Vamos falar de parquímetros?
Não seria mais lógico diminuir o preço dos transportes públicos, ao invés de aumentar os parquímetros?
Se este artigo fosse uma rua e estivesses a lê-lo numa qualquer cidade desenvolvida estarias já a abrir a carteira para retirar alguns dos teus trocos.
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Se este artigo fosse uma rua e estivesses a lê-lo numa qualquer cidade desenvolvida estarias já a abrir a carteira para retirar alguns dos teus trocos.
O funcionamento é simples (e eficaz). Deslocamo-nos nos nossos carros, vemos um lugar de estacionamento, procedemos à manobra física e preparamo-nos, de seguida, para uma manobra financeira. Não muito dispendiosa, é certo, mas se — por algum acto diabólico — tivermos que estacionar o nosso veículo mais do que uma vez ao longo do dia, a carteira tenderá a sentir estas pequenas transacções económicas.
Poderíamos começar por culpar o americano Carl Magee pela invenção do sistema de parquímetros, no entanto estaríamos a combater a consequência e não a causa.
Certo é que o problema não está nesta invenção, muito eficiente por sinal. A adversidade, contrariedade, dificuldade, sufoco, obstáculo — ou qualquer outro sinónimo menos simpático — reside na incapacidade dos nossos políticos em saber lidar com ela.
Centremo-nos no nosso país, um paraíso à beira-mar plantado. Paraíso que seria, certamente, não fossem estas máquinas espalhadas por cada centímetro do nosso território. É quase como uma infestação que afecta o nosso pequeno Portugal. De norte a sul, de este a oeste, podemos quase assumir que, em proporção, temos quase mais parquímetros que habitantes.
Vejamos. Podemos começar no IUC (Imposto Único de Circulação), o adicional IUC (Imposto Único de Circulação para Veículos Poluentes), seguido do ISV (Imposto Sobre Veículos), acrescentando ainda os tradicionais IRS (Imposto sobre Rendimento de pessoas Singulares), o IRC (Imposto sobre Rendimento de pessoas Colectivas) ou os Imposto Municipais, pautados pelo já conhecido IVA (Imposto de Valor Acrescentado). Temos muito com que nos distrair. Coloca-se, então, a verdadeira questão: após todos estes contributos, será ainda justo abrirmos os cordões à bolsa para estacionarmos um carro que pagamos, com um combustível que despendemos, numa qualquer rua que deverá ser mantida através de impostos que já cumprimos? Uma vez para o carro, outra para o gasóleo, não nos esquecendo de enquadrar o município em que estamos inseridos, o problema é só um: a carteira é a mesma e o dinheiro também.
Várias são as razões apresentadas para a existência (e persistência) deste método. Entre elas, está a questão do excesso de trânsito sentido nas grandes cidades — taxar o estacionamento pode ser a solução para reduzir os muitos carros que circulam a cada dia. Está correcto. Esta é uma verdade absoluta. No entanto, não seria mais lógico diminuir o preço dos transportes públicos, ao invés de aumentar a concessão de estacionamento em quantidade e valor? As vozes mais protectoras destas medidas poderão afirmar que não é assim tão simples implantar tal sugestão. Eu poderia explanar de uma forma mais eficaz, no entanto, terei de terminar abruptamente este texto, visto ter de ir colocar uma moedinha no parquímetro. Consta que o fiscal anda aí a rondar.