Tiago Guedes: "Temos de quebrar o nosso estatuto periférico"

Três perguntas ao director artístico do Teatro Municipal do Porto.

Foto
Tiago Guedes MIGUEL NOGUEIRA/PÚBLICO

O director do Teatro Municipal do Porto (TMP) considera que o “posicionamento internacional” é prioritário para a casa que dirige – mas sobretudo para os artistas que trabalham com ela. E aguarda “com alguma expectativa” os desenvolvimentos em Lisboa, após o anúncio de que o Teatro Maria Matos vai passar a ter uma gestão privada.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

O director do Teatro Municipal do Porto (TMP) considera que o “posicionamento internacional” é prioritário para a casa que dirige – mas sobretudo para os artistas que trabalham com ela. E aguarda “com alguma expectativa” os desenvolvimentos em Lisboa, após o anúncio de que o Teatro Maria Matos vai passar a ter uma gestão privada.

Por que é que a internacionalização é uma prioridade para um teatro municipal?

Embora este teatro festeje este ano o seu 86.º aniversário, o projecto do TMP é muito jovem – estamos a trabalhar há apenas três anos e meio. Havia um passado, mas não havia um passado recente, portanto o TMP não estava inscrito em redes internacionais, nem oleado em termos de conexões artísticas que lhe permitissem partilhar programações com instituições congéneres do estrangeiro ou ser parceiro na montagem de tournées. Portugal já é um país naturalmente periférico, e é muito importante quebrar esse estatuto; daí que, depois de pôr a máquina a funcionar, me tenha parecido prioritário investir num posicionamento internacional. Que é vital para nós enquanto instituição, mas sobretudo para os artistas com quem trabalhamos, e que assim têm acesso facilitado a outras fontes de financiamento, bem como a circuitos de difusão internacional e a residências de criação. A nossa presença nessas redes permite-nos colocá-los lá fora: é o que acontecerá já este ano com a ida do Marco da Silva Ferreira e da Cláudia Dias à Bienal de Dança de Lyon, em Setembro.

A vida do TMP mudará com a constituição da empresa municipal de cultura?

Sim, sobretudo em termos de agilidade financeira e contratual. É mais fácil, no quadro de uma empresa municipal, concorrer a apoios mecenáticos e fazer acordos de bilheteira mais interessantes, por exemplo. Por outro lado, será finalmente possível regularizar algumas situações – felizmente são pouquíssimas – de precariedade profissional que ainda existem nas nossas equipas, nomeadamente com recibos verdes. Ao nível artístico, não haverá qualquer tipo de mudança.

Como é que vê a anunciada privatização da gestão do Teatro Maria Matos, em Lisboa, uma estrutura municipal que tem sido parceira do TMP?

Aguardo com muita expectativa o que poderá vir a acontecer. Parece-me que pelo menos haverá a preocupação de não alterar as linhas principais de actuação – o trabalho com crianças e jovens, agora transferido para o Teatro Luís de Camões, e o investimento na nova criação, missão para a qual a configuração de hangar do Teatro do Bairro, apesar de ter alguns problemas, até se pode revelar interessante. Mas claro, ficamos sempre um pouco a torcer o nariz quando se fala de entregar equipamentos públicos a privados, ainda que o contexto de Lisboa, onde há dez teatros municipais por onde a Câmara pode escoar a sua missão cultural, permita talvez arriscar outras experiências. Seja como for, o importante é que as alterações sejam rápidas – o standby não é bom para a instituição nem para os seus parceiros.