de cerca de mil milhões de dólares este ano.

O impulso chinês

Aqui, e tal como no caso da Uber, o impulso é dado por novos investidores, ou pelo reforço do capital dos mais antigos. Markus Villig, que fundou a empresa com o seu irmão e com o apoio dos pais quando tinha 19 anos e ainda andava no liceu, controla a maioria do capital, mas em Agosto do ano passado fechou uma importante parceria com o grupo chinês Didi.

A Didi, que domina este mercado na China (venceu um duelo feroz com a Uber, que acabou por sair deste país), ficou com cerca de 15% da Taxify – não há dados oficiais –, o que deu à empresa um novo fôlego financeiro. Em declarações escritas ao PÚBLICO, Markus Villig diz que o investimento da Didi faz parte da competição global com a Uber (como curiosidade, as duas empresas viram a operação de Londres ser suspensa pelo regulador britânico, em processos distintos e ainda por resolver).

“Esta parceria estratégica permite-nos beneficiar do know-how da Didi e de investimento para solidificar a nossa posição em mercados chave na Europa e em África [onde está presente em países como África do Sul, Quénia e Nigéria], e para expandir para novos países”, adianta Villig. Nem sempre, no entanto, a Didi opta por alianças: adquiriu recentemente o controlo da empresa brasileira 99, e prepara-se para entrar directamente no México.

A velocidade da expansão da Taxify, que se apresenta como “a maior plataforma tecnológica de mobilidade europeia” (a Uber é norte-americana, tal como a Lyft, a grande rival no mercado doméstico e que chegou agora ao Canadá), é visível pelo tempo que demorou a preparar a entrada em Portugal: cerca dois meses.

Contratação via Linkedin

David Silva estava de saída do escritório da McKinsey em Lisboa, a preparar-se para uma volta ao mundo e outra fase na sua vida, quando o departamento de recursos humanos da Taxify o contactou no início de Novembro, após ter visto o seu perfil profissional no Linkedin. “Duas semanas depois, já estava a trabalhar” conta o gestor, afirmando que logo cativado pelo projecto, e entusiasmado por iniciar uma operação de raiz.

“Sempre tive uma paixão por startups”, diz o gestor, formado em engenharia industrial pela Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto. No seu CV, depois de ter passado pela Siemens, na Alemanha, consta a Rocket Internet, “considerada a maior incubadora de startups do mundo”, e onde ajudou a montar a Eatfirst, ligada à restauração.

“O David destacou-se dos outros candidatos com a sua experiência profissional no mundo das startups, o seu conhecimento geral e compreensão do mercado de ride-hailing [serviço de transporte de passageiros por chamada], assim como pela sua motivação profissional”, diz Markus Villig.

Expansão em Portugal

Passados dois meses do primeiro contacto, a empresa está pronta a lançar-se no mercado português, que aguarda ainda pela lei que vai regular o sector (num processo algo moroso). Sobre esta questão, o fundador e presidente da Taxify diz que a empresa já está alinhada “com tudo o que a principal proposta [de lei do Governo] exige” e fará as alterações que forem necessárias “assim que a nova lei entrar em vigor”. Ou seja, a empresa estava pronta para entrar em mais um mercado, e, como acrescenta David Silva, em empresas que se expandem rápido “é importante não adiar”.

Para quem concorre com os táxis, pode parecer que a Taxify escolheu um nome peculiar, só que estes foram o seu primeiro cliente e a génese do negócio em Talin, na Estónia. Em 2013, diz a empresa, o serviço de táxi era “muto demorado e ineficaz”, o que levou à criação da aplicação. Depois dos táxis, foi a vez dos privados, que acabaram por ser tornar no seu principal negócio (embora nos países bálticos e na Hungria tenha também os táxis como parceiros).

No caso de Portugal, a empresa tem planos para crescer geograficamente: “O natural será ir para também para o Porto e para o Algarve”, diz David Silva, zonas onde a Uber já está presente. Depois, há também o segmento empresarial, onde a Taxify deverá entrar, tal como fez em outros países, mas apenas quando o mercado estiver "mais maduro”. Para já, o desafio está em Lisboa.